O TRONO REAL É VERDE E AMARELO
Por Camila Aveiro Lima O Brasil venceu a Itália e se classificou como um dos melhores terceiros colocados, avançando as oitavas de final da Copa do Mundo. A vitória não só nos garantiu na próxima fase como também consagrou Marta como a rainha de todas as Copas. Com o gol marcado de pênalti, a nossa […]
O Brasil venceu a Itália e se classificou como um dos melhores terceiros colocados, avançando as oitavas de final da Copa do Mundo. A vitória não só nos garantiu na próxima fase como também consagrou Marta como a rainha de todas as Copas. Com o gol marcado de pênalti, a nossa camisa 10 ultrapassou Miroslav Klose se tornando a maior artilheira da história da competição com 17 gols, um a mais que o alemão.
Enfrentaremos as donas da casa, a poderosa França de Corinne Diacre, domingo, às 16 horas. Mas antes de pensarmos no próximo passo, voltaremos ao jogo contra a Itália para analisar taticamente o confronto e pontuar algumas preocupações, principalmente no momento defensivo brasileiro.
Como falamos no pré-jogo no Twitter, a partida trouxe duas Seleções com características semelhantes: marcação individual por zona (a dança de pares), cuja referência é minha adversária em função da bola, perseguições longas, poucos passes para verticalizar o jogo (e muitos erros nesse fundamento), saídas em velocidade e exploração dos corredores. Um jogo de alto vigor físico, que cedia espaços para ambas as equipes.
O Brasil começou com um volume ofensivo maior, explorando velocidade, passes mais longos e individualidade pra ganhar confrontos de 1×1 (nesse quesito Debinha foi destaque), mas mostrou dificuldades em preencher o meio-campo com jogadoras para rodar a bola e assim concentramos nossas ações pelos lados, como mostramos no Dossiê Vadão, mas diferentemente do primeiro tempo contra a Austrália faltava apoios à quem tinha a posse de bola:
O maior obstáculo que enfrentamos partiu do entendimento do adversário no jogo: concentração de jogadoras no setor da bola, criando igualdade ou superioridade numérica, fazendo o Brasil esticar mais bolas para sair da pressão adversária.
Dificuldades evidentes em jogos anteriores, minimizadas quando Vadão optou por entrar com o 1-4-1-4-1 diante da Austrália, especialmente no bom primeiro tempo do Brasil naquela partida, que retornaram junto com as duas linhas de quatro brasileira, porém quando conseguíamos acelerar o jogo, com aproximações e mobilidades vencíamos as adversárias, embora ainda estivéssemos a pecar no último passe.
As duas equipes, por modelo de jogo, sentem dificuldade em construir seu ataque desde a base da jogada (seu campo defensivo), principalmente quando o adversário sobe o bloco de marcação e nessa partida não foi diferente. Enquanto a Itália cedia espaços por dentro (foi assim inclusive contra a Austrália), a Seleção brasileira sofria com um problema crônico: as longas perseguições que ao serem vencidas geravam espaços e assim as adversárias chegavam ao nosso gol.
A Itália parou nas boas defesas de Bárbara e no gol impedido anulado pelo VAR, mas os encaixes brasileiros continuam preocupando e gerando boas situações de finalizações as adversárias, porém nesse jogo conseguimos equilibrar as ações. A falta de Formiga foi muito sentida nesse momento, principalmente na relação de cobrir grandes espaços de campo e realizar coberturas constantemente. Boas chances dos dois lados e um empate que ainda nos classificava a próxima fase.
O segundo tempo começou com a Itália marcando em bloco mais alto, fechando mais o centro na tentativa de empurrar o Brasil para as laterais e mesmo com a distância entre as jogadoras brasileiras conseguíamos verticalizar com velocidade, mas sem eficiência e longe de concluir as jogadas.
Um dado estatístico nos preocupava: é na segunda metade do jogo onde o Brasil leva a maioria de seus gols, quando analisamos os cinco jogos antecedentes à Copa do Mundo e o jogo anterior contra as australianas. É possível relacionar esses números com o modelo de jogo, que exige muito fisicamente devido as situações de combate, as perseguições longas pelo campo, velocidade para contra-atacar e algumas corridas para trás buscando recompor as linhas quando a pressão é vencida.
O Brasil também tentava incomodar a Itália e explorar uma de suas debilidades que supracitamos: a saída desde a base. Subir o bloco possibilitava nossas meninas recuperar a bola em campo ofensivo e já partir em velocidade com Ludmila e Debinha pelos lados, além dos bons movimentos de pivô e presença na área de Cristiane.
Andressinha apareceu mais no jogo, especialmente nas bolas paradas, sua especialidade e também conseguiu participar mais da construção ofensiva por dentro. O ritmo do jogou baixou, continuávamos sem aproximações para auxiliar quem estava com a bola, o que não evitava que progredíssemos em campo. É realmente nessa situação que entra o pênalti em cima de Debinha: a bola era tocada de um lado pro outro na defesa brasileira sem muita pretenção de avançar, até que Tamires encontra Marta e rapidamente Debinha parte para atacar o espaço livre na defesa italiana:
Marca história diante dos nossos olhos com o décimo sétimo gol de Marta, se isolando na artilharia da Copa do Mundo. Por conta do saldo de gol da Austrália, que vencera a Jamaica por 4×1, continuávamos em terceiro mesmo com os 6 pontos. Um gol a mais do Brasil e poderíamos subir ao topo, mas não foi o que aconteceu. A Itália não parou de lutar, foi até o último minuto tentando nos atacar e furar as redes de Bárbara, porém sem sucesso.
A vitória de Camarões por 2×1 sobre a Nova Zelândia nos deixou perto da Alemanha, mas o Chile venceu apenas por dois gols de diferença as tailandesas (precisávamos de três ou mais). Vamos encarar a França, favorita ao título, com um modelo de jogo que foge da tendência dessa Copa: é uma Seleção que marca por zona, ou seja, as meninas protegem o espaço em função da bola e por isso não veremos perseguições longas por parte de nossas adversárias, além de gostar de ter a posse de bola e trabalhar desde seu campo defensivo, procurando objetividade para progredir.
Precisaremos de muitos apoios, aproximações e movimentações com e sem a bola pra tentar furar a forte defesa francesa. Defensivamente é preciso ter cuidado com nossos encaixes, pois eles costumam se desestruturar constantemente no campo, cedendo espaços livres para as rivais nos atacar. A boa notícia é a volta de Formiga, líder nesse setor.
Que venham as francesas! Por aqui temos uma das cartas mais altas do baralho: a rainha de copas.
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