O caminho da Seleção, as mudanças de Tite e um norte para o Catar
Com a próxima Copa do Mundo batendo na porta, o Brasil de Tite parece cada vez mais pronto como equipe e perto de um elenco formado.
Com um novo ciclo sendo iniciado pós-Copa de 2018, a Seleção Brasileira parecia sofrer de algo já há algum tempo comentado: a falta de opções para o ataque e a necessidade de renovações em todos os setores do campo. Na primeira convocação após a eliminação contra a Bélgica nas quartas da Copa do Mundo de 2018, algumas nomes surgiram como novidade, como o zagueiro Dedé (atleta do Cruzeiro à época), Lucas Paquetá, Arthur (hoje na Juventus), Andreas Pereira, Everton Cebolinha, Pedro (Flamengo) etc.
Com o título da Copa América em 2019 e algumas caras novas (Militão, Richarlison, David Neres etc) ficava cada vez mais claro o processo de remodelagem da equipe e oportunidades para novos atletas, ainda que sob muitos questionamentos. Ao caminhar das eliminatórias para a Copa de 2022, e um desempenho em alguns momentos aquém, somado ao vice-campeonato da Copa América 2020 (disputada em 2021, devido a pandemia do Coronavírus) para o maior rival e em solo brasileiro, críticas tornaram-se o “novo normal” do Brasil. Desde ao treinador, e ao o seu suposto pragmatismo e falta de critério nas convocações, à geração em si, como desequilibrada e sem jogadores de classe mundial, como o seu maior disparate técnico: Neymar.
As mudanças de esquemas de Tite
Sob pressão e necessitando de um novo modelo de jogo, não para agradar a mídia em geral, e sim para que voltasse a ter uma equipe que desempenhasse mais do que vinha mostrando, Tite apostou em uma espécie de 4-4-2 com dois médios que soubessem circular e acelerar, quando estivessem com a posse (Fred e Casemiro/Fabinho). Enquanto dois meias, que ou partiam de fora pra dentro (Lucas Paquetá), ou garantiam amplitude e 1×1 (Gabriel Jesus foi testado e Raphinha também), aliados a um 9 de mobilidade e desmarques (Gabriel Jesus, que também jogou nesta função, e Gabriel Barbosa) e Neymar livre para circular por todo o campo.
Ao mesmo tempo, o Brasil tornou-se mais agressivo e preocupado em recuperar a posse logo após a perda. A partir disso justifica-se a presença de dois médios como Fred e Casemiro (por vezes Fabinho), todos com capacidade de pressionar diretamente (roubando bolas e desarmando) e indiretamente (coordenando a pressão e direcionando o adversário para um local do campo), além da capacidade física (força para os duelos, equilíbrio, resistência etc) e mental (concentração, obediência tática, caráter competitivo etc). Além dos meias de lado que são os responsáveis pela pressão, perseguição do adversário e auxílio aos laterais do seu setor, enquanto os dois homens de frente saltam pressão nos zagueiros, ou “guardam posição” quando postados em bloco médio.
Fred como ponto de virada e equilíbrio do meio campo
O médio do Manchester United por vezes muito questionado na Seleção, prova-se jogador fundamental no esquema de Tite, onde o mesmo é responsável direto pelos saltos de pressões, quando em bloco alto, e incômodo a todo tempo ao portador da bola. O contrário de Gérson (ex-Flamengo e agora Olympique de Marseille), também candidato à vaga de camisa 8 e que iniciou alguns jogos como titular, que apesar de um bom trato com a bola e refino técnico, mostra-se pouco combativo e agressivo no momento sem a bola, tendo sérias dificuldades em recuperar a posse, ou de coordenar a pressão.
Além da capacidade de circular a posse e acelerar o jogo quando necessário, entregando passes de ruptura, variação de corredor e um excelente jogo sob pressão, já que possui bastante agilidade (apesar da falta de ambidestria).
Quem se pôs de vez como postulante e quais vagas estão em aberto para a Copa do Catar
O Brasil finalizou mais uma Data-Fifa e apresentou que há uma base bem sedimentada para a convocação para a próxima Copa do Mundo, entretanto algumas lacunas que antes seriam dúvidas agora parecem já estarem preenchidas.
Raphinha, Antony e Vinicius Jr. representam as novas “grandes descobertas” da Seleção. Todos, com suas peculiaridades, representam uma figura que aparentava estar adormecida na nossa cultura: o ponta habilidoso e com a alma do futebol de rua, são capazes de entregar largura ao campo e ao mesmo tempo profundidade, velocidade em transições e muita vantagem nas situações de 1×1. Raphinha (quem melhor aproveitou a oportunidade) além de tudo isso, apresenta feição a participações diretas em gols, onde nos seus primeiros três jogos somou 2 assistências e 2 gols.
Para além do ataque, Lucas Veríssimo e Éder Militão se consolidaram como uma dupla reserva de luxo na defesa, considerando que Marquinhos e Thiago Silva sejam titulares no time ideal. O central do Benfica em sua primeira temporada na Europa ganhou protagonismo ao entregar solidez e equilíbrio a uma defesa insegura dos encarnados, e na Seleção demonstrou muita concentração e personalidade, como sempre demonstrou nos tempos de Santos. Já Militão assumiu a dura responsabilidade de substituir Sérgio Ramos no Real Madrid e tem entregado um desempenho bastante satisfatório com os merengues, assim como no Brasil onde consegue aliar sua segurança limpando a área, com velocidade e noção de espaço controlando profundidade.
Entretanto há vagas a serem preenchidas, como na lateral esquerda, onde não se sabe em que nível Alex Sandro (atual titular) estará até 2022 e Guilherme Arana (reserva nas últimas partidas) ainda não ter se provado no mais alto nível de competitividade. Há também disputa para as posições de ‘camisa 8 e 9’, com Bruno Guimarães, Edenilson, Gérson e Douglas Luiz brigando por uma vaga (como volante) e Gabriel Jesus, Gabriel Barbosa, Matheus Cunha, Arthur Cabral, Roberto Firmino e Richarlison brigando pelas vagas de atacantes.
Sendo assim, em um ciclo de três anos, Tite remodelou e ainda busca a roupagem ideal de toda uma Seleção, desde esquemas de jogo e estratégias à composições de elenco. Dessa forma, o Brasil segue em direção ao Catar do jeito que começou, competindo e vencendo acima de tudo.
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