Marco Rose em Mönchengladbach: Ano I
Classificado para a Champions League da próxima temporada, a equipe de Marco Rose foi uma grata surpresa da temporada
No primeiro ano sob o comando técnico de Marco Rose, o Borussia Mönchengladbach foi a grande sensação da Bundesliga em 2019/20. Não apenas pela surpreendente classificação para a próxima UEFA Champions League – considerando o crescimento do Bayer Leverkusen em 2020 -, como também por conteúdo tático apresentado e pelas dificuldades superadas ao longo do percurso. Mesmo com a pouca participação do capitão Lars Stindl (voltando de lesão no joelho) durante o primeiro turno e sem peças importantes como Denis Zakaria, Marcus Thuram e Alassane Pléa nas rodadas finais, o Gladbach terminou a temporada na quarta posição do Campeonato Alemão.
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Porém, antes dessa história começar, vale a introdução de que Marco Rose sempre foi visto como possível sucessor técnico de Ralf Ragnick no Red Bull Leipzig. Até porque ele também é natural da cidade de Leipzig e iniciou sua carreira como jogador e técnico na região. Portanto, sua vida futebolística sempre esteve ligada ao leste da Alemanha. E Rose, antes de partir para o Red Bull Salzburg, fez parte da “escola de treinadores” do Mainz 05 durante a gestão Christian Heidel, responsável por “formar” e lançar técnicos como Jürgen Klopp, Thomas Tuchel e Martin Schmidt.
Além disso, o seu excelente trabalho no Salzburg (campeão da UEFA Youth League, bicampeão austríaco e presença na semifinal da Europa League, em 17/18) o credenciou a assumir o principal projeto futebolístico da Red Bull. No entanto, o Leipzig optou pela contratação de Julian Nagelsmann como comandante técnico para 2019/20. Com isso, Marco Rose partiu para o Borussia-Park e deu início a um dos projetos mais estimulantes do futebol alemão.
A FLEXIBILIDADE TÁTICA DE MARCO ROSE
Na Bundesliga, o Mönchengladbach de Marco Rose rapidamente ficou marcado pela verticalidade, velocidade nas transições, agressividade sem a bola e jogo coletivo para buscar os resultados positivos. Inclusive, ao longo do primeiro turno, o Gladbach liderou o Campeonato Alemão por oito rodadas consecutivas, algo que não acontecia há mais de 40 anos. O dado, considerando o momento em que ocorreu durante a campanha, pode parecer pouco relevante, porém é um detalhe que não deixa de servir como um possível despertar dos potros para os grandes palcos no futuro.
O Borussia Mönchengladbach terminou a Bundesliga com o quarto melhor ataque (66 gols marcados) e terceira melhor defesa (40 gols sofridos).
Além disso, a versatilidade tática do treinador também ficou em evidência. Ele chegou a utilizar diversos sistemas, como o 4-3-1-2 (o losango frequentemente utilizado nos tempos de Salzburg), 5-3-2, 5-2-1-2, 5-3-2, 4-3-3 e o definitivo 4-2-3-1 visto no final da temporada. Foi a partir de então que os funcionamentos coletivos ficaram mais evidentes, estabelecendo o Borussia como um time dinâmico e rico em termos conceituais.
Em fase de iniciação ofensiva, o Mönchengladbach varia entre saídas curtas e diretas por meio de inversões/lançamentos para saltar linhas adversárias. Durante saídas elaboradas pelo chão, o time utiliza um dos meio-campistas nos primeiros passes como “terceiro homem”, na busca por sair tocando com claridade e conectar as principais peças em campo contrário.
Nesta altura, Matthias Ginter e o interior Florian Neuhaus são os protagonistas em iniciação de jogo. Neuhaus, longe de ser espetacular visualmente falando, é o tipico jogador alemão. Sempre muito correto no que se propõe a fazer, é criterioso com a bola nos pés e oferece continuidade ofensiva para sua equipe com passes simples e curtos. Ginter, por sua vez, é responsável por encontrar companheiros entre linhas e/ou procurar o lado contrário ativando o lateral-esquerdo Ramy Bensebaini em projeção. Ainda dentro da ideia de sair desde a base posicional somando passes, o experiente goleiro suíço Yann Sommer também contribui com seu trabalho com os pés e até participa indiretamente em gols da equipe.
Portanto, a partir desta presença de três jogadores em saída de bola, o comportamento ofensivo do Borussia é marcador pela amplitude oferecida através de seus dois laterais, por um meio-campista dinamizando por dentro e com extremos ocupando zonas intermédia (traçando diagonais e rompendo ao espaço nas costas dos zagueiros rivais no caso de Marcus Thuram). Além disso, o time conta com aparições entre linhas por meio do mediapunta Lars Stindl e dos atacantes Alassane Pléa e Breel Embolo.
É impossível falar sobre a temporada do Gladbach e sem comentar os méritos de Marco Rose em relação aos destaque individuais. Afinal, ele recuperou uma boa versão do veterano extremo-direito Patrick Hermann (irregular e perseguido por lesões nos últimos anos), aproveitou toda versatilidade de Jonas Hofmann (dinâmico e associativo em todas as posições que atuou em 19/20) e transformou Breel Embolo em um jogador de muita presença fora da área (importante na ausência de Stindl).
O atacante suíço, antes estagnado no Schalke 04, se adaptou bem atuando como mediapunta, demonstrando finura e leitura para mover-se entre linhas. Como centroavante, sempre foi uma opção segura recebendo jogo direto. A evolução foi fundamental – sobretudo após uma grave lesão no joelho – no encaixe com as outras peças essenciais no ataque borussen: Lars Stindl, Alassane Pléa e Marcus Thuram.
No sistema de Marco Rose, o trio foi responsável por grande parte dos gols do Gladbach durante a temporada exercendo distintas funções. Pléa, o melhor jogador da equipe neste ano, desfrutou de liberdade de movimentos para descer em apoio e ativar o terceiro homem aparecendo nas costas. Jogou e fez jogar, atuou como se fosse um Benzema dos pobres e terminou o Campeonato Alemão com 10 gols e 10 assistências.
Alassane Pléa, Marcus Thuram e Lars Stindl participaram diretamente de 50 dos 66 gols do Borussia Mönchengladbach na Bundesliga.
Já Thuram, que chegou durante na janela de transferências do verão passado, demonstrou muita presença de área e aroma goleador. Porém, ele também foi importante partindo da esquerda para o centro, gerando espaço para as projeções do lateral-esquerdo Bensebaini, e sendo uma ameaça nas transições do Gladbach. Em sua temporada de estreia na Alemanha, o filho do lendário Lilian Thuram anotou em 10 oportunidades e deu outros oito passes decisivos nas 31 partidas realizadas.
Com destaques individuais, conteúdo tático e um futuro promissor, o Borussia Mönchengladbach de Marco Rose agora busca manter o desempenho positivo em 2020/21 e quem sabe surpreender em cenário europeu.
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