O que acontece com o Ceará no Brasileirão?
Em seu quarto técnico na temporada, Ceará vive momento de maior dificuldade no ano e passa sufoco para permanecer na Série A.
Os dois primeiros jogos do Ceará sob o comando de Lucho González deram a sensação de que o Vozão não sofreria tanto para permanecer na Série A. O empate por 1 a 1 contra o Flamengo no Maracanã e a vitória sobre o Santos no Castelão, acabaram por ser os últimos bons resultados da equipe cearense, que amarga uma sequência de oito jogos (mais de 40 dias) sem vencer, tendo somado três pontos em 24 disputados nas partidas mais recentes.
No primeiro trabalho de sua carreira, Lucho tem dez jogos, uma vitória, quatro empates e cinco derrotas pelo Ceará e viu o time despencar para o 16° lugar, um ponto acima da zona do rebaixamento. Por que os resultados são tão ruins? A culpa é do treinador argentino?
A resposta óbvia é “sim”. Vemos um Ceará com alguma forma tática e noções básicas do modelo de jogo, mas sem executar com fluidez, com qualidade e carente de diversas soluções coletivas para, de fato, podermos considerar o trabalho bom. Entretanto, o contexto do clube mostram que o treinador é somente a ponta do iceberg e o quanto ele têm seu trabalho dificultado pelo momento do Vozão.
Para começo de conversa, Lucho González é o 4° técnico do Ceará em 2022. No início do ano, Tiago Nunes não conseguiu bons resultados na Copa do Nordeste e no Campeonato Cearense e foi desligado. Em seguida, Dorival Jr assumiu e montou uma equipe forte na pressão no campo de ataque e muito veloz, porém aceitou proposta do Flamengo. Por sua vez, Marquinhos Santos tentou manter muito do que seu antecessor havia desenvolvido, mas a irregularidade ao longo do ano o desgastou até sua demissão.
Há pouco menos de dois meses no clube, Lucho tenta implementar suas ideias sem modificar as qualidades já existentes no jogo coletivo da equipe. Ofensivamente, a intenção passa por ter a posse de bola, mas utilizá-la para criar lances de velocidade, explorando os laterais ou acionando Jô, a fim de que o centroavante faça o pivô ou dê uma casquinha na direção de Mendoza, responsável por realizar corridas nas costas da zaga rival.
Existe uma preocupação em grande em ocupar todos os corredores, deixando laterais ou pontas bem abertos pelos lados e dois meias, pelo menos, próximos ao centroavante para facilitar a briga pela segunda bola e as tabelas por dentro. Utilizando um sistema de três zagueiros nos últimos jogos, no entanto, o Ceará teve muitas dificuldades de aproveitar todos os corredores, rodando a bola devagar e com poucos desmarques, poucos atletas passando da linha da bola para criar espaços. Assim, os alas pouco chegavam ao fundo, não havia jogo por dentro e só a casquinha de Jô criava algo.
De volta ao 4-2-3-1 e um meio mais preenchido no 2° tempo contra o Atlético-GO no último domingo, o time teve mais linhas de passe por dentro, interagiu mais com Jô e teve os pontas mais liberados para infiltrações na grande área, uma vez que a necessidade de contribuir com jogadas no centro do campo diminuiu. Na parte defensiva, a equipe protege bem a faixa central, porém os zagueiros sofrem com passes em profundidade do rival, porque ainda não pegaram o ritmo do encaixes individuais pedidos pelo treinador.
O que vemos no Ceará são algumas ideias ainda mal executadas. Um modelo de jogo nada mais é do que o conjunto de comportamentos coletivos padronizados em uma equipe. Contudo, para que algo se torne um padrão, um hábito, é necessário treinamento e repetição. Quando o clube está no quarto treinador e no quarto método de treino diferentes, logo em uma fase de maior desgaste físico e mental na temporada, a dificuldade é bem maior.
Além disso, o Ceará é um time muito fragilizado. Sem nenhuma confiança, toma gols por erros bobos na defesa e perde chances incríveis por falta de tranquilidade. O Vozão precisa de uma vitória para aliviar a pressão e ganhar tempo para evoluir. Os poucos padrões estabelecidos na equipe, a qualidade individual de alguns bons jogadores e muita mobilização podem ser suficientes para a permanência na Série A.
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