Como Ribéry contribui para a Fiorentina de Montella
Para muitos “em fim de carreira”, francês tem feito boas apresentações com a camisa viola e virou uma das peças fundamentais da equipe de Vincenzo Montella
Quando Ribéry foi anunciado na Fiorentina, em 20 de agosto, havia um misto de sensações. Se o francês, outrora candidato a melhor do mundo, para muitos injustiçado na votação de 2013 que consagrou Cristiano Ronaldo, poderia representar um ganho técnico a uma Viola que surpreendentemente correu risco de rebaixamento até o fim, havia dúvidas, especialmente sob as questões físicas.
Embora propriamente as questões físicas sejam uma meia verdade, afinal, nas últimas temporadas pelo Bayern, Ribéry continuou disputando um alto número de jogos, embora cada vez menos como titular com a ascensão de Gnabry. Mas sem uma grande lesão que por muito tempo o deixasse parado, apesar de algumas pequenas lesões empacarem o caminho.
Talvez por um fantasma recente para a Fiorentina vindo do Bayern dentre os campeões europeus de 2012–13: Mario Gomez. Que chegou a Florença como um grande artilheiro, mas que não conseguiu cumprir com a camisa viola os tantos gols que fez vestindo a camisa dos bávaros, por conta de diversos problemas físicos.
No fim, Ribéry acabou chegando mesmo na Fiorentina mantendo muito de suas características. Repare neste vídeo abaixo. Este é o último gol do francês com a camisa do Bayern, no seu jogo de despedida que garantiu a Salva de Prata para os bávaros na goleada por 5–1 sobre o Eintracht Frankfurt, na última rodada da Bundesliga 2018–19.
Em um lance similar contra o Milan, marcou o segundo gol da vitória da Fiorentina por 3–1 em San Siro. A diferença talvez esteja só no fato de que ele encobriu Trapp com um toque de categoria pelo Bayern e bateu com mais categoria no fundo das redes de Donnarumma. Mas a sua marca, o drible, foi a mesma. Em vista no lance o que aconteceu com Musacchio e Romagnoli.
Muito do que Ribéry foi e é como jogador, o jeito de ser e de viver do francês se resume principalmente ao drible. Claro que não é só isso, mas a sua marca registrada número 1 ainda é essa. Considerando até a 8ª rodada, segundo estatísticas apresentadas pelo L’Ultimo Uomo, somente Falco, do Lecce, e seu companheiro Castrovilli, driblaram mais do que ele.
Ainda assim, Falco e Castrovilli ganharam por um drible a mais, 21, enquanto Ribéry driblou 20 vezes até a 8ª rodada, ainda sem atualização dos números diante da Lazio. A sua média de dribles é por volta de 5 tentativas a cada 90 minutos de jogo, parecida com a do Bayern na última temporada, que era 4,9/jogo.
Na Fiorentina, taticamente Ribéry faz uma função que ele executou por raras vezes ao longo da carreira: a de atacante. No 3–5–2 armado por Montella desde a partida diante da Juventus, ele costuma jogar no ataque ao lado de Chiesa, em um esquema que faz algo raro: a dispensa de um centroavante para o modelo.
A ausência de um centroavante pesa para a Fiorentina. O 3–5–2 que Montella fez inicialmente de maneira pontual no clássico contra a Juventus virou uma tática fixa por alguns motivos. O primeiro é óbvio, justamente o fato de não ter um homem de referência, lacuna de mercado não coberta ainda desde a ida de Muriel para a Atalanta e até mesmo a de “Cholito” Simeone para o Cagliari.
Mas o 3–5–2 de Montella funciona muito pelo fator Ribéry, pelo fator Chiesa, onde ambos são fortes pelo fato de conseguir criarem diversas ocasiões de contra-ataque e que tem o apoio dos meio-campistas, especialmente dos avanços de Pulgar e Castrovilli.
Funciona muito bem porque a movimentação de Ribéry, caindo muitas vezes pelo meio e até indo recuperar a bola por vezes no campo de defesa, ajuda muito para que seu companheiro Chiesa aja como um atacante central, estando lá muitas vezes na hora da conclusão e da finalização, que é um dos pontos fortes do atacante italiano.
É um modelo que funciona para a Fiorentina com e sem a bola de movimentação constante, seja com Ribéry pelo lado esquerdo, com auxílio de Dalbert, ou até no lado direito com Lirola, este com maior liberdade ofensiva para criação de jogadas e de chutes.
Os movimentos sem a bola são o fator primordial para o jogo de Montella. Aqui na imagem, temos um caso, contra o Milan:
Esta imagem é vista com frequência graças aos avanços de Ribéry, pelo lado esquerdo, e de Chiesa, pelo direito. Esses avanços permitem que Lirola e Dalbert possam subir pelas pontas, e especialmente Pulgar e Castrovilli possam avançar pelo meio, as vezes até flutuando pelos lados.
Por outro lado, é uma equipe que não é marcada pela troca de passes, em vista que até a 8ª rodada, era apenas a 10ª da Serie A em passes trocados, e tem jogadores como os próprios Chiesa e Ribéry, que volta e meia carregam mais a bola por preferência ao invés de tantas trocas de passes.
Um estilo de jogo que é propriamente explicado pelos heatmaps de Ribéry, fornecidos pelo WhoScored, e suas evoluções, através dos “jogos grandes” da Viola: Reparem nos primeiros, contra Juventus e Atalanta. O francês estava mais focado na sua “função original”, como atacante pela esquerda, enquanto Chiesa era quem se movimentava mais entre os dois.
Aqui, as situações já são diferentes. Contra Milan e Lazio, a movimentação do francês foi maior, embora a troca de passes não tenha aumentado significativamente, mas já se vê a evolução, a medida em que ele se movimenta tanto quanto Chiesa, que é conhecido por buscar jogo em ambas as partes do campo, além do fato de jogar em todas as partes.
Mas em um campeonato onde se dribla menos do que em outros países, e que contra equipes de linhas mais baixas, ritmos mais lentos, e por aí vai, são mesmo as jogadas de jogadores como Ribéry com a bola que fazem muita diferença, mesmo com um evidente declínio físico, afinal tratamos de um jogador de 36 anos.
E o próprio francês sentiu a dificuldade de ter menos oportunidades de carregar a bola em campo aberto, segundo palavras do próprio Ribéry ao Sport Bild, que ressaltou que “A Serie A é completamente diferente da Bundesliga, onde há mais tática e as equipes te esperam mais”.
O fato é que do clássico contra a Juventus em diante, ele não perdeu mais a titularidade que não teve contra Napoli e Genoa. Titularidade conquistada com boas chances pela direita, e também em um lance incrível de recuperação no campo de defesa contra Cristiano Ronaldo, após errar um passe de cabeça no campo de ataque, demonstrando uma mentalidade e sacrifício gigante para uma grande estrela em um momento diferente da carreira.
E é o que define Ribéry na Fiorentina. Um jogador que ajuda na defesa, mas que dialoga bem com seus companheiros no ataque pra receber lançamentos como o de Chiesa no belo gol marcado pelo francês contra a Atalanta, trocar passes como nas jogadas diante do Milan, ou simplesmente servir os companheiros, como no gol de Pezzella que abriu o caminho pra vitória diante da Sampdoria.
É bem verdade que existem dois números opostos quanto a sua passagem: o primeiro, de média de passes por partida, indica sua importância, de 43,1/jogo. O segundo, nem tanto: as chances criadas por ele são de média de 1,4/jogo, muito baixo para os padrões do campeonato italiano.
É verdade também que nas partidas contra Udinese e Brescia, a atuação de Ribéry não foi tão satisfatória. Mas contra a Lazio, apesar da derrota, ele apareceu novamente, com uma bela jogada a seu estilo pela ponta, em que cruzou pro meio e deu assistência para o gol de empate de Chiesa.
Podemos ver o quanto a Fiorentina sentirá a falta dele, ou não, nas próximas 3 partidas contra Sassuolo, Parma e Cagliari, devido a sua suspensão por empurrar o árbitro assistente, ainda revoltado com a decisão de um pênalti apitado contra a sua Viola diante da Lazio (pênalti desperdiçado por Caicedo), e de uma possível falta no início da jogada do segundo gol laziale.
Em resumo, quanto a Fiorentina, Montella prepara uma equipe mais líquida que tem uma proposta de jogo muito ambiciosa, que exige conexões de passes rápidas, e muitas trocas diferentes entre os jogadores tanto no ataque quanto na defesa geradas pela mobilidade deles.
Mas o destino da temporada da Viola passa pela quantidade e qualidade dos chutes a gol, em vista que os gols perdidos foram a principal marca da temporada passada, além dos sofridos, mas acima de tudo pela capacidade dos homens de Montella de organizar transições defensivas e manter o time curto.
E para isso, os tantos jogadores jovens da Fiorentina como Chiesa e Castrovilli, outros em ascensão como Pulgar, e jogadores como Ribéry, que tem experiência, e que mantém sua categoria com a bola quando acionados, mas que colaboram muito bem na fase de movimentação sem a bola, são fundamentais para que o processo funcione.
Algumas vezes se especulou sobre Ribéry e sua condição física. Talvez a sua saída do Bayern o fizesse alguns darem o francês como acabado. Mas todos reconhecem que quem foi rei, nunca perde a majestade. E um dos heróis de Munique têm conquistado o seu espaço no coração do torcedor da Fiorentina, e se percebe muito sob o quanto ele é importante na equipe de Vincenzo Montella.
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