O ORGANISMO VIVO DE NAGELSMANN
Por @viniciusof Quem acompanhou futebol alemão na última temporada provavelmente se surpreendeu com o Hoffenheim do jovem técnico de 30 anos Julian Nagelsmann. Junto com o vice-campeão RB Leipzig, o Hoffe foi a sensação da temporada. A equipe que entra em campo nesta tarde contra o Liverpool pela UEFA Champions League se notabilizou sobretudo pela solidez […]
Por @viniciusof
Quem acompanhou futebol alemão na última temporada provavelmente se surpreendeu com o Hoffenheim do jovem técnico de 30 anos Julian Nagelsmann. Junto com o vice-campeão RB Leipzig, o Hoffe foi a sensação da temporada. A equipe que entra em campo nesta tarde contra o Liverpool pela UEFA Champions League se notabilizou sobretudo pela solidez defensiva (segunda melhor defesa do torneio) e rápidos contra-golpes.
Este foi o time base na maior parte do campeonato. Nagelsmann estruturou com sucesso uma linha de 5 marcadores antes mesmo de Conte lançar moda na Inglaterra. Os alas Toljan (ou Kadeřábek) e Zuber garantiam amplitude e profundidade necessárias para atrair o adversário pelas bandas e retirá-lo do centro. Eles eram guarnecidos pelo sólido trio composto por Süle (hoje no Bayern), Vogt e Hübner. À frente da linha de 5, um trio composto pelo jovem Amiri na direita, um destaque sobretudo na transição ofensiva, o chamado “elemento surpresa”; Rudy (também vendido ao Bayern) pelo centro, como um volante defensivo; e Demirbay, que se notabilizou pela precisão do passe e arremates de longa distância. À frente a força de Sandro Wagner se completava com a agilidade e o oportunismo de Kramaric. Wagner é um ponto chave para modelo. Faz uso de sua privilegiada estatura (1m94) para reter a bola e aguardar o avanço de seus companheiros, bem como arrastar marcadores para que apoiadores ou até mesmo alas ocupem o espaço vazio. Da equipe acima, não estarão presentes nesta temporada Niklas Süle, provavelmente substituído por Bicakcic ou Nordtveit, e Rudy, que deve perder posição para Polanski.
VOGT
Contratado junto ao Colônia em 2016 como um volante, Kevin Vogt foi convertido a central por Nagelsmann. Como uma espécie de líbero, tornou-se crucial para o modelo imposto pelo treinador. É um jogador que tem autonomia para escolher a melhor forma de atacar; seja ligando o ataque por cima, ou iniciando pelo solo com os volantes. Abaixo um gráfico de influência de passes, o chamado passmap, produzido pelo @11tegen11 na partida diante do Borussia Dortmund. É possível perceber a influência de Vogt e sua interação com praticamente todos seus companheiros.
A transição ofensiva rápida foi uma marca sobretudo no segundo semestre da equipe, onde Naigeslmann viu como alternativa ao seu jogo posicional interno, a ligação direta de Vogt para os alas em profundidade. Neste caso o defensor não se livra da bola, ou tampouco “ligação direta” foi citado pejorativamente. Trata-se de um padrão de comportamento que integra o plano de ações ofensivas, não uma reação do zagueiro à pressão adversária. Repare no vídeo abaixo que Vogt sequer está pressionado quando decide pela bola em profundidade. A opção de acionar os alas é uma tentativa de recuar ainda mais as linhas de marcação adversárias, atrair o oponente para as bandas e utilizar (ou não) a faixa central do gramado. O movimento favorece Demirbay, um exímio finalizador de média/longa distância. Graças à precisão do seu arremate, o Hoffenheim foi a equipe que mais gols de fora da área marcou na última edição da Bundesliga.
QUEM PEGA O LATERAL?
Mas quando adversário opta por iniciar a jogada pelo lateral, quem faz o primeiro combate? O ala, o meia-central (ou volante, como queira) ou o atacante? Num sistema de três zagueiros isto tende a variar de fato. E, para estas situações, Nagelsmann tem duas possibilidades:
- Em momentos em que o contexto exige maior agressividade no portador da bola, o ala se desgarra da linha para pressionar o extrema adversário. No lance ilustrado pelo vídeo abaixo, Toljan sai à caça do lateral, Amiri o cobre e os atacantes Wagner e Kramaric ainda brecam as opções de passe de retorno, sitiando completamente o adversário. Brecar a saída de bola com o ala, neste caso, também é uma maneira de poupar o meia-central de deslocamentos laterais longos e desgastantes.
- Mas veja que no caso ilustrado abaixo, contra o Bayern, o mesmo Toljan que antes saiu à caça do lateral adversário, prefere não pressionar a bola, se mantém alinhado aos defensores para não deixar Coman no “mano” com Sule. Quem faz a marcação é Amiri – movimento repercutido por Rudy e Demirbay, que o acompanham, “rondando” o tripé.
UMA FORTALEZA DEFENSIVA
Não raro Rudy entra na área e se posiciona como um zagueiro, compondo uma linha de seis (frame abaixo). Como resultado de tamanha superioridade numérica numa zona terminal do campo, a equipe sofreu apenas dois gols de cabeça em toda Bundesliga passada. O menor índice dentre todos os participantes.
No vídeo abaixo vemos uma exemplificação bastante clara da cobertura que fez da equipe a segunda menos vazada do campeonato. O ala esquerdo Zuber sai à caça de Robben, mas é driblado. Hubner então é obrigado a “sair da casinha” e parar o holandês, mas não consegue. Então é a vez de Vogt deixar seu posto para frear o adversário. Enquanto assistia tudo isso acontecer, Rudy tomou a decisão de cobrir o espaço por Vogt. Tudo em muita velocidade e precisão. Atletas estimulados a tomar decisões precisam ter, sobretudo, velocidade de raciocínio.
O Hoffenheim é uma equipe extramamente bem treinada, que responde rápido a quase todos os problemas impostos pelo adversário e tornou-se letal nas transições ofensivas. Manteve a base do seu elenco e por isso é bom observá-la de perto.
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