Disputa centenária
O Campeonato Italiano retorna no sábado e, pela primeira vez, volta a ser disputado após ser interrompido. Há mais de um século, o torneio foi paralisado para não mais voltar e criar um controvérsia que perdura até hoje.
Sábado, quando a Série A italiana for retomada após 102 dias sem jogos, o torneio viverá uma situação inédita. Nunca antes o Campeonato Italiano havia sido paralisado e reiniciado. Em seus 122 anos de história, em uma única vez as partidas foram interrompidas, mas não foi possível retomar a disputa do título e o campeão foi definido arbitrariamente pela Federação Italiana.
Após se declarar inicialmente neutra, a Itália decidiu entrar na I Guerra Mundial em 23 de maio de 1915, quando o torneio se aproximava do fim. No âmbito esportivo, a principal consequência foi a parada da temporada 1914/15 do Campeonato Italiano.
Como os embates bélicos se prolongaram até novembro de 1918, não havia razão para que os jogos restantes fossem disputados. A decisão da Federação, tomada somente em 1919, foi homologar o Genoa como campeão. Mais de um século depois, a resolução ainda causa divergência e a Lazio briga para também ser considerada como vencedora, o que faria com que igualasse o número de títulos (3) vencidos pela rival Roma. O panorama, entretanto, não é simples, em uma versão italiana da Taça das Bolinhas e do Brasileirão de 1987.
Os motivos para definir os grifoni como campeões estava na superioridade do norte sobre as outras partes do país. O Campeonato Italiano, na época, era regionalizado, com o campeão do norte enfrentando o vencedor do centro-sul, definido em uma disputa entre o triunfante das regiões central e sul. Por estarem ponteando a disputa nortista, considerada de nível técnico mais elevado, os genoveses ficaram com o título.
Para exemplificar a superioridade dos clubes do norte italiano, a Lazio tinha sido atropelada nas duas decisões nacionais anteriores. Na temporada 1913/14, os biancocelesti levaram 9 a 1 do Casale, no placar agregado. Antes, tinha sido batida por 6 a 0 pelo Pro Vercelli.
Voltando a 1915, o torneio da região norte tinha uma rodada para ser disputada. O Genoa somava sete pontos e podia ser alcançado por Internazionale e Torino, com cinco pontos. Com três pontos, o Milan estava fora da briga.
Na rodada final, o Genoa jogaria contra o Torino, enquanto Milão teria o Derby della Madonnina. No primeiro turno da chave, o Torino havia vencido o Genoa por implacáveis 6 a 1, enquanto a Inter havia batido o Milan por 3 a 1. O cenário indicava ser possível que os grifoni perdessem a liderança isolada. Se ela fosse dividida com um clube, uma partida extra seria jogada. Se fosse com outros dois, um triangular seria disputado.
A situação na outra parte do campeonato não era mais simples. Campeã da região central, a Lazio esperava o seu adversário na final do centro-sul.
O torneio sulista, na verdade, era um confronto direto entre Internazionale di Napoli e Naples – unificados em 1922, formaram o Internaples que, quatro anos depois, mudou o nome para Napoli. A Inter tinha saído vencedora, mas dois de seus jogadores, Steiger e Pellizzone, não tinham suas inscrições regularizadas e decidiu-se que os confrontos seriam realizados outra vez.
Na primeira partida, com Steiger e Pellizzone regularizados e novamente em campo, a Inter venceu por 3 a 0. O segundo, o Naples goleou por 4 a 1, necessitando um jogo-desempate nunca realizado.
Apesar do título concedido para o Genoa, o torneio ainda tinha outras cinco equipes com a chance de vencê-lo quando a Itália se envolveu com a Guerra e o futebol parou.
Mais de cem anos depois, a polêmica segue viva, assim como a Lazio no campeonato que será retomado neste sábado.
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