Os desafios de Odair Hellmann no Fluminense
Com o segundo melhor ataque do país, Tricolor ainda tem incertezas na equipe titular. Os bons resultados vêm de ajustes realizados pelo técnico, que ainda busca o melhor encaixe para o time.
A chegada de Odair Hellmann ao Fluminense não foi acompanhada de muitas expectativas. Apesar de o técnico ter atingido bons resultados em três temporadas no Internacional, dizer que seu time era empolgante é forçar a barra. E esse é o sentimento que o elenco atual da equipe carioca carrega, já que não fez contratações de quebrar a banca, nem tem um grupo recheado de estrelas.
No entanto, mesmo com adversidades e alguns maus resultados, o Tricolor está cada vez mais solidificado: em 12 jogos na temporada, já são 9 vitórias e apenas duas derrotas. É o segundo melhor aproveitamento entre as equipes da Série A no ano (74,3%), somente atrás do Flamengo (83,3%).
- SAMPAOLI NO ATLÉTICO/MG: O QUE ESPERAR?
- A FUNÇÃO DA PEÇA CENTRAL NO INTER DE COUDET
- A ESPERANÇA EM FEDERICO MARTÍNEZ
A equipe de Odair Hellmann parece estar funcionando melhor a cada partida, graças a alguns encaixes, forçados ou não, no time titular. Não à toa, nos últimos três jogos, o Fluminense marcou 11 gols e sofreu apenas um. Diferentemente do Inter, o novo time de Hellmann retém a posse de bola, não força saídas longas e, ao mesmo tempo, busca atacar com muitos. O técnico tenta se adaptar ao seu grupo, e os ajustes a cada partida podem torná-lo cada vez mais competitivo.
O que busca o time de Odair Hellmann
Em 2020, o Fluminense tem marcado muitos gols. São 30 tentos em 13 partidas — nove deles de Nenê, o artilheiro até o momento. É o segundo melhor ataque do Brasil, o melhor na média por partida. Para tal, uma das principais armas de Odair Hellmann tem sido a bola parada: 12 gols saíram assim, sendo sete em cruzamentos e cinco de pênalti. Se isso desvaloriza a alta produção ofensiva da equipe? Muito pelo contrário.
Os escanteios, as faltas próximas à área e as penalidades máximas saem porque o volume ofensivo do time permite isso. Partindo de um 4-2-3-1, pelo menos cinco jogadores buscam se aproximar da área em todo ataque. Os extremos fazem o movimento para dentro, principalmente Marcos Paulo (que marcou nos últimos quatro jogos), abrindo espaço para as subidas de Egídio, na esquerda, e Gilberto, do outro lado. O último, inclusive, deu ao menos dois chutes a gol em cinco dos últimos seis jogos.
Com a forte presença dos laterais no ataque, os cruzamentos são constantes. Até agora, 11 gols saíram a partir de cruzamentos, seis deles com a bola rolando. Quando ela está parada, destacam-se as cobranças de Nenê, que miram jogadores fortes na bola aérea, como o zagueiro Luccas Claro, autor de três gols no ano. A produção ofensiva do Flu não vem somente da batida de bola do Nenê: o posicionamento do experiente meia também é um fator que aumenta as oportunidades de gol.
No centro da linha de três, ele tem liberdade para se aproximar do centroavante e arriscar de onde quiser. O meia participa menos da construção e mais da finalização, e isso foi, ao mesmo tempo, a solução e o problema. Se, por um lado, a equipe passou a definir melhor suas jogadas, pelo outro, o papel da criação acabou caindo no colo dos volantes. Dentro disso, uma adaptação de Odair Hellmann tem sido fundamental.
A dupla de meio-campistas
Entre Henrique, Hudson, Yuri e Yago Felipe, somente dois podem ser titulares. A melhor combinação encontrada por Odair Hellmann, até o momento, veio no segundo tempo do jogo contra o Madureira: Miguel entrou no lugar de Yuri, que fazia dupla com Hudson. Com isso, Yago Felipe foi deslocado para o meio, e entregou uma atuação sólida tanto na saída de bola quanto na ocupação do ataque.
Os movimentos pareceram ainda melhor ensaiados na goleada diante do Resende, quando Hudson e Yago foram a dupla titular de meio-campistas. O papel da saída de bola era compartilhado concomitantemente, enquanto, no ataque, os dois variavam as subidas. A figura do meio-campista mais próximo do ataque foi importante para a ideia de povoar as cercanias da área, e aumentou a criação de oportunidades.
Os dois jogadores podem pisar na área, e apresentam qualidade para tal. Hudson, por exemplo, já marcou um gol assim, diante do Madureira, e sofreu um pênalti contra o Resende. Yago Felipe fez o papel de segundo homem no Goiás, o que o credenciou para ser um dos reforços do Flu para 2020. Yuri e Henrique, agora reservas, são meio-campistas que se destacam pela associação curta, mas com menos chegada à frente.
E na frente?
Odair Hellmann admitiu que ainda testa alternativas para o ataque. Um exemplo é o posicionamento de Marcos Paulo: antes jogando como um extremo com menor flutuação, ele passou a pisar mais na área, o que, por consequência, deu início a uma fase artilheira. Na última partida, contra o Resende, foi o centroavante, por conta da ausência de Evanilson. O técnico não descarta testar o último como ponta, para ter Marcos na frente, ainda que ele não tenha, aos 19 anos, o jogo de costas bem desenvolvido.
Na outra extremidade do 4-2-3-1, não há um titular absoluto. O peruano Fernando Pacheco e Wellington Silva dividem seis aparições cada no lado, e o segundo tem se dado melhor: marcou dois gols, um no último jogo. Miguel tem 16 anos, mas já carrega boas atuações no profissional e pode ser uma opção. Mais por dentro, Ganso faz sombra em Nenê, entregando um maior poder de construção na entrelinha ou até baixando para a base, junto da dupla de meio-campistas.
Mesmo que ainda haja a busca por um time ideal, bem como um padrão de jogo, o Fluminense já está garantindo resultados que dão tranquilidade para o técnico trabalhar. E isso é chave em um cenário que quaisquer instabilidades nas equipes recaem exclusivamente sobre o comando técnico.
Comente!