Longe dos holofotes: quatro brasileiros que têm sido estrelas no oriente
Nada de Oscar, Talisca, Renato Augusto e outros brasileiros que estão jogando bem China, hora de falar daqueles pouco comentados aqui no Brasil e que seguem firme em suas carreiras no oriente
Na imensa pirâmide que representa os jogadores brasileiros de futebol, muitos alcançam topos alternativos — ao mesmo tempo em que seguem desconhecidos, ou quase isso, no seu próprio país. De acordo com um levantamento realizado em 2019, o Brasil tinha 2,9 mil jogadores exportados em 100 países diferentes.
Faça parte do Footure Club e receba conteúdos exclusivos diariamente
Selecionei quatro jogadores que, no Brasil, tiveram pouco (ou nenhum) destaque, mas que, no oriente, têm atuado como grandes estrelas. Todos eles, sem exceção, tiveram uma temporada de 2019 destacada, mantendo o nível de outros anos. Neste ano, por conta do contexto atual, nem todos foram capazes de entrar em campo, o que não tira o brilho do que foi feito até aqui.
Anselmo (Al-Wehda, Arábia Saudita)
É provável que apenas os torcedores do Sport e, talvez, do Joinville tenham grandes recordações do meio-campista Anselmo no Brasil. Após se destacar em Santa Catarina e ter passagem apagada pelo Inter em 2016 e 2017, foi emprestado à equipe de Recife e, lá, brilhou. Uma venda por US$ 3 milhões ao Al-Wehda, da Arábia Saudita, tirou-o dos holofotes, mas também o entregou um protagonismo que ele jamais havia experienciado.
Dotado de boa capacidade física para atuar como um área-a-área, Anselmo tem trabalhado como tal sob o comando do uruguaio Daniel Carreño. Com uma primeira temporada de destaque, teve seu contrato renovado até 2024, e evoluiu ainda mais desde então. Em 2018/19, foram 20 partidas na Liga Saudita, com forte presença no meio de campo, mas pouca participação no terço final: deu duas assistências e não marcou gols. Na temporada atual, isso mudou: em 17 jogos, já balançou as redes oito vezes, e igualou o número de assistências de 2018/19.
Com oito partidas a serem disputadas para finalizar o campeonato, o Al-Wehda está na 3ª colocação, garantindo uma vaga na Liga dos Campeões da AFC. A evolução do camisa 87 tem sido uma das chaves para isso. Jogando normalmente como um dos volantes no 4-2-3-1, o jogador chegou a ser escalado como o meia atrás do atacante nas rodadas antes da paralisação, graças ao seu poder de definição próximo à área.
Ivo (Henan Jianye, China)
Campeão da Série B de 2011 com a Barcelusa, Ivo se destacou, mas não foi o jogador mais estrelado da equipe. Desde que se transferiu para a China, em 2015, o atleta tem sido um dos mais criativos do país: em dois momentos, foi o líder em assistências da Liga Chinesa. Na temporada passada, por exemplo, esteve entre os que mais deu passes chaves no campeonato (2,3 por jogo).
Trabalhando com a perna esquerda, Ivo não é mais o ponta de velocidade da época em que atuava no Brasil. Hoje, atua por dentro, e é o centro das ações ofensivas do Henan Jianye. A equipe, que joga em um 3-5-2, conta com o brasileiro como o interior pela esquerda, participando tanto da construção ofensiva como da criação de chances na frente. Além de controlar com passes, ele também temporiza o jogo protegendo a bola. Em 2019, esteve entre os dez jogadores que mais sofreram faltas no campeonato (3,0 por jogo).
Com expectativa de retomada no final de junho, é provável que a Liga Chinesa tenha, em 2020, outra exibição da criatividade de Ivo. Aos 33 anos, ele tem se demonstrado cada vez mais capaz de criar chances para seus companheiros, e, por isso, segue sendo um dos estrangeiros escolhidos pelo Henan Jianye para figurar na equipe, mesmo sem ter o renome de outros brasileiros que passam pelo campeonato.
Júnior Negão (Ulsan Hyundai, Coreia do Sul)
O atraso no início do Campeonato Coreano de 2020 não tirou o faro artilheiro de Júnior Negão. Centroavante do Ulsan Hyundai desde 2018, o brasileiro chegou à Coreia do Sul no ano anterior, e foi lá onde encontrou, de fato, o caminho das redes. Na temporada atual, tem um gol para cada uma das seis partidas em que atuou. Desde 2017, são 65 gols em 103 partidas.
Com forte presença na área, o atacante apresenta boa capacidade de recepção de bolas longas, bem como um jogo de costas, que condiciona seus companheiros no ataque. Além dos seis gols em seis jogos na temporada atual, ainda conta com dois passes chaves por jogo, que já se traduziram em duas assistências.
É a melhor fase de sua carreira, que, no Brasil, teve poucos momentos de brilho. Diferentemente da Coreia, onde está entre os três principais artilheiros do campeonato há três anos, frequentou poucas listas de artilharia no seu país. Foi o artilheiro do Campeonato Mineiro de 2013, mas deixou o continente em baixa com as redes, tendo marcado quatro vezes em 24 partidas com o Oeste em 2015.
Cristiano (Kashiwa Reysol, Japão)
Cristiano deixou o Brasil em 2011, após se destacar pelo Juventude na Série D. O destino foi a Áustria, onde passou uma temporada no Red Bull Salzburg, sendo campeão nacional. Sua grande fase da carreira, no entanto, tem se dado no Japão — ou, mais especificamente, no Kashiwa Reysol. Desde que chegou à equipe, em 2015, foi de meia a atacante, e tornou-se, além de artilheiro, um ídolo local.
O Rei de Reysol esteve na Seleção da J-League de 2015, 2016 e 2017, sendo o artilheiro de sua equipe nos três anos. Em 2018, as boas atuações de Cristiano não foram suficientes para evitar o rebaixamento do time de Kashiwa. Com Nelsinho Baptista no comando, veio a conquista da J2 League, sacramentada com uma goleada por 13 a 1 diante do Kyoto Sanga, com um hat-trick do brasileiro. Atuando à esquerda em um 4-4-2, o camisa 9 foi, ao longo da temporada, o atacante de maior movimentação, participando não só com finalizações como também com assistências.
Hat-tricks, aliás, são comuns para o jogador no Japão. Em 2015, Cristiano chegou a fazer três gols de falta no mesmo jogo. A temporada de 2020 havia iniciado bem para o jogador: na única rodada antes da paralisação por conta da pandemia, deu duas assistências na vitória por 4 a 2 sobre o Consadole Sapporo. Ele é o principal jogador da equipe, sendo fundamental para o funcionamento ofensivo. É de se esperar que, assim que o futebol retorne no Japão, o Rei de Reysol retome seu protagonismo imediatamente.
Comente!