Com recordes e ajuda da tecnologia, Julian Nagelsmann acena para o futuro
Aposentadoria precoce fez com que Julian Nagelsmann se formasse como técnico em 2015. Hoje, disputa o título da liga e elimina José Mourinho da Champions
Julian Nagelsmann se destacou nas categorias inferiores enquanto buscava se tornar jogador. Atuando pelo Augsburg, o então zagueiro era sempre elogiado. Ex-colega de jogadores como Fabian Johnson, do Borussia Monchengladbach, dos irmãos Lars e Sven Bender e de Julian Baumgartlinger, do Bayer Leverkusen, era questão de tempo para que ele chegasse à Bundesliga. Devido a problemas congênitos nas costas e o risco de sofrer osteoartrite nos joelhos, porém, o sonho próximo foi por água abaixo, obrigando-o a se aposentar aos 20 anos.
Hoje técnico do Paris Saint-Germain, Thomas Tuchel foi responsável por manter Nagelsmann no futebol. Ao saber da história, o treinador do Augsburg ofereceu a oportunidade de o jovem continuar no clube como parte do Núcleo de Inteligência da segunda equipe. Sua tarefa se basearia em analisar partidas e jogadores. Julian não somente aceitou o convite, como se formou em Ciência do Esporte.
Lapidado no Augsburg II, recebeu o convite para ser assistente da equipe sub-17 do TSV 1860 München, onde atuou nas categorias de base. Duas temporadas bastaram para que, no ano de 2010, se transferisse ao Hoffenheim com o mesmo cargo. Durante o período, Karl-Heinz Rummenigge, presidente do Bayern München, se interessou pelo trabalho do alemão. Depois de se reunir com o dirigente, Matthias Sammer, diretor-desportivo, e Pep Guardiola, então técnico da equipe, Nagelsmann optou pela permanência, aguardando uma chance no Hoffenheim.
Evoluindo a cada temporada e com o sentimento de que seria valorizado, Julian, em 2015, se formou como treinador. Um ano depois, o técnico Huub Stevens se demitiu precocemente da equipe principal por problemas cardíacos. Aos 28 anos, o jovem realizara seu sonho de infância, se tornando o técnico mais novo da história da Bundesliga.
O reconhecimento para Julian Nagelsmann
Nagelsmann precisou de dois anos para ser devidamente reconhecido. Na primeira temporada, elevou o nível do time e se livrou do rebaixamento, além de vencer o prêmio de melhor treinador de 2016 pela DFB. No ano seguinte, teve a chance de colocar, de fato, suas ideias em prática, levando o Hoffenheim à primeira Champions League de sua história.
Obviamente, passou a ser acompanhado de perto. Conhecido por ser perfeccionista, adotou a invejável pressão pós-perda como característica principal. Além do mais, privilegiou a posse de bola, ainda que sempre de forma verticalidade. Intensidade constante para defender e atacar. Embora com ideias como qualquer outro técnico, Nagelsmann não morre com elas. O intuito é sempre adaptar-se ao adversário. O treinador chegou a essa conclusão acompanhando nomes que o inspiram, como Pep Guardiola, Arsène Wenger, Jürgen Klopp e Thomas Tuchel. Todos eles propositivos.
Julian entende que o ser humano precisa ser posto em primeiro lugar. Para ele, o papel do comandante é composto 30% de tática e 70% de competências sociais. “Você não pode ser muito autoritário, tem que tentar trazê-los para o seu lado”, revelou em entrevista ao jornal The Times.
Hoje destaque do Bayern, Serge Gnabry deu um exemplo sobre o trato do treinador com seus atletas. O jogador surgiu como joia do Arsenal ainda em 2012, mas nunca rendeu o esperado. Passou por West Bromwich e Werder Bremem até chegar ao Hoffenheim a pedido de Nagelsmann. “Ouvi dizer que ele melhora os jogadores e foi o que aconteceu comigo. Ele continuou me empurrando o tempo todo. Houve uma enorme quantidade de feedback e o treinamento foi ótimo. Ele realmente mudou a maneira como eu vi o jogo e me ensinou a me analisar muito mais”, relembrou Gnabry.
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Além das competências sociais, o alemão sempre se destacou pela inteligência tática e treinamentos tecnológicos. Durante o seu período em Sinsheim, solicitou drones, câmeras, torres e um telão. O motivo? Filmar todo o treino em tempo real para favorecer o entendimento dos atletas e melhorar o posicionamento do time.
Sua trajetória meteórica intrigou toda a Europa. Após a saída de Zidane, o Real Madrid acabou se interessando pelo jovem de Landsberg. Nagelsmann, porém, decidiu não aceitar: “Eu quero melhorar. Se você vai ao Real Madrid, não há tempo para melhorar como treinador. Você não tem a chance de se tornar um treinador melhor, você já tem que ser o melhor”, explicou ao Independent.
Por outro lado, não hesitou em aceitar a proposta feita pelo RB Leipzig, clube com métodos semelhantes aos do técnico: “Eles realmente lutaram por mim. Eles me ligaram um ano antes de e quando me queriam e me disseram por que e como funcionaria. No dia seguinte, havia um contrato no meu e-mail, apenas 20 horas depois de conversarmos, e isso não é normal”.
Sob o comando da nova equipe, o alemão já faz história. Atual terceiro colocado da Bundesliga com 50 pontos, o Leipzig disputa o título contra os poderosos Bayern e Borussia Dortmund. Pela Champions League, eliminou o Tottenham e tornou-se, com 32 anos e 231 dias, o técnico mais jovem da história do torneio a superar um mata-mata.
Fora de campo, imagina-se que técnicos não gostem de conversar entre si, tampouco para falar de estratégias. O amigo de Guardiola, pelo visto, discorda: “Pep é o único a quem às vezes posso perguntar sobre o conteúdo de como ele vê algo. Envio algumas cenas de nossos jogos em vídeo e lhe digo minha solução. Então, ele responde honestamente, e nós discutimos”, revelou, ao Bild, o técnico do Leipzig.
Ainda jovem, Julian caminha para ser um dos grandes nomes do futuro. O técnico não esconde suas pretensões. Em breve, pretende trabalhar na Premier League ou em La Liga. Considerando sua capacidade e elogiáveis feitos, é tudo questão de tempo.
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