AS MUTAÇÕES DE GUARDIOLA
Por @_GabrielCorrea “Um ladrão de ideias”. Não seria problema para Guardiola dizer que ele se apropriou de diversos gênios do futebol para montar suas equipes. Cruyff, Bielsa, Menotti, Brasil de 1970 e Santos de Pelé são apenas algumas das inspirações do atual treinador do Manchester City. A grande diferença foi a evolução destes conceitos em cada […]
Por @_GabrielCorrea
“Um ladrão de ideias”. Não seria problema para Guardiola dizer que ele se apropriou de diversos gênios do futebol para montar suas equipes. Cruyff, Bielsa, Menotti, Brasil de 1970 e Santos de Pelé são apenas algumas das inspirações do atual treinador do Manchester City. A grande diferença foi a evolução destes conceitos em cada uma das temporadas sob o comando de Barcelona e Bayern de Munique.
No Manchester City, suas ideias não foram consistentes na primeira experiência dentro da Premier League e para 2017/18, o time promete inverter a pirâmide e seguir tentando manter suas convicções para tentar triunfar na Inglaterra.
O BARCELONA DO FALSO 9
Sua chegada ao Barcelona foi num período que o clube vivia na ressaca do título da Liga dos Campeões 05/06, com Ronaldinho, Deco, Eto’o sendo os principais responsáveis pela queda de nível do conjunto de Frank Rijkaard. No livro “Guardiola, otra manera de ganar”, Pep cita que o grande problema era a motivação daquele elenco e por isso as saídas de Ronaldinho e Deco (Eto’o decidiu ficar e se esforçar com o nome chefe).
Dentro de campo, uma pequena revolução. Mantendo a base do 4-3-3, a diferença não era o esquema, mas o por quê desse modelo. A ideia dos pontas – Henry, depois David Villa, e Pedro – era dar amplitude para abrir espaço no meio de campo e dominar a partida com Sergio Busquets, Xavi e Iniesta; e então veio o grande estalo na mente de Guardiola: transformar Messi em um falso centroavante.
Com esta mudança, Messi deixava a ponta direita onde ele criava amplitude e cortava para dentro e se tornava chave no meio. Sua função agora era se associar com os meiocampistas e puxar os zagueiros adversários para abrir espaço aos pontas como podemos observar no vídeo abaixo:
O BARCELONA DOS MEIOCAMPISTAS
“O grande objetivo do Jogo de Posição não é mover a bola, mas sim levar o adversário para a sua própria área”. Este princípio foi muito visto no time de Guardiola, mas o ápice veio em sua última temporada. O Barcelona foi o time dos meiocampistas com a chegada de Fábregas e o surgimento meteórico de Thiago Alcântara.
Nada melhor que dominar o adversário com jogadores capazes de controlar a bola e fazê-la sumir perante os adversários com todos atacando os espaços e confundindo a marcação. Na final do Mundial de Clubes contra o Santos, Pep escalou seu meio com Busquets, Xavi, Iniesta, Fàbregas, Thiago e Messi atuando como um falso 9. “Ali atingi meu topo”, resumiu o catalão.
O BAYERN DOS LATERAIS/VOLANTES
Na equipe alemã que vinha da Tríplice Coroa com Jupp Heynckes, Guardiola fez grandes mudanças para acelerar a transformação conceitual que o bávaros passavam, como é explicado no livro “Guardiola Confidencial“. A principal delas diz respeito ao posicionamento dos seus laterais: Philippe Lahm e David Alaba.
Dotados de grande qualidade associativa e na tomada de decisões – Pep disse que Lahm foi o jogador mais inteligente com quem trabalhou – os laterais do Bayern de Munique na fase ofensiva começariam a trabalhar no meio de campo, mais alinhados aos meiocampistas e ajudando na saída de bola.
Com estas mudanças, Pep ganhava superioridade numérica onde ele sempre julgou ser o fator diferencial das partidas (meio) e deixava as pontas livres para Robben e Ribery terem mais espaços no 1×1 pelas laterais. Na questão defensiva, a pressão pós perda (ou gegenpressing) se torna mais fácil por ter mais jogadores na zona onde mais se perde a bola e evitava uma transição rápida do time adversário no contra-ataque.
O BAYERN DO LADO MAIS FRACO
Com a chegada de Douglas Costa na Baviera a pedido de Guardiola, uma pequena mudança ocorreu: em prol de mais velocidade no terço final, o catalão abdicou um pouco da posse de bola. Mesmo que já tivesse jogadores de nível mundial nas pontas com Robben e Ribery, Douglas Costa possibilidade variações de estilo na posição. O brasileiro terminava todas as suas jogadas com um cruzamento ou chute em extrema velocidade.
O objetivo era simples. Levar a bola para o lado direito de ataque e, consequentemente, todo time adversário e segurar a bola enquanto Douglas Costa se posicionava no 1×1 contra o lateral esquerdo adversário. A bola voltava para Boateng/Xabi Alonso que lançava para o camisa 11 chegar ao fundo e cruzar para Lewandowski (ou quem chegasse na área) marcar. Podemos observar no vídeo abaixo a jogada:
O MANCHESTER CITY DO WM
Guardiola é a antítese da Premier League. Um técnico que conta com os conceitos do Jogo de Posição e prefere temporizar as jogadas numa Liga onde o jogo se divide em transições ofensivas e defensivas (até por isso o alto número de gols no final das partidas). As próprias contratações mostraram isso em sua primeira temporada: Claudio Bravo, John Stones, Nolito, Ilkay Gündogan, Leroy Sané e Gabriel Jesus.
Sem um atleta de porte físico no meio de campo e Yaya Touré afastado o time perdia os duelos pelo meio de campo e sofria com os gols de bola aérea. A fase de Claudio Bravo também não ajudou e uma lesão de Gabriel Jesus fez o camisa 9 da Seleção Brasileira estrear tarde e atuar apenas no último terço do campeonato.
Nesta temporada, a formação do time no jogo contra o Everton, na 2ª rodada da Premier League 17/18, com os 3 zagueiros e alas bastante abertos para os jogadores de meio campo e ataque associarem ao máximo por dentro e tentar criar o maior número de chances possível. Por enquanto, o time sentiu a falta do improviso e drible de Mendy pelo lado esquerdo e utilizou Danilo e Sané na posição. O passmap (imagem abaixo) da partida realizado pelo 11tegen11 mostra esta formação.
Invaders, precisamos da ajuda de vocês!
Qual a ideia de Guardiola com essa formação no @ManCity? pic.twitter.com/J2RunvuFRM
— Footure FC (@FootureFC) 22 de agosto de 2017
Durante os últimos anos a inversão da pirâmide vem ocorrendo. Ao mesmo tempo que os clubes começam a marcar com uma linha de 5 no 5-3-2 (falaremos sobre o tema em breve), a maneira de atacar mudou. A partir de todos os conceitos citados anteriormente – Jogo de Posição, Falso Lateral e Lado Fraco – o time de Guardiola também ataca no 2-3-5 para superar numericamente o adversário em todos os setores do campo. Se vai dar certo ou errado, é outra história, mas as mutações de Guardiola são constantes na vontade de manter suas convicções e conquistar títulos por onde passa.
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