Geração 2003: quatro joias e quatro contextos diferentes na América do Sul
Yaser Asprilla, Yerson Chacón, Fabrício Díaz e Alan Minda compartilham as similaridades de terem nascido em 2003 e o status de peça-chave em suas respectivas equipes. No entanto, eles diferem no contexto de formação.
Alegria, garra e habilidade são algumas palavras-chave quando tratamos sobre o futebol sul-americano. Infantilmente, às vezes a análise fica filtrada apenas em Brasil e Argentina num continente grande e plural. Por um lado, existem projetos consistentes e vindouros de clubes jovens preocupados com o futuro. Pelo outro, por mais que os clubes tenham evoluído estruturalmente à margem da dupla, a diferença financeira ainda pesa na formação de jovens jogadores.
Em meio a contextos específicos, quatro jogadores da geração 2003 estão se destacando no futebol sudaca fora do eixo Brasil-Argentina. São quatro exemplos de situações peculiares que modelam, sob uma dualidade sinistra, a carreira dos novos candidatos a ídolos de seus clubes e seleções.
Yaser Asprilla (Envigado, meia-atacante)
Cria do maior projeto de futebol de base da Colômbia, Yaser Asprilla é a nova joia do Envigado. O clube laranja revelou nomes do calibre de James Rodríguez, Giovanni Moreno, Dorlan Pabón, Juan Fernando Quintero, Mateus Uribe, Frank Fabra, Duván Vergara e Yeison Guzmán no passado. Não é à toa que a categoria de base dos antioqueños é chamada de Cantera de Héroes. Agora é a vez do jovem meia-ofensivo, nascido em 2003, que é tratado como uma das maiores promessas da história do clube.
Asprilla estreou profissionalmente em dezembro de 2020, na reta final do campeonato, devido ao enorme talento para uma função que vende bastante jogadores. Apesar de usar a camisa 22, o garoto natural de Bajo Baudó é o famoso camisa 10. O meia possui grande qualidade técnica no pé esquerdo para dominar a bola, além de ser perito em passes e jogadas de bola parada. Se não bastasse o refino técnico, Asprilla é veloz e muito versátil ao cumprir funções no ataque, podendo atuar como extrema-direita. Por outro lado, o colombiano de 1,86m de altura ainda precisa melhorar na contribuição defensiva e em jogadas aéreas.
Ao contrário da realidade de muitos jogadores do futebol sul-americano, Asprilla se desenvolveu numa academia de alto padrão, contando com plano de carreira e uma filosofia de jogo pré-definida. Na Colômbia, a cultura dos campeonatos de seleções regionais é muito forte e o Envigado, que conta com um grande corpo de olheiros, faz a festa. Foi num desses torneios que eles encontraram Yaser Asprilla defendendo o departamento de Chocó.
A procedência da cantera do Envigado atraiu os olhares do Watford, da Inglaterra, que deve fechar a contratação da promessa quando ela completar 18 anos em novembro. Até o momento, o meia-ofensivo tem 12 jogos, três gols e uma assistência com a camisa laranja.
Yerson Chacón (Deportivo Táchira, meia/extrema)
A Venezuela amarga a última colocação das Eliminatórias para a Copa do Mundo de 2022, além de não ver uma equipe local conseguir protagonizar um bom momento em competições internacionais. Com uma média de idade de 25 anos, a Vinotino está num momento de reconstrução, dependendo muito a geração que conquistou o vice do Mundial Sub-20, em 2017, na final contra a Inglaterra.
Embora o campeonato nacional seja repleto de jogadores jovens ganhando espaço, a condição estrutural ainda é bastante precária. É nesse ambiente que Yerson Chacón, o jogador mais habilidoso em solo venezuelano atualmente, se destaca. O camisa 18 é cria do Deportivo Táchira, a segunda equipe com maior torcida no país, porém, que é considerada a mais fanática de todas. Historicamente, os aurinegros rivalizam com o Caracas o posto de clube revelador das maiores estrelas locais. Recentemente, equipes como Deportivo Lara e Zamora ganharam espaço na elite graças aos bons trabalhos feitos nas categorias de base.
Chacón pode atuar como meia ou extrema-esquerda, tendo estreado como profissional da equipe aurinegra aos 17 anos, em 2020. Destro, o venezuelano se destaca pela velocidade, pelos chutes de longa distância e pelo controle de bola – que é dificultado pela péssima qualidade dos gramados na Venezuela. Mesmo com apenas 1,66m de altura, o venezuelano utiliza-se da agilidade e da coragem para conseguir ficar em pé na maioria das disputas de bola. O fato de conseguir manter a pelota próxima ao pé, mesmo em alta velocidade, faz com que Chacón seja um rompedor de linhas. Na atual temporada pelo Táchira, a promessa já atuou em 27 partidas, marcando sete gols e dando uma assistência direta. Nos últimos 5 jogos da equipe de San Cristóbal, ele balançou a rede três vezes.
Fabrício Díaz (Liverpool-URU, volante)
Enquanto Asprilla teve a “sorte” de crescer numa equipe bem estruturada e Chacón precisou se destacar pela habilidade num contexto mais rústico, Fabrício Díaz é a exemplificação perfeita da exigência do futebol uruguaio. Com apenas 18 anos, o volante do Liverpool de Belvedere já soma 59 partidas como profissional e os títulos de campeão da Supercopa e Torneo Clausura, em 2020, no currículo. Detalhe: Díaz estreou na Supercopa, contra o Nacional, com 16 anos de idade e marcando o gol do título.
Geograficamente menor que Colômbia e Venezuela, porém, com uma tradição imensa em revelar jogadores, o Uruguai é um caso de sucesso na formação de futebolistas, haja vista que financeiramente os clubes charruas não levam muita vantagem se comparados aos times dos países citados. E a situação fica ainda mais complicada para os clubes à margem de Peñarol e Nacional, que monopolizam títulos, torcedores e financiamento. Díaz é fruto do recente e excelente trabalho de formação dos Negriazules, que revelou os irmãos Carlos Sánchez (Santos) e Nicolás de la Cruz (River Plate), além de Federico Martínez, Rodrigo Aguirre, Junior Arias, Sebastián Cáceres e Nicolás Acevedo.
Fabrício Díaz começou a jogar bola com apenas quatro anos de idade no Baby Fútbol como quase todo jogador de sucesso no Uruguai. Aos 12 ele chegou à cantera do Liverpool, onde ficou por quatro anos até se tornar profissional. É importante salientar que os Negriazules de la Cuchilla possuem uma filosofia igual de jogo definida para todas as categorias, do juvenil ao profissional. Isso implica no sucesso recente em revelar e conquistar títulos com as pratas da casa, sem precisar fazer acordos com empresários ou gastar muito dinheiro.
Atuando como primeiro volante, Díaz tem responsabilidades defensivas claras, como marcação e desarme. No entanto, o garoto de 1,79m de altura não se notabiliza apenas por ser um bom defensor da linha de quatro. O centro-campista possui boa técnica no pé direito, sobretudo para proteger a bola, cadenciar o ritmo e encontrar opções melhores de passes, fazendo o jogo fluir naturalmente no início das jogadas. Díaz também se destaca pela leitura das posições e a mentalidade competidora. Para estrear com apenas 16 anos de idade numa partida contra o Nacional, o garoto precisa ser forte mentalmente, certo? Pois bem, ele é. Fabrício protege, pressiona e até arrisca subidas ofensivas quando percebe o espaço desenhado na cancha.
Alan Minda (Independiente del Valle, ala)
Um dos melhores lugares para se estar no futebol sul-americano atualmente é na cantera do Independiente del Valle. O sucesso da equipe equatoriana não é mais mistério para ninguém, seja pelos resultados em campo ou pelos jogadores revelados nas categorias de base. Favorecidos pelo contexto peculiar, especialmente em comparação a realidade os jogadores citados anteriormente, a mais nova promessa do futebol negriazul atende pelo nome de Alan Minda.
Destaque da equipe B, também conhecida como Independiente Juniors, na segunda divisão equatoriana, Minda foi alçado à equipe principal em julho pelo treinador português Renato Paiva já conquistando a titularidade. Com parte da formação feita como extrema, o garoto nascido em 2003 tem atuado como ala-esquerdo no 352 do treinador lusitano, que lidera com folga e invicto a Segunda Etapa do campeonato nacional.
Tal como outros que vieram antes, Minda é o típico jogador que rende boas cifras aos cofres negriazules por seguir o padrão de formação: qualidade técnica aliada ao modelo de jogo. O ala é veloz, tem excelente relação com a bola e um potente chute de perna direita. Protegido por uma linha de três defensores, Minda ganha liberdade para ampliar o gramado, além de buscar o 1v1. A criatividade do jovem de 18 anos se tornou um refresco para os profissionais do IDV por gerar dúvidas no marcador. Apesar de ser destro e atuar na esquerda, o equatoriano pode ser uma ameaça se for ao fundo para cruzar ou se optar por uma jogada por dentro visando o chute com a perna invertida.
Alan Minda tem apenas 12 jogos como profissional e um gol marcado, mas o jovem de 1,71m de altura rompeu meteoricamente por um lugar entre os titulares, influenciando positivamente o estilo de jogo do Independiente del Valle, que, apesar do sucesso internacional, ainda não conseguiu conquistar a liga equatoriana. É prudente ficar de olho em mais um canterano oriundo desse projeto meticuloso.
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