Carlos Vinícius, o centroavante de Jorge Jesus no Benfica?
Aguardando o início da temporada sob o comando de Jorge Jesus, Carlos Vinícius teve uma carreira difícil até conseguir sua consolidação no cenário europeu
Carlos Vinícius não teve o caminho usual de muitos talentos brasileiros. Sua carreira se resume a um processo tortuoso, na verdade. Ele iniciou como zagueiro, sendo apenas uma das opções de elenco quando começou nas categorias de base. Ficou dois anos na base do Santos até ser contratado pelo Palmeiras.
A convite do treinador Marcos Valadares, Vinicius se tornou atacante e passou a ter mais destaque. Entretanto, quando as coisas começavam a se encaixar, o jogador estourou o limite de idade para um atleta de base. Em 2015, foi dispensado e não seguiu no Palmeiras. Após isso, teve passagens sem sucesso por Caldense e Grêmio Anápolis.
A chave começou a virar apenas em 2017, quando Vinícius já tinha 22 anos. Emprestado pelo Anápolis ao Real Sport Clube, de Portugal, o atacante estreou com gol na vitória sobre o Belenenses pela Taça da Liga. Sua primeira partida pela segundona foi com um hat-trick, diante do Leixões. Foram 20 gols em 39 partidas na temporada 2017/18.
Engana-se, entretanto, quem pensa que houve alguma estabilidade. Vinicius foi aposta do Napoli, que pagou €4 milhões no jogador. Sem espaço, foi emprestado ao Rio Ave, onde brilhou. Depois, encarou um novo empréstimo, agora no Mônaco. Nada feito: dois gols em 16 jogos.
Mesmo assim, acreditando no seu excelente desempenho em terras portuguesas (34 gols em 59 jogos, somando Real SC e Rio Ave), o Benfica comprou seu passe. E é deste jogador, o surpreendente atacante das Águias, que iremos falar por aqui. Foram 23 gols em sua temporada de estreia. Como ele alcançou isso?
Posicionamento e físico
Vinícius geralmente se mantem posicionado de uma forma que favoreça o domínio para a perna canhota. O que diz respeito, inclusive, ao seu lado predileto do campo: o esquerdo. É comum muitos chutes cruzados em seu repertório, por exemplo, de forma que muitas assistências aconteçam desta maneira. Apesar de ser centroavante, ele desloca-se muito do centro.
Suas tomadas de decisão, no entanto, tendem a ser um tanto unilaterais por conta desta característica, o que causa movimentos previsíveis. O jornalista Guilherme Moreira, acompanhante assíduo do Benfica, trouxe pontos que poderiam ser mais explorados pelo jogador e deu ênfase para suas virtudes.
“Apesar do ótimo porte físico, ainda precisa usar melhor seu corpo para fazer o pivô. A melhora neste aspecto elevaria seu futebol, já que ele tem boa mobilidade tanto para aparecer entrelinhas quanto para abrir espaços para quem vem de trás ou do lado infiltrar. Outro defeito está na pressão ofensiva, que pode melhorar.”
“O atacante, para compensar a retenção da bola, costuma utilizar passes rápidos, seja em um ou dois toques para acelerar o jogo. Nem sempre é preciso nisso, mas costuma agir rápido em curto espaço. As 12 assistências na temporada não são por acaso. Os pontos fortes dele são o posicionamento e a finalização. Tem uma boa posição corporal na hora de finalizar, com os pés ou a cabeça. Destaca-se a força do chute com a perna esquerda”
Arma nos contra-ataques
Vinícius não é o melhor dos jogadores no que se diz respeito ao controle de bola, havendo inconsistência na condução, de modo geral. Como já ressaltado, muitas de suas qualidades ofensivas estão ligadas a decisões rápidas no último terço, Nisso, o físico de 1,90m é um grande aliado. Porém, quando neutralizado, acaba tendo dificuldades de resolução. Fora das proximidades da área, não costuma ser muito produtivo e tem um número relevante de perdas de posse no meio-campo. São pontos a serem trabalhados.
Por seu senso de espaço ser ótimo, Vinícius torna-se uma arma muito importante em ligações rápidas/diretas. E, se existem falhas na condução de bola, o contrário pode ser dito a respeito de seus domínios. Há facilidade em manter a bola próxima do pé, escapando pouco. As pernas longas, certamente, ajudam.
Próximo passo
Apesar de não ter a idade favorita do mercado internacional, Carlos Vinícius é constantemente ligado a clubes de um patamar financeiro superior ao do Benfica. O Manchester United foi uma dessas equipes, por exemplo. Vale pensar, porém, se uma mudança seria benéfica para um jogador que já teve tantos lares ao longo de sua carreira.
Parece claro que existem pontos de seu repertório que necessitam evoluir para que se torne um atleta de elite. Nesse sentido, permanecer no Benfica poderia ser a oportunidade de ter uma melhor preparação antes do prosseguimento da carreira em outras ligas. A chegada de Jorge Jesus será algo fundamental na definição do futuro. Afinal, não sabemos qual os planos de JJ para o elenco.
Muito competitivo e com um biótipo realmente diferenciado, Vinícius poderá aparecer no radar da seleção brasileira caso repita o bom desempenho que teve em suas temporadas na Liga NOS até agora. É preciso crescer e tornar seu jogo mais variado. Entretanto, em resumo, temos um jogador dos mais interessantes e surpreendentes dos últimos tempos.
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