JORDAN HENDERSON: A REDENÇÃO DE UM CAPITÃO
As imagens de Jordan Henderson após a final da Liga dos Campeões 2019 comoveram o mundo do futebol. O capitão dos reds, visivelmente emocionado depois da conquista do troféu, abraçou fortemente seu pai, que sofrera de problemas de saúde durante a temporada e não pôde acompanhar a caminhada do filho de perto. Temporada essa de […]
As imagens de Jordan Henderson após a final da Liga dos Campeões 2019 comoveram o mundo do futebol. O capitão dos reds, visivelmente emocionado depois da conquista do troféu, abraçou fortemente seu pai, que sofrera de problemas de saúde durante a temporada e não pôde acompanhar a caminhada do filho de perto. Temporada essa de grande nível do ‘’herdeiro de Gerrard’’ que resultou no inglês levantando a taça em Madrid.
Recuando a Agosto de 2018, pairava no ar uma certa dúvida acerca da regularidade de Henderson no 11 do Liverpool – cujo a contratação de Fabinho viria exacerbar ainda mais o dilema. Isto é, embora Jürgen Klopp necessite de rodar os meio-campistas por questões físicas do seu modelo de jogo, Henderson não era visto (popularmente) como um pilar indispensável da equipe. O skipper começou a temporada mais tarde devido à participação na Copa do Mundo pela Inglaterra (que ficou entre as últimas 4 seleções do torneio). Durante esse tempo, Georginio Wijnaldum começou como volante dada a sua versatilidade, já que Fabinho precisou de um trabalho específico para se adaptar ao ritmo intenso do futebol inglês e entendimento do processo defensivo do Liverpool.
Em Outubro do mesmo ano, Henderson contraiu uma pequena lesão que o afastou dos gramados durante quase 3 semanas. No seu regresso, o Liverpool já atuava no 4-2-3-1 como forma de acomodar os seus 4 jogadores mais criativos (Mané, Salah, Firmino e Shaqiri). Dentro deste sistema tático é possível conter dois volantes no papel. Papéis esses entregues a Wijnaldum e Henderson, visto que Fabinho continuava a não dar as repostas regulares de alto nível.
Agora estamos em Dezembro e Fabinho já começara a ter sinais muito positivos com e sem bola, se destacando pela imposição física aliada ao alto poder de recuperação e antecipação e na forma como invertia os lados do jogo. Posto isto, podia então ser um complemento com Jordan Henderson no duplo-pivot, tendo o capitão um estilo de melhor retenção e gestão da posse, passe curto (embora também tenha capacidade para o longo e mudança do centro de jogo), leitura das jogadas para ganhar sobras e antecipar lances.
Contudo, este desenho tático do 4-2-3-1 apresentava um grave problema na transição defensiva do time e, a espaços, até na consequência de como o bloco respondia no ganho da posse de bola. Um dos motivos dos quais Klopp gosta bastante de atuar em 4-3-3 está ligado à possibilidade da sua equipa poder contra-atacar sempre com 3 jogadores pelo posicionamento adiantado do trio infernal. Ora, com Xherdan Shaqiri e Sadio Mané recompondo as respetivas alas, as saídas rápidas já tinham maiores condicionamentos: primeiramente pelo posicionamento natural de ter que defender um corredor menos protegido do que se o fizesse com 3 meias; segundo pelo desgaste físico de subir e descer constantemente; e por último devido às características de Shaqiri, que não faz transições longas por ser um jogador mais ‘’pesado’’. Às tantas, a ânsia para atingir o gol era tanta que, aquando a perda da bola, se o adversário conseguisse tirar a bola da primeira zona de pressão criada pelos da frente, o time ficava exposto e tendo que defender em 4+2.
No dilúvio de Klopp, Peter Krawietz, Pep Lijnders e os demais, o regresso ao sistema tático base precisava de ser feito. Todos os modelos de jogo têm que ter como premissa principal, o equilíbrio. No entanto, o 4-3-3 abriga somente um volante (no caso do Liverpool é mais adequado falar em meio-campista central) e o desempenho de Fabinho continuava a subir com o brasileiro ganhando cada vez mais preponderância nas dinâmicas da equipe. Por outro lado, além de Henderson ostentar o posto de capitão e todos os que frequentam o vestiário falarem num líder nato, tem também um peso tático na forma como os Anfielders executavam a sua proposta. Em organização ofensiva, por exemplo, Henderson quando comparado a Fabinho, oferece garantias de uma circulação mais segura e a equipe respira mais o seu jogo, sendo o brasileiro de mais choque e superioridade no ritmo alto.
Embora os meio-campistas do Liverpool tenham trabalhos similares no que toca a combatividade, coberturas e compensações, é diferente jogar mais centralizado e atuar mais por fora (interior). Quem joga no corredor central tem mais tarefas de cobertura e vigilância porque ocupa um espaço vital do campo. Já o interior (direito ou esquerdo) executa mais saídas de pressão ao portador, mais e maiores deslocamentos no campo, ou mais penetrações e rupturas em fase ofensiva porque entra como um ‘’apoiador’’ ao ataque.
Fabinho ganhou o lugar e Henderson começou alguns jogos como reserva utilizado. Pouco tempo depois, o capitão começou jogando como interior direito, assim como jogava com Brendan Rodgers em 2013/14. O Henderson de 2013 não era o mesmo destes dias. Pelo menos desde 2017 que se tinha fixado como um outro tipo de meia. Como dito anteriormente, centralizado, mais posicional, pesado sem tantos movimentos verticais com e sem bola, pois o corpo responde de forma diferente e o psicológico pensa o jogo de outra maneira. Para surpresa (ou não), o camisa 14 falou abertamente que tinha dito a Jürgen Klopp que estava disponível para jogar noutras funções. E, presumindo, o técnico alemão não foi de modos e resgatou a antiga essência de Henderson.
A resposta foi gradualmente positiva e Henderson disparou até ao final da temporada com exibições notáveis. Jogando mais perto da área podia fazer uso do seu poder de cruzamento. A presença dos homens da frente estava fortificada com o capitão pisando com tudo em zonas de finalização. Aos poucos foi se soltando e se destacando pelos movimentos de ruptura entre o zagueiro e o lateral adversário. Fá-lo como poucos, pois percebe exatamente o momento em que é possível infiltrar naquele buraco.
Movimento tal mezz’ala que é indefensável, pois obriga o zagueiro a tomar uma decisão prejudicial: ou acompanha Henderson para a bola não entrar nas costas da defesa e assim é obrigado a sair da posição e não ser um elemento de cobertura ao lateral; ou permite a bola entrar e Henderson cruza livremente. Independentemente de tudo, todas as ações têm uma reação.
Mais importante de tudo, mesmo que Henderson estivesse desempenhando coisas diferentes do que fazia como 1º homem de construção (agora é mesmo o 3º homem), poder contar com Fabinho e Henderson no meio-campo a 3 solidificou imenso o bloco dos reds e trouxe maior liberdade ao trio atacante. Jordan Henderson não tem o deslocamento dos restantes interiores do elenco e isso é um problema quando falha os timings do pressing, mas compensa na leitura e antecipação dos mesmos.
Perante todos os desafios que a temporada e a vida pessoal lhe deu, ”Hendo” deu uma reposta à altura da sua força mental e o final desta história termina vitoriosa, em que o troféu da Liga dos Campeões é o menos importante para o sucesso de alguém. A redenção de Jordan Henderson, o Skipper.
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