As dúvidas no jogo do Lille
A segunda melhor equipe da França em 18/19 precisa assumir uma nova identidade e sofre na busca do estilo que deve assumir na nova temporada
Após um ano de muito sucesso, o Lille da temporada 2019/2020 vive mais dúvidas que certezas. Sem Nicolas Pépé, seu jogador mais influente individual e taticamente, e a dupla que oferecia equilíbrio com e sem a bola, Thiago Mendes e Xeka, a equipe de Christophe Galtier ainda passa por um momento de incerteza em relação ao seu jogo.
Com a tentativa frustrada em manter o esquema com defesa de quatro do começo da temporada até algumas semanas atrás, Galtier teve que reagir. Sem o mesmo ritmo avassalador que caracterizou o futebol do clube na temporada passada e com dificuldades para ter uma estabilidade defensiva, a filosofia de troca de golpes e transição não surtiu o efeito desejado. A equipe do LOSC nunca chegou a criar tantas ocasiões para buscar gols como antes e o desempenho foi visto em seus resultados de forma imediata.
Com dois pontos em seis jogos disputados fora de casa, o Lille é o segundo pior visitante da Ligue 1
A chegada de Victor Oshimen foi fundamental na busca de gols e o nigeriano já é um dos melhores jogadores do campeonato com sua capacidade finalizadora inquestionável e extremamente ameaçadora (7 gols em 12 jogos na L1), mas com o jogador mais determinante da equipe estando profundo demais e não sendo alguém que oferece soluções em outras fases do jogo, o Lille chegou em um impasse.
Com a situação alarmante na fase de grupos da Champions League, com duas derrotas em dois jogos (último colocado com zero pontos), e a derrota sofrida frente ao Toulouse na Ligue 1, Galtier foi obrigado a mudar. Para melhorar o rendimento ofensivo e ter sua equipe sofrendo menos defensivamente de forma tão passiva, o treinador encontrou a solução num 3-4-3 de muito mais proatividade.
Assim, o Lille deixou de ser uma equipe que atacava de área a área para ser uma equipe que domina a partida pela conquista do território. Com seus homens posicionados de forma mais alta, o trabalho para ganhar metros foi potencializado com as linhas mais altas e a pressão constante sobre a defesa adversária. Dessa forma, contra o Bordeaux na 11ª rodada, o LOSC mostrou um bom nível e recuperou alguns jogadores que estavam produzindo abaixo de seu potencial, como Yusuf Yazici e Jonathan Ikoné. Além disso, a capacidade de Benjamin André de jogar como todocampista foi vista da melhor forma possível com sua exibição completa e o capitão da equipe mostrou uma complementariedade essencial para o jogo dos Dogues jogando ao lado do talentoso Boubakary Soumaré, que se encaixa na classe dos meio-campistas talentosos da França que combinam uma capacidade física explosiva com muita técnica na condução da bola.
O domínio do Lille foi tão grande frente ao Bordeaux que os visitantes não finalizaram uma vez sequer ao gol de Mike Maignan antes dos 30 minutos de jogo do segundo tempo
Entretanto, se coletivamente a equipe está mais sólida para atacar e defender, sendo protegida por defensores de muita capacidade em campo aberto, a utilização da bola nos momentos de construção ainda é um problema. Com o Marseille mostrando uma capacidade competitiva muito grande na última rodada, além de executar um trabalho especial para tirar André e Soumaré do jogo pelo chão, o Lille viu seu jogo com a posse ser anulado e, na batalha física, viu sua defesa ceder. Sem estrutura para seus zagueiros serem ativos com a posse, com claras limitações pelos lados, considerando as dificuldades de Zeki Celik e Reinildo para produzir jogo, e sem a opção do jogo direto, foi a vez do futebol da equipe do norte da França ser anulado pelo rival.
Com dois erros defensivos pesando de forma direta no 2 a 0 do Marseille, o LOSC mostrou dificuldades para produzir ocasiões ao organizar ataques, sendo que o 2 a 1 veio através da bola parada, e com dez jogos para a pausa de inverno, Christophe Galtier ainda precisa corrigir alguns aspectos que deixam dúvida no jogo de sua equipe nos momentos decisivos da temporada, seja para tentar buscar a classificação até a próxima fase da Champions League ou para colocar o Lille no pódio da Ligue 1 visando a vaga na competição continental, algo que é chave para a continuidade do projeto da equipe em alto nível.
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