Líder, Vítor Pereira vai ganhando tempo no Corinthians
Buscando um melhor rendimento coletivo, o Corinthians vai somando pontos que dão tranquilidade pra Vítor Pereira.
Líder do Brasileirão, do seu grupo na Libertadores e evoluindo gradualmente, o Corinthians está deixando seu torcedor esperançoso. Depois de muita turbulência nos primeiros 40 dias de trabalho de Vítor Pereira, com derrotas em clássicos, eliminação no Paulistão, um revés assustador contra o desconhecido Always Ready-BOL e ameaças da torcida, as última semanas foram mais tranquilas no Timão. Acomodando algumas peças e potencializando outras, o português vai garantindo resultados fundamentais para ganhar tempo.
A palavra “tempo”, inclusive, é a chave para qualquer avaliação sobre o trabalho de VP. Técnico português de nacionalidade, formação e conceitos, enxerga o jogo de maneira coletiva, busca formar equipes agressivas com e sem bola, que mordam o tempo todo, acelerem as jogadas e dominem os espaços principais do terreno de jogo. Contudo, o elenco alvinegro, apesar de muito talentoso, não “casa” com essa ideia por não oferecer o rendimento físico necessário para a execução do modelo. Além dessa dissonância, não há tempo para treinar e desenvolver os conceitos do treinador, o que torna impossível uma evolução rápida do trabalho. Portanto, Vítor Pereira está liderando um processo de evolução mais lento, gradual, mas que começa a aparecer.
Começando pela fase ofensiva, devido a promessa de uma equipe focada no ataque, alguns conceitos foram implementados logo de cara: dois jogadores sempre bem abertos e uma saída de bola com três jogadores (dois zagueiros + um lateral ou meio-campista). Nos primeiros jogos, Vítor manteve a ideia do interino Fernando Lázaro e deixou os jogadores mais soltos em campo, com trocas de posição e aproximações em todos os setores. Aos poucos, vemos um time um pouco mais posicional, no qual determinados espaços do campo devem estar sempre ocupados para criar linhas de passe e manipular a marcação adversária.
Para além dos conceitos, com bola rolando, o sistema ofensivo ainda não joga com a naturalidade necessária. A ocupação de espaços não está totalmente compreendida e as interações precisam de maior sincronia: qual a rota de ataque, qual espaço cada movimento de cada jogador visa criar, o momento do passe, o jogo em dois toques… Não houve tempo para a implementação de tudo isso. De qualquer forma, o que mais funciona são as triangulações entre lateral, meia e ponta, algo consolidado desde os tempos de Tite.
Vale pontuar a introdução, com parcimônia, do esquema de três zagueiros ao repertório corintiano. Por vezes adotado com propósitos defensivos, como povoar a grande área ou defender melhor a largura do campo, também permite uma melhor distribuição da equipe no momento ofensivo. Quando joga no 4-3-3, há uma rotatividade grande no meio-campo, variando quem busca a bola atrás, quem sobe, tendo menos ocupação da entrelinha (as costas dos volantes rivais), ainda que o grupo possua mais jogadores habilidosos do meio pra frente. Já o time com o trio de zaga se coloca no 3-4-2-1, com dois volantes à frente dos zagueiros como suporte para a iniciação das jogadas, dois meias perto da área, alas espetados que avançam conforme a progressão da equipe e um homem de frente. As tabelas se tornam mais naturais e perde-se menos tempo com compensações.
Na hora de defender, a idade de alguns jogadores deixam o time mais pesado e menos combativo, dando mais tempo e espaço para a troca de passes do rival. Por outro lado, já vemos uma compreensão melhor do sistema de marcação, os jogadores protegendo o centro do campo, mas com liberdade de deixarem suas posições para pressionar a bola nas laterais para sufocar o adversário. A transição defensiva também tem sofrido, afinal a reação precisa ser rápida e agressividade tem que ser alta, o que é impossível sem o treinamento e agravado pelas características do elenco. Ainda assim, já sabemos que VP quer recuperar a bola o quanto antes e matar os contragolpes na raiz, lá na frente. Se não der, tem que recompor rápido.
A nível individual, vale destacar Jô. Mais magro e veloz, se consolida como uma opção de bola longa, pivô e presença de área. Já Du Queiroz não fica mais limitado ao papel do primeiro volante, que não é o seu, e tem maior liberdade para pressionar na frente e encostar nos jogadores mais ofensivos. Além disso, Maycon vai ganhando ritmo e demonstando sua capacidade de articulação e chegada na área.
O Corinthians está longe do rendimento ideal, mas os bons resultados vão garantindo tempo e tranquilidade para o desenvolvimento do trabalho. Ao mesmo tempo, os principais concorrentes acumulam tropeços. Nessa toada e com o elenco que tem, não é nenhum absurdo imaginar o Timão brigando até o final pelo título.
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