FOOTURE ENTREVISTA: MARCELO MÉNDEZ, TÉCNICO DO DANÚBIO
Por Léo Gomide O Danubio FC, adversário do Atlético na próxima terça-feira pela Copa Libertadores, chegou à disputa do torneio continental ao finalizar o Torneo Apertura do Uruguay na 3a colação no ano passado, somando 30 pontos. Já no Torneo Clausura o desempenho do “La Franja” (alusão à faixa transversal característica do uniforme) caiu, e […]
Por Léo Gomide
O Danubio FC, adversário do Atlético na próxima terça-feira pela Copa Libertadores, chegou à disputa do torneio continental ao finalizar o Torneo Apertura do Uruguay na 3a colação no ano passado, somando 30 pontos. Já no Torneo Clausura o desempenho do “La Franja” (alusão à faixa transversal característica do uniforme) caiu, e o clube encerrou o segundo semestre ocupando a 10ª posição, com 17 pontos. Em todo o ano passado o Danubio foi comandado pelo técnico Pablo Peirano. Em dezembro o time uruguaio passou por eleição presidencial, e o novo mandatário Jorge Lorenzo optou por não renovar o contrato do treinador.
No dia 17 de dezembro de 2018 Jorge Lorenzo anunciou Marcelo Méndez como novo comandante do Danubio. Antes de assumir o “La Cuna de Crácks” (apelido graças ao grande número de jogadores revelados pelo clube com projeção nacional e internacional) Marcelo esteve no comando técnico do Club Atlético Progresso. Méndez levou os “Gauchos del Pantanoso” (apelido por conta da região onde foi criado o Progresso) de volta à Primeira Divisão uruguaia em 2017. O Progresso finalizou o Apertura 2018 na 8a posição, com 21pts. Já no Clausura foi o 7o colocado com 19pts. Durante o Apertura, o trabalho de Méndez chamou a atenção quando o Progresso derrotou um dos grandes da capital, 2×1 contra o Nacional. O time de Méndez ainda viria a conquistar outro grande feito: venceu o Peñarol, 4×3.
Resultados que aliados à boa campanha em 2018, o credenciaram a estar no Danubio para esta temporada. Para saber um pouco mais sobre o treinador de 38 anos, as ideias de jogo, as inspirações como técnico, o conhecimento acerca do Atlético, o FOOTURE conversou com Marcelo Méndez.
– Gostaria que falasse um pouco do início da carreira dirigindo o Progresso, tendo levado o clube de volta à Primeira Divisão. Como foi esse processo?
Cheguei ao Progresso em abril de 2017. Aos poucos fomos desenvolvendo o trabalho e fizemos uma campanha que levou o clube aos playoffs e depois ao acesso para a Primeira Divisão no ano seguinte. Em 2018, no promédio do Apertura e Clausura, por meio ponto não classificamos para a Copa Sul-Americana. Tivemos as vitórias contra Nacional e Peñarol que despertaram a atenção de todos. Montamos um time com uma determinada forma de jogo, com muitos jogadores que chegaram ao Progresso por empréstimo ou oriundo das categorias de base, já que não havia recurso para contratações. Agora chego ao Danubio, um clube totalmente diferente, com infraestrutura, centro de treinamento. A exigência é maior mas tenho confiança em fazer as coisas bem.
– Quais as suas referências como treinador? Poderia citar algum nome?
Trato de não imitar a ninguém. Buscar o meu próprio estilo. Equipes que buscam ser protagonistas, que buscam mais o ataque. São times assim que gosto de assistir e assimilar algo.
– Em 2018 o Progresso tinha uma ideia muito clara de jogo: buscar a progressão das jogadas desde o campo defensivo, sem ter como prioridade uso de bola longa, com os zagueiros diretamente auxiliando na construção. Algo que está tentando implementar no Danubio
Algumas ideias já foram repassadas, mas o tempo é um fator primordial. Tivemos apenas 30 sessões de treinamento, e o que desejo o jogador não desempenha de um dia para o outro. Nossa ideia é jogar parecido como fazíamos no Progresso, mas sei que o tempo é curto. Tenho de ser inteligente para definir qual sistema tático usar e como nos portarmos nos jogos. Mas sigo com a ideia de defender longe do nosso gol, e com a bola saber como criar situações sendo protagonista.
– No Progresso utilizou por quase toda a competição o sistema com o 4-2-3-1. É realmente a sua preferência ou foi uma adaptação devido aos jogadores que tinha? No Danubio seguirá neste sistema?
Tenho treinado no 4-2-3-1 mas venho testando algumas variantes também, como o 4-3-3. Mas o mais importante para mim são as características dos jogadores e como eles de adaptam ao sistema que quero. No Progresso fechamos o ano com todas as fases do jogo sendo feitas de uma boa maneira.
– Alguns jogadores importantes deixaram o Danubio, como o volante Ribair Rodriguez, meia Pablo Cepellini, extremo esquerdo Ignacio Gonzalez. Como tem lidado com estas baixas?
Se foram jogadores importantes, o Ribair Rodriguez era o capitão do time e tinha um influência muito grande sobre os atletas mais jovens. Cepellini era importante taticamente no setor de meio-campo, na criação. Não procuro lamentar. Confio nos jogadores que formam o elenco.
– O Danubio realizou quatro amistosos nesta pré-temporada (venceu Progresso, Rampla Juniors e Racing-URU e perdeu para o Liverpool-URU). Qual a avaliação que faz destes jogos?
Em nenhum busquei obter apenas resultado. Quis observar que o que treinamos foi assimilado e reproduzido nos amistosos. Dou muita importância à ideia de jogo. E vi a ideia durante as práticas e isso me deixa satisfeito. É pensar no estilo para tratar de chegarmos ao resultado.
– O que pode comentar sobre o Atlético?
Assisti ao jogo que ganho de 5×0 no Estadual, a derrota utilizando um time reserva e o empate no clássico local. Tem uma dupla de zaga com boa média de estatura, laterais experiente e jogadores com currículo sul-americano como Chara e Cazares. Sei que joga num 4-2-3-1, variando para um 4-3-3. O Danubio tem uma folha que corresponde a 30% do Atlético. Mas tenho total confiança, assim é o futebol. Temos coragem para tentarmos ser protagonistas. E se não classificarmos queremos ao menos desfrutar em participar de uma competição grandiosa como é a Libertadores.
Alguns comportamentos do Progresso, ex-clube de Marcelo Méndez
Durante o ano de 2018 o Progresso apresentou uma ideia clara de jogo, como questionado a Marcelo Méndez durante a entrevista. No Danubio os mesmos comportamentos poderão estar presentes, mas primeiro há de se respeitar a características dos jogadores que compõem o plantel, como também destacado pelo treinador. Além de outros fatores que devem nortear o trabalho de um técnico, como o aspecto histórico do clube, as exigências e aspirações, uso frequente de atletas formados na base, etc. Abaixo seguem algumas observações do Progresso quando dirigido por Méndez, e uma amostra do que também poderá ser visto no Danubio sob o comando do treinador.
Fase Defensiva:
- Sistema tático predominante: 4-2-3-1.
- Linha Defensiva com 4 jogadores
- Bloco de marcação médio para baixo
- Defesa por marcação zonal: Direcionamento do adversário para regiões específicas. Muita tentativa de proteção do eixo central do campo (proteger o funil). Sempre buscando ter no mínimo 9 jogadores atrás da linha da bola. Raro uso de marcação por encaixe individual. Em alguns momentos encaixe por setor.
- Ao perder a posse de bola, pouca pressão pós perda. Procurava retardar o adversário para reorganização das linhas.
Fase Ofensiva:
- Progresso procurava se organizar em um 3-4-3. Os dois zagueiros (Castillo e Makuka eram responsáveis por iniciar a construção das jogadas, com a linha de 3 formada ora pelo lateral-direito Asconeguy ou o esquerdo Loffreda. A linha de 4 formada por um dos laterais, os volantes Gottesman e Viega, e o meia Lemmo. Na última linha de 3 os dois extremos (Rosso e Onetto) buscavam dar amplitude ao time, com Colman na referência.
- Jogo apoiado, tentativa de criação de linhas de passe. Extremos na amplitude para os laterais atacarem o espaço por dentro. Raro uso de bola longa para o centroavante na tentativa de progressão ao ataque. Uso maior de princípios estruturais de ataque como penetração, mobilidade e ultrapassagem.
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