Allan, James Rodríguez, Doucouré e um Everton com expectativa de fortalecimento
O clube coloca em Carlo Ancelotti a confiança em finalmente transformar o potencial em realidade
A saga do Everton para se tornar um time que faz frente ao big six continua. Recursos nunca faltaram, mas o clube muitas vezes acaba tropeçando nas próprias pernas e desperdiçando o seu potencial. Isso acontece através de escolhas precipitadas no comando técnico, montagem de elenco e, claro, problemas que já se tornaram crônicos.
Quando algo não dá certo por uma faixa considerável de tempo, o clima se desgasta e até a confiança ser totalmente reerguida o torcedor também vai perdendo a paciência. Podemos observar exemplos semelhantes no West Ham, que tenta crescer de qualquer maneira e comete uma espécie de autossabotagem; o Manchester United por vários anos após a aposentadoria de Sir Alex Ferguson, dando sinais de evolução agora; o Arsenal e sua sina de ser anticompetitivo, situação que está sendo transformada por Mikel Arteta.
Enquanto os Red Devils e os Gunners vão entrando nos trilhos – cada um em seu patamar -, os Hammers ainda demonstram estar degraus abaixo de onde poderiam chegar. E os Toffees tem em Carlo Ancelotti a esperança de finalmente alçar voos maiores.
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O aproveitamento de 38% deixa a desejar e a reta final de 2019/20 trouxe apenas três vitórias em nove jogos, colocando a equipe na 12ª posição da Premier League. Mas foi justamente ali que os pontos fracos e suas possíveis soluções ficaram expostos. Se antes da paralisação foram apenas três derrotas em 12 jogos com o treinador italiano, as últimas partidas evidenciaram que o plantel estava longe de ter a qualidade necessária e era preciso trabalhar firme na janela de transferências.
Antes de chegarmos nos reforços, é importante entender o que o comandante estava fazendo com o time. Basicamente, ele assumiu a bagunça deixada por Marco Silva – e após uma breve participação de Duncan Ferguson como interino – e criou um plano de jogo mais simples, baseado em colocar os atletas em posições mais ‘confortáveis’ e visando gerar uma coesão natural. Antes dele, o Everton sofria com alterações drásticas em formação e estratégia de semana após semana. Portanto, traçou um caminho mais claro.
A tática escolhida como padrão era o 4-4-2, que costuma ser uma boa válvula de escape para cobrir todas as partes do campo e servir como uma plataforma sólida para os jogadores se soltarem. Isso aconteceu até certo ponto, mas o elenco estava tão deteriorado que os problemas apareciam de forma automática. Com pouquíssimas opções no meio-campo, às vezes o jeito era escalar André Gomes e Sigurdsson na frente da defesa, com Bernard e Walcott pelos lados. É complicado visar uma evolução relevante assim.
O clube então foi ao mercado e até o momento mostrou que não está para brincadeira, garantindo a contratação de Allan (ex-Napoli) e encaminhando as chegadas de Abdoulaye Doucouré (Watford) e James Rodríguez (Real Madrid). Mais do que peças de um ótimo nível, indicam um encaixe instintivo com o sistema de Ancelotti e representam um upgrade considerável nos nomes que citei anteriormente.
O brasileiro vem de uma campanha abaixo da média na Serie A, mas a impressão é que as tentativas fracassadas de transferência em outras janelas o frustraram e as trocas no comando da equipe não fizeram bem. Em perfil, tem totais condições de formar uma dupla excelente de box-to-boxes com o francês. Ambos gostam de contribuir em zonas próximas das duas áreas e são muito combativos, importante para um conjunto que deve jogar com um estilo agressivo, vertical e intenso. A ver como se dará o equilíbrio entre os dois, mas o potencial é indiscutível.
Enquanto isso, o colombiano que encantou o mundo na Copa de 2014 e desde então viveu de altos e baixos pinta como o maior atrativo no Goodison Park. É normal falar que ele não correspondeu ao hype e a ida para o Everton simboliza isso, mas sua qualidade nunca esteve em dúvida e a questão é mais sobre condicionamento físico e confiança. Afinal de contas, falamos de um meia que somou 114 gols/assistências em 143 aparições como titular por Real Madrid e Bayern de Munique.
É uma produtividade impressionante para quem conseguiria elevar o nível do jogo mesmo se não participasse diretamente dos lances incisivos. Visão, técnica apurada, mobilidade superior se comparado à diversos “camisas 10” que se tornaram em parte obsoletos e a sensação de que a bola nos seus pés sempre será bem direcionada. A ver se seus serviços serão feitos pela direita, pela esquerda ou centralizado como a ponta de um possível losango, encostando mais na área (e tirando proveito de suas precisas finalizações).
Não podemos esquecer que James trabalhou com Carlo na Espanha e na Alemanha e o treinador é conhecido por saber gerir o elenco e fazer o necessário para que a confiança apareça e traga retorno dentro de campo. Allan também dividiu o vestiário com ele na Itália e as ações nessa janela seguem uma lógica visível, aspecto inexistente nos Toffees em temporadas anteriores.
Tudo isso será somado a um setor que funciona muito bem, a dupla ofensiva. Richarlison e Calvert-Lewin formam uma parceria que nos dá flashbacks para à moda antiga, quando juntar uma referência (o inglês) com um jogador mais móvel (o brasileiro) era costume. Além de serem complementares por natureza, eles têm entrosamento e com frequência conseguem incomodar qualquer defesa do país.
Mas claro, é necessário ir com calma e entender o contexto. Se os passos recentes foram positivos, eles podem não significar sucesso imediato (apesar do plano visar o curto e médio prazo) e precisamos olhar também para as fragilidades do time. Pickford é um goleiro instável e falta profundidade na zaga, nas laterais e no ataque. O calendário de 2020/21 vai ser ainda mais apertado que o normal e o banco pode fazer a diferença em um cenário tão competitivo como o da Premier League.
Entretanto, é seguro dizer que Ancelotti tem capacidade de alcançar ótimos resultados com os atletas que trouxe e os pontos fortes que já existiam ali. A expectativa é de dar ao Everton um fortalecimento que não é visto há tempos.
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