Guia do futebol masculino na Olimpíada de Tokyo 2020: parte 1

Na próxima quinta-feira, 22 de julho, o futebol olímpico masculino terá seu pontapé inicial em Tóquio. Na primeira parte do Guia você encontra um apanhado sobre os participantes e jogadores dos grupos A e B para ficar de olho.

Embora não tenha mais o prestígio de antigamente, o futebol masculino continua presente nos Jogos Olímpicos. Entre vetos e acordos com clubes, vários treinadores tiveram que quebrar a cabeça para configurar a lista final dos convocados para a Olimpíada de Tokyo 2020. Alguns tiveram a sorte de contar com a vontade dos jogadores, outros por dirigirem países com excesso de nomes de qualidade.

No geral, o torneio possui tem elementos suficientes para oferecer uma boa competitividade. De seleções ávidas pela conquista inédita a equipes que costumam crescer na categoria. De jogadores que buscam reencontrar a reputação para jovens desconhecidos do grande público e lutam por um espaço nas grandes ligas.

O futebol olímpico começa na quinta-feira, 22 de julho, com toda a primeira rodada sendo realizada nesse dia. A segunda e terceira rodadas acontecerão no domingo, 25 de julho, e quarta-feira, 28 de julho, respectivamente. As quartas-de-finais serão no sábado, 31 de julho; as semifinais na terça-feira, 3 de agosto; a disputa pelo bronze na sexta-feira, 6 de agosto; e a grande final no sábado, 7 de agosto.

Abaixo você encontrará a primeira parte do Guia dos Jogos Olímpicos com os participantes dos grupos A e B. A segunda parte, na próxima semana, contará com os grupos C e D.

Grupo A

França

Após retumbante fracasso na Euro Sub-21, Silvain Ripoll terá mais uma chance para realizar seu trabalho frente a seleção francesa juvenil. Apontada como uma das grandes favoritas antes da convocação final para os Jogos Olímpicos, o treinador precisou reunir nomes menos badalados depois de tantas negativas dos clubes. No entanto, o selecionador francês conseguiu montar uma equipe com potencial de crescimento, independente de nomes conhecidos como Gignac, Thauvin, Bajic, Tousart e Kalulu.

O principal atrativo dos 22 convocados de Ripoll são os nomes alternativos. Atentem-se para Alexis Beka Beka (2001), volante do Caen, que debutou como profissional aos 18 anos em 2019. Com a formação toda feita como zagueiro central, Beka Beka virou “primeiro volante” na equipe principal do Caen por aliar qualidades defensivas, como desarme e posicionamento, com qualidades armadoras, como passes precisos e condução de bola para quebrar a primeira linha de marcação adversária.

Outro nome interessante da lista é o de Enzo Le Fée (2000), meia do Lorient, que também estreou como profissional em 2019. Podendo atuar como segundo volante ou meia-ofensivo, Le Fée é um jogador dinâmico, sendo ótimo ao impor pressão no portador da posse de bola. Por questões físicas (1,70m), o meio-campista atua melhor quando está próximo do último terço, fugindo dos embates mais ríspidos e utilizando sua agilidade para encontrar espaços entre as linhas e realizar passes precisos.

México

Com exceção de Diego Lainez (2000), que atua no Real Betis, todos os outros 21 convocados por Jimmy Lozano atuam na Liga MX. Curiosamente, o extrema-esquerda dos béticos é o jogador mais jovem da lista. Todavia, nomes como Memo Ochoa, Luís Romo e Henri Martín dão ainda mais peso para o esquadro tricolor.

À exceção dos reforços experientes, a força primordial da equipe mexicana espalha-se por Sebastián Córdova (1997) e Alexis Vega (1997), dos eternos rivais América e Chivas, respectivamente. Isso deve-se ao fato de que ambos são jogadores habilidosos e que desempenham várias funções táticas no plano de jogo. Córdova é um meia-ofensivo muito veloz e de bom drible, podendo atuar tanto por dentro quanto pelas extremidades. Vega começou como centroavante nas forças básicas do Toluca, mas devido a tremenda facilidade para driblar e finalizar, o baixinho de 1,72m pode atuar pela extrema-esquerda ou como um segundo atacante, de frente para o gol.

Roberto Alvarado (1998), extrema e meia-ofensivo do Cruz Azul, pode ser a arma secreta de Lozano, porque muito provavelmente Luís Romo será titular no meio-campo mexicano. O entrosamento da dupla, que quebrou a maldição de 23 anos sem título da Máquina Cementera, pode ser vital contra defesas mais pesadas. El Piojo é veloz e possui bom drible, além de uma arrancada muito forte no 1v1.

Japão

Hajime Moriyasu, treinador do Japão, não terá o público presente nos estádios para os confrontos devido ao surto de covid-19 na capital, mas o fato de jogar em casa não só ajuda na aclimatação como cria uma expectativa maior. Pensando nisso, Moriyasu gastou a bala com reforços para o setor defensivo. Maya Yoshida (zagueiro da Sampdoria), Hiroki Sakai (ala direita ex-Marselha e atualmente no Urawa) e Wataru Endo (volante do Stuttgart) foram chamados como jogadores acima dos 24 anos.

 Além deles, a seleção japonesa tem a disposição Takehiro Tomiyasu (1998), do Bologna, e Yuta Nakayama (1997), do PEC Zwolle, com experiência internacional para o setor defensivo. Entretanto, a dúvida paira sobre quem será o goleiro titular. O mais promissor dos três que foram convocados é Zion Suzuki (2002), que brilhou na meta japonesa durante o Mundial Sub-17, em 2019, porém, ele tem pouquíssima minutagem entre os profissionais. A briga deve ser mais acirrada entre Kosei Tani (2000) e Keisuke Osako (1999), esse sendo mais experiente que o colega.

Todavia, os Jogos Olímpicos devem ser ainda mais importantes para dois jogadores em questão. O primeiro é Takefusa Kubo (2001), que ainda pertence ao Real Madrid, porém, que terminou a temporada 2020/21 atuando por duas equipes diferentes (Villarreal e Getafe) e sem brilho. Kubo chamou a atenção pelo Mallorca, em 2019/20, pela qualidade nos dribles e controle de bola, além da constante movimentação entre as linhas. O segundo é Ritsu Doan (1998), extrema-direita do PSV, que melhorou na última temporada, estando emprestado ao Arminia Bielefeld, em relação ao que fizera na retrasada, quando pouco atuou com a camisa dos Boeren. Assim como Kubo, Doan é habilidoso e veloz, mas a irregularidade coloca em xeque o seu prospecto. Uma boa exibição num grupo difícil como esse pode ser a grande chance de recuperar o prestígio de outrora.

África do Sul

Se tinha alguém ansioso pelos Jogos Olímpicos, esse alguém é David Notoane. O selecionador da África do Sul soltou uma lista de 50 nomes pré-convocados no começo do ano, que obviamente foram sendo riscados ao longo dos meses. No entanto, a vida não foi gentil como Notoane, que sofreu um duro golpe na segunda-feira, quando teve que cortar CINCO jogadores da lista final por condições médicas. Um deles era Lyle Foster, que chegou a atuar por Mônaco e Vitória de Guimarães.

Apesar da boa representação de jogadores de equipes nacionais na lista final, como Teboho Mokoena (1997), volante do SuperSport United, que provavelmente será o capitão da equipe, e Goodman Mosele (1999), volante recém-contratado pelo popular Orlando Pirates, o quadro de Notoane terá que confiar no talento de jogadores atuando no exterior.

Luther Singh (1997) e Kobamelo Kodisang (1999), ambos do Braga-POR, são as grandes esperanças dos Bafana Bafana na fase de grupos. O primeiro esteve emprestado ao Paços de Ferreira na temporada passada, tendo feito cinco gols e registrado cinco assistências em 29 jogos disputados com a camisa pacense. Já o segundo ainda pertence a equipe reserva, tendo ganhado minutos no Campeonato de Portugal. Aliás, a dupla defendeu a África do Sul no Mundial Sub-20, em 2017, e enfrentou o Japão de Tomiyasu, Kubo e Doan, ironicamente, também na fase de grupos. Na ocasião, os Samurais venceram de virada por 2×1, com o segundo gol sendo marcado por Doan numa assistência de Kubo.

Grupo B

Romênia

Com a seleção mais jovem do torneio, Mirel Radoi, que coincidentemente é o treinador mais novo das Olimpíadas, precisou driblar diversas barreiras para conseguir definir a lista final da Romênia que viajará para o Japão. Com diversas negativas, seja dos clubes grandes do continente ou dos times locais, o homem, que liderou brilhantemente a Tricolor na Euro Sub-21, em 2019, até às semifinais do torneio, fez uma colcha de retalhos com os nomes que sobraram da “sua edição” com alguns destaques liberados da equipe de Adrian Mutu, que disputou a edição de 2021 da Euro.

Radoi, que também é o treinador da equipe principal, conta apenas com Florin Stefan como jogador acima dos 24 anos de idade. O defensor, no caso, tem apenas 25. Embora passe por uma estruturação em meio à turbulência local, o futebol romeno parece ter reencontrado seu caminho, apesar de levar uma seleção completamente dilacerada e longe do ideal técnico que possui a nova geração.

Estarão à disposição do treinador nomes como Tudor Baluta (1999), que ainda não se firmou no Brighton, mas que fora importantíssimo na Euro de 2019. Incomodado pelas lesões, o volante de 1,92m deve ser o responsável pela saída no primeiro terço. Baluta terá a companhia de Ion Georghe (1999) e Andrei Ciobanu (1998), que fizera uma ótima Euro Sub-21 em 2021, no meio-campo construído por Mutu. No último terço, os nomes de maior destaque são Valentin Georghe (1997) e George Ganea (1999). O primeiro é um extrema-esquerda de velocidade e boa finalização enquanto o segundo é um centroavante de boa estatura e que realiza o pivô com naturalidade.

Coréia do Sul

A Coréia do Sul chega para os Jogos Olímpicos com um currículo de impor respeito mesmo com a ausência de sua grande estrela, Son Heung-Min, do Tottenham. Kim Hak-Bum, que comandará os Tigres da Ásia, foi o treinador que esteve à frente da seleção sub-23, que conquistou o Campeonato da AFC em janeiro de 2020. Os sul-coreanos possuem retrospecto interessante nas Olimpíadas, tendo passado de fase nas duas últimas edições – parou nas quartas em 2016 e chegou à semifinal em 2012.

A grande atração da Coréia do Sul é justamente o jogador mais jovem do elenco, que, porventura, é o jogador mais famoso também. Trata-se de Lee Kang-in (2001), do Valencia, que liderou os Tigres ao vice-campeonato do Mundial Sub-20, em 2019. Embora não viva uma fase interessante com os Ches, muito por conta do caos que se apoderou do clube, Kang-in é essencial no esquema de Kim Hak-Bum por ser o quebrador de linhas adversárias com seus dribles e velocidade no 1v1.

Aliás, a confiança na joia valenciana é tanta que o treinador sul-coreano convocou apenas dois jogadores acima dos 24 anos: Hwang Ui-jo (1992), atacante do Bordeaux, e Kwon Chang-hoon (1994), extrema do Suwon Bluewings, que participou da equipe nas Olimpíadas de 2016. É importante ficar de olho no desempenho do goleiro Song Bum-keun (1997), que fechou a porta contra a Seleção Brasileira nos amistosos no Egito em novembro passado; no volante Kim Dong-hyun (1997), que defende e passa muito bem; no meia-ofensivo Lee Dong-gyeong (1997), que foi o jogador com mais assistências na AFC e que fizera um gol no Brasil em novembro; e no zagueiro e capitão Lee Sang-min (1998).

Honduras

Embora não tenha o mesmo hype de Romênia e Coréia do Sul, a seleção hondurenha, em termos de base, não deve muita coisa para os rivais, especialmente quando o assunto é Olimpíadas. Honduras, que será comandada por Miguel Falero, disputará os jogos pela terceira vez seguida, tendo classificado para as quartas-de-final em 2012, quando caiu perante o Brasil por 3×2, e terminado com o quarto lugar em 2016, quando eliminou a Coréia do Sul, nas quartas, e perdido a disputa de terceiro lugar para a Nigéria por 3×2.

Todavia, a conquista mais recente da Bicolor não resultou em título, porém, a façanha dos comandados de Falero chamou a atenção pela dificuldade. No dia 28 de março, Honduras venceu os EUA por 2×1 pela semifinal do Pré-olímpico da Concacaf, conquistando a vaga para os Jogos Olímpicos contra um selecionado que fora apontado como favorito para abocanhar o torneio. Com apenas Brayan Moya (1992) e Jorge Benguche (1996) acima dos 24 anos, La Bicolor contará com praticamente todos os jogadores que bateram os estadunidenses e que ficaram com o vice, perdendo nos pênaltis para o México.

O principal destaque de Honduras é o meia-atacante Rigoberto Rivas (1998), que atua pela Reggina, na Serie B italiana. O ítalo-hondurenho também passou pelas categorias de base da Inter de Milão e defendera as cores do Brescia. O extrema-direita Luís Palma (2001), do Deportivo Vida-HON, é outro jogador que merece atenção, pois é veloz e com boa finalização. Denil Madonado (1998), do Pachuca, é a principal referência no setor defensivo, podendo atuar como zagueiro central ou lateral-direito.

Nova Zelândia

Classificada desde 2019 para as Olimpíadas, a Nova Zelândia será comandada por Danny Hay, que defendeu as cores do Leeds United nos anos 2000. O ex-zagueiro, que foi o primeiro jogador neozelandês a atuar em uma partida de Champions League na história, está no comando da seleção desde agosto de 2019, um mês antes de conquistar o Pré-olímpico. Com temperamento difícil, o treinador é uma das principais figuras da equipe que estará em Tóquio.

Embora os OlyWhites (junção de Olympic Whites) não tenham o mesmo peso das outras seleções, o Grupo B está bastante equilibrado, dando chances para sonhar com uma classificação. Hay conta com os reforços de três jogadores de larga experiência na Premier League: Winston Reid (33 anos, do West Ham) e Chris Wood (29 anos, do Burnley). Além da dupla, o treinador neozelandês convocou Michael Boxall (32 anos, do Minnesota United, da MLS).

No entanto, a grande atração jovem da Nova Zelândia chama-se Marko Stamenic (2002), chegou na janela passada ao FC Copenhagen. Vestindo a camisa 10, a promessa neozelandesa atua frequentemente como meia-central, podendo ser um segundo volante numa linha de quatro ou um meia-ofensivo no 4-2-3-1. Alto (1,88m) e forte, Stamenic se destaca pelos passes e velocidade de raciocínio.

Compartilhe

Comente!

Tem algo a dizer?

Últimas Postagens

FILIPE LUÍS NO FLAMENGO: ESTRATEGISTA E CAMPEÃO DA COPA DO BRASIL

FILIPE LUÍS NO FLAMENGO: ESTRATEGISTA E CAMPEÃO DA COPA DO BRASIL

André Andrade
ANÁLISE: FLAMENGO X ATLÉTICO-MG NA FINAL DA COPA DO BRASIL – CONFRONTO DE IDA

ANÁLISE: FLAMENGO X ATLÉTICO-MG NA FINAL DA COPA DO BRASIL - CONFRONTO DE IDA

André Andrade
AS TENDÊNCIAS E MUDANÇAS TÁTICAS NO CAMPEONATO BRASILEIRO

AS TENDÊNCIAS E MUDANÇAS TÁTICAS NO CAMPEONATO BRASILEIRO

Douglas Batista
O PROTAGONISMO DE BRAITHWAITE NO GRÊMIO

O PROTAGONISMO DE BRAITHWAITE NO GRÊMIO

Lucas Goulart
OS PONTOS DE EVOLUÇÃO DA SELEÇÃO BRASILEIRA

OS PONTOS DE EVOLUÇÃO DA SELEÇÃO BRASILEIRA

André Andrade
AS FUNÇÕES DENTRO DE UM CAMPO DE FUTEBOL – Análise do futebol Brasileiro

AS FUNÇÕES DENTRO DE UM CAMPO DE FUTEBOL - Análise do futebol Brasileiro

Douglas Batista
Prévia: Os destaques da final do Brasileiro Sub-20

Prévia: Os destaques da final do Brasileiro Sub-20

André Andrade
O impacto de Léo Ortiz atuando como volante no Flamengo

O impacto de Léo Ortiz atuando como volante no Flamengo

Lucas Goulart
Riccardo Calafiori: O defensor destaque na Itália que chega ao Arsenal

Riccardo Calafiori: O defensor destaque na Itália que chega ao Arsenal

André Andrade
Análise de Vitinho: o novo lateral-direito do Botafogo

Análise de Vitinho: o novo lateral-direito do Botafogo

Lucas Goulart
OS DESTAQUES DA PRIMEIRA FASE DO BRASILEIRO SUB-20

OS DESTAQUES DA PRIMEIRA FASE DO BRASILEIRO SUB-20

André Andrade
PALMEIRAS X BOTAFOGO: AS NUANCES DO DUELO DECISIVO

PALMEIRAS X BOTAFOGO: AS NUANCES DO DUELO DECISIVO

Douglas Batista
O trabalho de Fernando Seabra no Cruzeiro

O trabalho de Fernando Seabra no Cruzeiro

Lucas Goulart
Como saem os gols dos artilheiros do Brasileirão

Como saem os gols dos artilheiros do Brasileirão

Douglas Batista
A prospecção do Grêmio ao mercado Sul-Americano

A prospecção do Grêmio ao mercado Sul-Americano

Lucas Goulart