O TRONO REAL É VERDE E AMARELO

Por Camila Aveiro Lima O Brasil venceu a Itália e se classificou como um dos melhores terceiros colocados, avançando as oitavas de final da Copa do Mundo. A vitória não só nos garantiu na próxima fase como também consagrou Marta como a rainha de todas as Copas. Com o gol marcado de pênalti, a nossa […]

Por Camila Aveiro Lima

O Brasil venceu a Itália e se classificou como um dos melhores terceiros colocados, avançando as oitavas de final da Copa do Mundo. A vitória não só nos garantiu na próxima fase como também consagrou Marta como a rainha de todas as Copas. Com o gol marcado de pênalti, a nossa camisa 10 ultrapassou Miroslav Klose se tornando a maior artilheira da história da competição com 17 gols, um a mais que o alemão.

Enfrentaremos as donas da casa, a poderosa França de Corinne Diacre, domingo, às 16 horas. Mas antes de pensarmos no próximo passo, voltaremos ao jogo contra a Itália para analisar taticamente o confronto e pontuar algumas preocupações, principalmente no momento defensivo brasileiro.

Como falamos no pré-jogo no Twitter, a partida trouxe duas Seleções com características semelhantes: marcação individual por zona (a dança de pares), cuja referência é minha adversária em função da bola, perseguições longas, poucos passes para verticalizar o jogo (e muitos erros nesse fundamento), saídas em velocidade e exploração dos corredores. Um jogo de alto vigor físico, que cedia espaços para ambas as equipes.

O Brasil começou com um volume ofensivo maior, explorando velocidade, passes mais longos e individualidade pra ganhar confrontos de 1×1 (nesse quesito Debinha foi destaque), mas mostrou dificuldades em preencher o meio-campo com jogadoras para rodar a bola e assim concentramos nossas ações pelos lados, como mostramos no Dossiê Vadão, mas diferentemente do primeiro tempo contra a Austrália faltava apoios à quem tinha a posse de bola:

 

Captura de tela 2019-06-20 16.12.10
Tamires tem a bola, mas só Thaisa aproxima, enquanto a Itália encurrala nossa volante, isolada por dentro.

 

O maior obstáculo que enfrentamos partiu do entendimento do adversário no jogo: concentração de jogadoras no setor da bola, criando igualdade ou superioridade numérica, fazendo o Brasil esticar mais bolas para sair da pressão adversária.

 

Captura de tela 2019-06-20 16.08.14
Mesmo com mais jogadoras brasileiras, a Itália seguia sendo superior. Ludmila deu as costas para Tamires enquanto a linha de passe para Marta era fechada, restando apenas Thaisa livre de marcação, mas novamente cercada por dentro.

 

Dificuldades evidentes em jogos anteriores, minimizadas quando Vadão optou por entrar com o 1-4-1-4-1 diante da Austrália, especialmente no bom primeiro tempo do Brasil naquela partida, que retornaram junto com as duas linhas de quatro brasileira, porém quando conseguíamos acelerar o jogo, com aproximações e mobilidades vencíamos as adversárias, embora ainda estivéssemos a pecar no último passe.

As duas equipes, por modelo de jogo, sentem dificuldade em construir seu ataque desde a base da jogada (seu campo defensivo), principalmente quando o adversário sobe o bloco de marcação e nessa partida não foi diferente. Enquanto a Itália cedia espaços por dentro (foi assim inclusive contra a Austrália), a Seleção brasileira sofria com um problema crônico: as longas perseguições que ao serem vencidas geravam espaços e assim as adversárias chegavam ao nosso gol.

 

 

A Itália parou nas boas defesas de Bárbara e no gol impedido anulado pelo VAR, mas os encaixes brasileiros continuam preocupando e gerando boas situações de finalizações as adversárias, porém nesse jogo conseguimos equilibrar as ações. A falta de Formiga foi muito sentida nesse momento, principalmente na relação de cobrir grandes espaços de campo e realizar coberturas constantemente. Boas chances dos dois lados e um empate que ainda nos classificava a próxima fase.

O segundo tempo começou com a Itália marcando em bloco mais alto, fechando mais o centro na tentativa de empurrar o Brasil para as laterais e mesmo com a distância entre as jogadoras brasileiras conseguíamos verticalizar com velocidade, mas sem eficiência e longe de concluir as jogadas.

 

Captura de tela 2019-06-20 18.36.11
Os encaixes italianos no campo defensivo brasileiro

 

Um dado estatístico nos preocupava: é na segunda metade do jogo onde o Brasil leva a maioria de seus gols, quando analisamos os cinco jogos antecedentes à Copa do Mundo e o jogo anterior contra as australianas. É possível relacionar esses números com o modelo de jogo, que exige muito fisicamente devido as situações de combate, as perseguições longas pelo campo, velocidade para contra-atacar e algumas corridas para trás buscando recompor as linhas quando a pressão é vencida.

O Brasil também tentava incomodar a Itália e explorar uma de suas debilidades que supracitamos: a saída desde a base.  Subir o bloco possibilitava nossas meninas recuperar a bola em campo ofensivo e já partir em velocidade com Ludmila e Debinha pelos lados, além dos bons movimentos de pivô e presença na área de Cristiane.

 

Captura de tela 2019-06-20 18.54.44
Os encaixes brasileiros em campo defensivo italiano.

 

Andressinha apareceu mais no jogo, especialmente nas bolas paradas, sua especialidade e também conseguiu participar mais da construção ofensiva por dentro. O ritmo do jogou baixou, continuávamos sem aproximações para auxiliar quem estava com a bola, o que não evitava que progredíssemos em campo. É realmente nessa situação que entra o pênalti em cima de Debinha: a bola era tocada de um lado pro outro na defesa brasileira sem muita pretenção de avançar, até que Tamires encontra Marta e rapidamente Debinha parte para atacar o espaço livre na defesa italiana:

 

Captura de tela 2019-06-20 19.17.30
Marta recebe passe de Tamires, domina, protege e lança Debinha em projeção.

 

Marca história diante dos nossos olhos com o décimo sétimo gol de Marta, se isolando na artilharia da Copa do Mundo. Por conta do saldo de gol da Austrália, que vencera a Jamaica por 4×1, continuávamos em terceiro mesmo com os 6 pontos. Um gol a mais do Brasil e poderíamos subir ao topo, mas não foi o que aconteceu. A Itália não parou de lutar, foi até o último minuto tentando nos atacar e furar as redes de Bárbara, porém sem sucesso.

A vitória de Camarões por 2×1 sobre a Nova Zelândia nos deixou perto da Alemanha, mas o Chile venceu apenas por dois gols de diferença as tailandesas (precisávamos de três ou mais). Vamos encarar a França, favorita ao título, com um modelo de jogo que foge da tendência dessa Copa: é uma Seleção que marca por zona, ou seja, as meninas protegem o espaço em função da bola e por isso não veremos perseguições longas por parte de nossas adversárias, além de gostar de ter a posse de bola e trabalhar desde seu campo defensivo, procurando objetividade para progredir.

Precisaremos de muitos apoios, aproximações e movimentações com e sem a bola pra tentar furar a forte defesa francesa. Defensivamente é preciso ter cuidado com nossos encaixes, pois eles costumam se desestruturar constantemente no campo, cedendo espaços livres para as rivais nos atacar. A boa notícia é a volta de Formiga, líder nesse setor.

Que venham as francesas! Por aqui temos uma das cartas mais altas do baralho: a rainha de copas.

 

 

 

Compartilhe

Comente!

Tem algo a dizer?

Últimas Postagens

FILIPE LUÍS NO FLAMENGO: ESTRATEGISTA E CAMPEÃO DA COPA DO BRASIL

FILIPE LUÍS NO FLAMENGO: ESTRATEGISTA E CAMPEÃO DA COPA DO BRASIL

André Andrade
ANÁLISE: FLAMENGO X ATLÉTICO-MG NA FINAL DA COPA DO BRASIL – CONFRONTO DE IDA

ANÁLISE: FLAMENGO X ATLÉTICO-MG NA FINAL DA COPA DO BRASIL - CONFRONTO DE IDA

André Andrade
AS TENDÊNCIAS E MUDANÇAS TÁTICAS NO CAMPEONATO BRASILEIRO

AS TENDÊNCIAS E MUDANÇAS TÁTICAS NO CAMPEONATO BRASILEIRO

Douglas Batista
O PROTAGONISMO DE BRAITHWAITE NO GRÊMIO

O PROTAGONISMO DE BRAITHWAITE NO GRÊMIO

Lucas Goulart
OS PONTOS DE EVOLUÇÃO DA SELEÇÃO BRASILEIRA

OS PONTOS DE EVOLUÇÃO DA SELEÇÃO BRASILEIRA

André Andrade
AS FUNÇÕES DENTRO DE UM CAMPO DE FUTEBOL – Análise do futebol Brasileiro

AS FUNÇÕES DENTRO DE UM CAMPO DE FUTEBOL - Análise do futebol Brasileiro

Douglas Batista
Prévia: Os destaques da final do Brasileiro Sub-20

Prévia: Os destaques da final do Brasileiro Sub-20

André Andrade
O impacto de Léo Ortiz atuando como volante no Flamengo

O impacto de Léo Ortiz atuando como volante no Flamengo

Lucas Goulart
Riccardo Calafiori: O defensor destaque na Itália que chega ao Arsenal

Riccardo Calafiori: O defensor destaque na Itália que chega ao Arsenal

André Andrade
Análise de Vitinho: o novo lateral-direito do Botafogo

Análise de Vitinho: o novo lateral-direito do Botafogo

Lucas Goulart
OS DESTAQUES DA PRIMEIRA FASE DO BRASILEIRO SUB-20

OS DESTAQUES DA PRIMEIRA FASE DO BRASILEIRO SUB-20

André Andrade
PALMEIRAS X BOTAFOGO: AS NUANCES DO DUELO DECISIVO

PALMEIRAS X BOTAFOGO: AS NUANCES DO DUELO DECISIVO

Douglas Batista
O trabalho de Fernando Seabra no Cruzeiro

O trabalho de Fernando Seabra no Cruzeiro

Lucas Goulart
Como saem os gols dos artilheiros do Brasileirão

Como saem os gols dos artilheiros do Brasileirão

Douglas Batista
A prospecção do Grêmio ao mercado Sul-Americano

A prospecção do Grêmio ao mercado Sul-Americano

Lucas Goulart