Marrony, Talles e a reviravolta do Gigante da Colina

A partir dos garotos de suas categorias de base, o Vasco da Gama subiu de produção no Campeonato Brasileiro 2019

Em meados de abril, a queda de produção do Vasco parecia colocar em risco uma temporada inteira. Começando 2019 com 13 jogos de invencibilidade, o time não conseguiu manter o ritmo e quase sucumbiu. Sim, quase. A ousada decisão de contratar Vanderlei Luxemburgo para o comando técnico tem se provado cada vez mais oportuna. E isso só é possível por resultados que advêm de acertos do treinador.

Decisões precipitadas fazem parte do manual de equipes a caminho da crise. Por vezes, optar por jogadores mais velhos soa como a saída mais fácil — afinal, eles possuem experiência para lidar com situações adversas. No Gigante da Colina, a execução segue o contrário: a equipe carioca tem colocado times titulares com a menor média de idade do Campeonato Brasileiro.

Sem perder há cinco jogos, o Vasco reagiu, deixou a zona de rebaixamento e, hoje, se permite sonhar com uma vaga no G6. Sem contar que, no segundo turno, é o time de quarta melhor campanha. Tudo isso com escalações jovens, principalmente para o padrão da Série A, sem exceder a média de 27 anos. A causa disso? A confiança que Luxa tem dado a jogadores como Bruno Gomes, Ribamar, Marrony e Talles Magno.

Os dois últimos são os símbolos da reviravolta. Nos sete jogos em que iniciaram juntos, saíram vitoriosos em quatro, um aproveitamento de 62% — significativo se comparado aos 45% do Vasco no Campeonato.

VERSÁTIL E MÓVEL

Marrony, 20 anos, já havia apresentado algumas de suas cartas no ano passado. Entretanto, é sob o comando de Luxemburgo que o atacante mostra que, mesmo jovem, pode ser protagonista. Não à toa, é quem mais finaliza, mais dribla e mais cria chances, quantitativamente, na equipe carioca. Sua versatilidade permite que atue como um extremo pela esquerda — onde melhor tem atuado — ou na referência do ataque, oferecendo diferentes potencialidades ao time.

Marrony é um dos jogadores que mais atuou pelo Vasco em 2019 (Foto: Rafael Ribeiro/Vasco da Gama)

Em um Vasco ciente de suas limitações, preocupado em ter um sistema de defesa sólido, Marrony tem nos cenários de transição ofensiva a chance de se destacar. Assim tem o feito, em 20 jogos no Campeonato Brasileiro, por sua capacidade de conduzir, acelerar, driblar e arriscar passes na direção do gol, sempre com a perna canhota.

Na vitória mais recente, contra o Internacional, foi o melhor em campo. Acionado diversas vezes em contra-ataques, terminou a partida com quatro dribles certos, três assistências para finalização e, claro, um gol. No mesmo jogo, também apresentou suas valências posicionais: no 4-2-3-1 de Luxa, começou como um extremo pela esquerda e, na meia hora final, foi o atacante centralizado, sempre sendo um perigo em campo aberto.

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Mesmo em velocidade e bem marcado, Marrony não deixa de levantar a cabeça para encontrar o passe ideal durante o contra-ataque

Para que a popular comparação com Rashford faça cada vez mais sentido, Marrony precisa evoluir em alguns aspectos. Apesar de ser o vascaíno com mais finalizações a gol na Série A, arriscando, em média, 1,5 vezes a gol por jogo, balançou as redes apenas em duas oportunidades. A boa marca de cinco gols em 16 partidas no Carioca não foi amplificada no restante do ano. O chute é o fundamento que falta para que suba um degrau, visto que seus números de passes chaves e dribles certos (1,2 e 1,8 por jogo, respectivamente) são acima da média para jogadores de sua idade e função.

O MÁGICO?

De nada serve a intrepidez se não há qualidade. Aos 17 anos, Talles Magno não tem vergonha dentro de campo, o que é louvável. Contudo, o que o destaca, ainda que tão jovem, é o refino dos seus toques. O arrojo do jogador já rendeu belos lances, como a carretilha contra o Fortaleza e a entortada em Juanfran — mas, principalmente, tem entregue ao Vasco o descontrole que pode romper a equipe rival.

Imprevisível (Foto: Carlos Gregório Jr/Vasco da Gama)

Dos apelidos de Talles Magno, talvez o melhor seja Talles Mágico. Lançado por Luxa e, aos poucos, se firmando como titular, o jogador atua aberto pela esquerda como um ponta construtor. É veloz, ainda que alto, e trabalha muito bem com a perna direita, cortando para dentro sempre que possível e abrindo espaço para as investidas do lateral Henrique. Em 15 jogos (12 como titular), são dois gols e uma batelada de adversários fintados. Com praticamente três dribles certos por jogo, já está entre os líderes do quesito no país.

No momento, Talles está com a seleção sub-17 na disputa da Copa do Mundo da categoria. Inclusive, se faz presente na magnífica lista de Caio Nascimento, publicada ontem no Footure, com as dez principais promessas do torneio.

Locais em que Talles acertou dribles na vitória diante do Fortaleza. De cinco tentados, foram quatro certos. Um deles, a lambreta, culminou na expulsão do adversário

A impetuosidade com que atua traz certezas para Luxemburgo, e lamentações por sua ausência durante o campeonato com a seleção. Ainda que o treinador varie os esquemas, ter Talles aberto na esquerda é essencial para que o Vasco tenha a carta do desequilíbrio. Junto de Marrony, o jogador oferece respiros à equipe e, sobretudo, esperanças de um futuro frutífero ao Vasco e, por que não, ao futebol brasileiro.

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