Hazard, Griezmann e João Félix: os principais centuriões do futebol espanhol contemporâneo — Griezmann e João Félix

Atlético de Madrid, Barcelona e Real Madrid. Os três espanhóis fizeram contratações de impacto no mercado. Neste segundo texto, vamos falar sobre Antoine Griezmann e João Félix

Na década passada acompanhamos o futebol com um mercado cada vez mais inflacionado. Diversos fatores influenciam no valor de um jogador e como o time lida com isso é a principal questão, principalmente nos últimos anos. As 10 transferências mais caras da história do futebol aconteceram na última década e no verão passado os três principais clubes espanhóis abriram o cofre para contar com novos craques. Durante essa série iremos falar especificadamente sobre Eden Hazard, Antoine Griezmann e João Félix.

É inegável que Hazard e Griezmann são jogadores já consolidados dentro do cenário e seus valores não são tão questionados de primeiro momento. Com 19 anos na época, João Felix tinha uma grande projeção de carreira e demonstrava que um retorno imediato não seria um problema tão grande também. Mas seu valor foi bastante discutido.

Ao fim da temporada como foi o desempenho de cada um? Corresponderam ao investimento? Como foi a adaptação dos três em seus respectivos times? Nessa série vamos analisar e responder essas perguntas.

Antoine Griezmann

Antes de estrear na Copa do Mundo de 2018, Griezmann anunciou que ficaria no Atlético de Madrid depois de muito suspense e especulações na imprensa. Toda essa busca por “títulos” era algo que pesava sua cabeça a muito tempo, e aparentemente isso se revelou mais forte no ano passado — quando demonstrou o desejo de sair.

Desde 2014 no Atleti, Griezmann fazia uma espécie de segundo atacante no 4-4-2 de Simeone, flutuando em boa parte do tempo, fazendo parte da criação e se apresentando também para finalizar. Todo seu potencial foi condicionado nessa função e é claro que não seria (tão) fácil chegar em um time que, apesar de Valverde (treinador na época) ter bastante repertório tático para variação entre esquemas, brigava internamente por conta de conceitos, ideias e filosofia.

Apesar de ser contestado a cada jogo, Griezmann tem bons números. x gols e x assistências na temporada até então.

Outra questão interessante é o fator âncora. Griezmann era o jogador mais importante do Atleti, o craque do time, mas no Barcelona temos Messi, o que coloca o francês em um cenário completamente diferente do que era em seu antigo clube. Mas cá entre nós, ele sabia disso quando assinou o contrato.

Em seu primeiro jogo foi escalado como um ponta pela esquerda, posição que não fazia desde os tempos de Real Sociedad — se aventurou por lá em alguns (poucos) jogos do Atleti — e não foi tão bem. Já na segunda partida, escalado como atacante principal, seu desempenho foi absurdamente superior como podemos ver abaixo.

Sem Messi e Suárez, o francês conseguiu maior liberdade e uma imposição natural. Porém não é como se esse fosse o objetivo do clube catalão ao fechar sua contratação. Apesar de todos os problemas de encaixe, a regularidade agradava e mesmo sem grandes atuações os números amparavam. Apesar do trio não ter uma química explícita, a contribuição é, de certa forma, satisfatória.

Com a chegada de Setién muito se imaginava como o treinador encaixaria Griezmann na nova conjuntura blaugrana. Entretanto seu desempenho caiu, a regularidade no começo, mesmo que fora de posição, não prosseguiu — principalmente após a paralisação.

Aos 29 anos fica difícil se adaptar a algo diferente. Além de tudo, suas peculiaridades colidem com a presença de Messi e Suárez. Fica cada dia mais nítido que o clube contratou o jogador sem pensar em como seria o encaixe, basicamente colocando no colo dos treinadores e eles que lutem.

Mapa de calor La Liga 18/19
Mapa de calor La Liga 19/20

Observando os mapas de calor da temporada anterior com o Atleti, e o da atual com o Barcelona, fica nítido a mudança. Ilustram bem como o encaixe junto de Messi e Suárez limita as características que fizeram de Griezmann um jogador tão determinante na última década.

É engraçado pensar assim, porque parece extremamente difícil encaixa-lo, e realmente é. E a risada de nervoso começa quando você para e pensa que estamos falando de um craque como Griezmann. Analisando o cenário europeu, ele não era a opção que resolveria todos os problemas do Barcelona, mas não dói admitir que o encaixe é sim complexo.

Mesmo que sua temporada seja oportuna se tratando de números, é preciso considerar que Griezmann passou de um Atleti bastante organizado, com ideias bem definidas na defesa e no ataque, para um Barcelona extremamente perdido em seus conceitos e essência, com a diretoria buscando afagar erros passados.

João Félix

Desde sua formação, João Félix sempre demonstrou ser um jogador facilmente adaptável em diversas funções no ataque, e por conta disso e toda sua habilidade fez total sentido a contratação do Atleti.

Promovido à equipe profissional em 2018, foi um dos artilheiros ajudando o Benfica a se consagrar campeão português. João Félix terminou a temporada com 20 gols e 11 assistências em 43 jogos com o clube e também foi escolhido como o Golden Boy de 2019 — prêmio dado ao melhor jogador Sub-21 atuando na Europa.

Com o Atleti, João Félix fez nove gols e deu três assistências em 36 jogos em sua primeira temporada.

Por toda sua versatilidade era um encaixe perfeito para os colchoneros que perderam seu principal jogador. A contratação mais cara da história do Atleti reunia duas questões: imediatismo e potencial. É clara a qualidade do camisa 7 e sua característica facilmente dominada por Simeone, mas até que ponto, um clube em reconstrução, elenco sendo remodelado, iria pesar no garoto? É claro que, mesmo que tenha custado €126 milhões, a responsabilidade não seria a mesma que um jogador consolidado como Griezmann tem. Mas as expectativas eram (e são) enormes de qualquer maneira.

Sua pré-temporada encheu os olhos de todos pela explosão e classe ao mesmo tempo — foram dois gols e três assistências. Porém durante a temporada deu sinais de uma adaptação ordenada e manifesta por Simeone. A forma como o jogador se encaixou no sistema, entendendo o cholismo e sua função nele não foi tão destacada como merecia.

Algumas questões envolvendo dificuldades em se adaptar ao estilo de jogo do Atleti foram discutidas. É claro que os atacantes sob o comando de Simeone devem pressionar os adversários com uma frequência maior quando jogam sem a bola, e isso foi talvez a única questão tática abaixo envolvendo o jogador.

Apesar de tudo, a influência no setor criativo ao lado de Koke foi enorme em boa parte dos jogos, e mesmo que os números não sejam impressionantes, o desempenho é notável.

Esse lance em uma partida contra o Getafe demonstra toda a energia, agilidade e poder físico para combater a marcação adversária.

Assim como Hazard, sofreu com lesões. Não foram tão graves como as do belga, porém atrapalhou seu desenvolvimento e tirou sua regularidade. Quando finalmente conseguia ritmo, e após grande partida contra o Lokomotiv Moscow, lesionou o tornozelo contra o Valencia. Aparentemente a lesão não era tão grave, mas exames depois confirmaram o jogador fora por um mês. No fim de janeiro, depois de um jogo contra o Leganés, teve novamente uma lesão, dessa vez na perna, e ficou fora por 25 dias, perdendo alguns jogos importantes do Atleti nesse tempo – clássico contra o Real Madrid e a primeira partida contra o Liverpool nas oitavas da Champions.

Sua importância no jogo único contra o Leipzig pelas quartas da Champions ficou nítida, e creio que resume bem sua primeira temporada como colchonero. Entrou na partida com o time perdendo e proporcionou diversas jogadas e uma composição ofensiva para empatar e até virar o jogo. Chamou para si, criou, finalizou, sofreu o pênalti e empatou o jogo assumindo a responsabilidade em bater.

Independente da temporada ser boa ou não, e também da classificação não ter vindo, fica um gosto bom se tratando do mesmo individualmente. Em meio a uma reconstrução é fundamental entender que, mesmo que exista uma dificuldade em recompor peças, novas peças irão se sobressair, e João Félix é uma delas. E recuperado fisicamente é uma das maiores armas que o Atleti tem na mão para os próximos anos. Não é questão de ser o “novo Griezmann”, é ser João Félix.

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