O encaixe dos reforços do Fluminense e Abel Braga
Abel Braga está de volta ao Fluminense e tem reforços importantes. O desafio é encaixá-los no modelo de jogo e aproveitar as alternativas que o elenco oferece.
Dono de uma das bases que mais revela jogadores no Brasil e em crise financeira, o Fluminense utilizou e vendeu muitos garotos nos últimos anos, porém não ganhou títulos, algo natural para o contexto. Em 2022, a molecada continuará no elenco, mas terá mais nomes de peso como companhia. Além disso, o retorno de Abel Braga, técnico histórico do clube, ocorre em contraste com os treinadores emergentes que estiveram nas Laranjeiras recentemente, como Odair Hellmann e Marcão.
O Tricolor abriu o bolso e conseguiu trazer o zagueiro David Duarte, o lateral-esquerdo Pineida, tem um outro lateral-esquerdo, Christiano, praticamente acertado e contratou alguns atletas experientes: o volante Felipe Melo e os atacantes Willian Bigode e Germán Cano. Por fim, o meia Nathan veio por empréstimo do Atlético-MG. De acordo com o ge.com, a diretoria trabalha com um aumento de 20% da folha salarial em 2022.
Curiosamente, olhando para o elenco do Fluminense em sua totalidade, talvez o encaixe mais natural para a ideia de jogo de Abel Braga seja com os atletas que já estavam na casamata. Tendo em vista o jogo direto, com bolas longas para o centroavante escorar ou dar uma casquinha, cruzamentos, ataque à profundidade, contra-ataques e marcação por encaixes individuais, com cada um pegando o seu ao invés de proteger um espaço, alguns nomes podem se beneficiar.
É mais fácil imaginar o Fred fazendo um pivô do que o Cano, por exemplo. Bem como atacar um espaço criado pelo centroavante é algo natural para Luiz Henrique ou Caio Paulista, enquanto Willian Bigode, apesar de ter essa característica, não tem mais a mesma aceleração ou capacidade física para fazer isso frequentemente e ainda recompor, como gosta Abel.
Os laterais, por outro lado, possuem característica para jogarem bem abertos, próximos à linha lateral, realizando ultrapassagens, cruzamentos e ganhando disputas de bola. O zagueiro David Duarte também é firme pelo alto e possui “pegada” para encaixar. Já Nathan, ainda que se desligue do jogo de vez em quando, está habituado aos encaixes de marcação por ter trabalhado com Cuca, pode jogar como 10 ou mais recuado, realiza boas inversões de jogo, imprime um ritmo alto na circulação de bola e entra na área para finalizar. Elevará o nível da equipe e encaixa muito bem.
Falando na região central, André pode continuar se destacando, devido a sua capacidade de vencer duelos físicos, combater muito e correr o campo todo. Yago é outro que não demonstra dificuldades para isso, nem de infiltrar e finalizar as jogadas. Devem ter boa adaptação com Abelão. Por outro lado, existem diversos atletas cujo encaixe não parece tão natural, porém podem contribuir e muito para a equipe ir além em diferentes contextos.
Felipe Melo, por exemplo, aos 38 anos, não tem mais condições de realizar os encaixes de marcação. Porém como o bloco defensivo um pouco mais baixo, jogando posicionado na frente da área, é um dos melhores do país. Possui uma leitura de jogo invejável, interceptando tudo que passa no seu setor, um ótimo jogo aéreo e pode potencializar o jogo ofensivo do Fluminense com seus lançamentos. Seu bom desempenho sob o comando de Felipão, no Palmeiras, mostra isso.
Abel Braga gosta da bola longa, do contra-ataque, mas nem sempre é possível jogar assim. A outra alternativa é jogar um pouco mais pelo chão, buscando aproximações no setor bola para conseguir triangulações até que alguém esteja em boa situação para arrematar ou dar uma assistência. Nesse momentos, Nonato, Martinelli, Arias, Cazares e Willian podem aparecer mais pela capacidade de passe ou drible. Já Cano participa menos da construção, porém é muito bom se movimentando em diagonal dentro da área, ou seja, no facão.
O torcedor do Fluminense tem motivos para ficar empolgado com o melhor elenco do clube em muito tempo. Para ficar preocupado, também há algumas razões devido ao encaixe não tão natural de algumas peças. Financeiramente, o clube tem dificuldades e mesmo assim aumentou sua folha salarial, além de ter trazido jogadores experientes que podem tirar minutos dos mais jovens, dificultando uma boa venda. Em contrapartida, até o último mês de setembro, o clube registrava mais de R$ 40 milhões de superávit. De qualquer forma, a temporada é longa, todos terão oportunidades e todas estes dúvidas estarão resolvidos ao final do ano. Fato é que em janeiro de 2022, o Tricolor das Laranjeiras está mais forte do quem em 2021.
Comente!