Os brasileiros na Libertadores - Semana 1
Inter e Corinthians abriram as participações brasileiras na Libertadores em 2020, exibindo pela primeira vez seus novos trabalhos em nível continental e já em contexto decisivo
A Libertadores enfim começou para as equipes brasileiras. Neste ano de 2020, Internacional e Corinthians deram o seus pontapés iniciais na 2ª fase preliminar da competição buscando uma vaga na fase de grupos. No primeiro gargalo até as etapas mais quentes, colorados e alvinegros fizeram suas estreias longe de casa com trabalhos recém-iniciados por Eduardo Coudet e Tiago Nunes.
Se de um lado o Inter arrancou com um empate contra a Universidad de Chile e leva a decisão para o Beira-Rio, de outro o Corinthians precisará reverter em sua casa o 1 a 0 sofrido para o Guaraní no Paraguai. Mais do que os resultados, ambos os times ofereceram suas primeiras amostras dos novos projetos em um nível competitivo mais exigente, enfrentando adversários mais qualificados do que o contexto dos campeonatos estaduais apresentam.
Hora de dar uma conferida em como Inter, La U, Corinthians e Guaraní se comportaram em campo nesta primeira semana com presença brasileira na maior competição continental.
POSIÇÃO X FUNÇÃO E A NOVA FACE PROPOSITIVA COLORADA
Em meio a um ambiente de tensão pelos protestos que se estendem desde o ano passado no Chile, o Internacional estreou na Libertadores contra a Universidad nutrindo mais uma vez a discussão sobre posição e função. Para o confronto, Eduardo Coudet optou por escalar o setor de meio-campo no seu 4-1-3-2 com Musto à frente da zaga e atrás da linha com Edenilson, Rodrigo Lindoso e Patrick. Apesar dos três serem volantes de origem, não exerceram a função de um nem se posicionaram como tais dentro do sistema proposto na última terça-feira.
Mesmo assim, a dificuldade colorada foi evidente na hora de ter maior contundência ofensiva com a utilização do trio no setor, pouco habituados com o papel de construção em um time propositivo – bastante oposto ao que se via com Odair Hellmann. Lindoso, principalmente, ainda não encontrou seu melhor perfil atuando no centro da linha de três, tendo a fundamental incumbência de conectar os homens da saída de bola com o setor de frente.
Apesar do controle exibido durante todo o jogo, os primeiros 10 minutos foram de uma La U obtendo sucesso justamente neste desajuste do Inter na saída de bola. Os comandados de Hernán Caputto, que alternavam entre o 4-3-1-2 e o 4-2-3-1 enquanto tinham 11 jogadores, executavam um forte encaixe com Pablo Aránguiz, Joaquín Larrivey e Angelo Henríquez em Moledo, Musto e Cuesta, neutralizando a transição da defesa para o ataque. A solução foi aproximar Edenilson a Lindoso na faixa central.
Com o desenrolar da partida, o time de Chacho se estabeleceu em campo de ataque, achando um bom caminho pelo corredor esquerdo ao aproveitar a profundidade oferecida por Moisés, que combinava jogadas com Patrick. A desorganização defensiva chilena também propiciou oportunidades para os gaúchos, com Guerrero e Edenilson encontrando liberdade para finalizar, porém sem aproveitar. Inclusive, Guerrero foi bastante acionado não só dentro da área, mas recebendo bolas longas no pivô e arrastando o zagueiro Diego Carrasco para fora de sua zona. A ausência de um jogador capaz de explorar este espaço fez com que tal movimento do peruano fosse pouco desfrutado.
A expulsão de Montillo na segunda etapa permitiu ao Inter ter ainda mais domínio da posse, mas não contou com os recursos necessários para encontrar rupturas nas fechadas linhas da Universidad. A bola girava de uma lateral a outra, fazendo um movimento em “U” na hora de circular entre os jogadores e desembocando em cruzamentos na maior parte das vezes.
Em um começo de trabalho e com ideias novas, um empate como este e a falta ou mau funcionamento de alguns mecanismo coletivos é natural. Ajustes acontecerão com o passar do tempo, porém alguns números mostram bem essa mudança de padrão: foram 572 passes trocados, 89% de precisão e 67% de posse de bola, os maiores índices do time em competições da Conmebol desde 2013 segundo a Opta.
Para a La U, fica a grande dúvida do que deve ser feito no jogo de volta, dentro do Beira-Rio, para substituir Walter Montillo. O camisa 10 é o centro criativo do time e não há outro jogador com qualidade técnica comparável no elenco. O jovem Pablo Aránguiz é quem mais se aproxima para a função, mas não possui uma leitura tão apurada nem passe tão qualificado quanto o meia argentino, se destacando mais pela velocidade e pela condução. Presumindo um jogo baseado em contra-ataques fora de seus domínios, pode ser de fato o melhor encaixe para o jogo de volta.
LUAN E CANTILLO: FATORES POR MOTIVOS OPOSTOS
Aquilo que foi válido para o Inter no empate com a La U, vale também para a derrota corintiana em Assunção: alguns dos problemas vistos em campo são naturais para uma partida em pleno mês de fevereiro e em um contexto de novo trabalho. Apesar da expectativa de um Corinthians mais protagonista com a chegada de Tiago Nunes e de reforços como Luan e Cantillo, é impossível cobrar alto rendimento sem nem um mês de temporada decorrida.
No Nueva Olla, o alvinegro tinha pela frente um Guaraní acostumado a atuar de modo reativo, se fechando bem na defesa e partindo em velocidade para o ataque, com transições rápidas e poucos toques para chegar até a área adversária. E o gol marcado cedo por Jorge Morel beneficiou ainda mais os paraguaios na execução de seu modelo. Com a vantagem construída logo aos 7 minutos da etapa inicial, a equipe de Gustavo Costas ensaiou uma pressão mais alta nos momentos subsequentes e baixou seu bloco para bloquear a entrada da área a partir dos 20 minutos, apostando em bolas longas para agredir o Timão. Ao longo do jogo, foram 62 lançamentos executados para explorar os espaços no campo visitante.
Rodney Redes e Nicolás Maná, que havia entrado no lugar do contundido Edgar Benítez, foram os mais acionados nestes lances. Ambos detentores de boa arrancada e condução, eram os escapes para os passes mais esticados nas costas de Fagner e Sidcley. Entretanto, foram poucas ocasiões claras que o Cacique conseguiu gerar a partir disto.
Ocasiões claras que, a despeito da pouca criação, o Corinthians teve em seus pés com Boselli e Everaldo, mas não conseguiu aproveitar. Durante a partida, notou-se claramente a falta de ritmo de alguns jogadores, o que acabou afetando o rendimento na hora das tramas ofensivas. Luan, por exemplo, foi presença tímida na frente. Centralizado na linha de três do 4-2-3-1 de Tiago Nunes, o camisa 7 encontrou dificuldades para se movimentar e aproximar dos companheiros. Em certas ocasiões, chegou a recuar junto de Cantillo e Camacho para buscar jogo. Porém, não conseguia encontrar alternativas de passe pelo centro já que ele deveria ser a peça a buscar a entrelinha e receber a bola vinda de trás.
A dupla Camacho e Cantillo – e em especial o colombiano – foram as boas notícias no Paraguai. O ex-Athletico teve papel importante no desenvolvimento das jogadas pelo lado direito, por onde se concentraram as subidas alvinegras ao ataque, dando opção de passe e um apoio de segurança em terreno mais recuado para a subida de Fagner. Já Cantillo teve mais uma atuação de altíssimo nível ao ditar o ritmo da equipe. Se deslocando intensamente pela intermediária, teve sucesso ocupando espaços pelo centro e distribuindo a bola em várias direções.
Dentro de Itaquera, o principal desafio do Corinthians será encontrar mecanismos eficientes para superar o sólido bloco defensivo do Guaraní. Se em seus domínios os paraguaios já optam por atuar de maneira recuada, controlando os espaços, tal lógica deve ser replicada com ainda mais força fora de casa e contando com a vantagem de um empate para garantir a classificação. A recente atuação contra o Santos no estadual deixou boas impressões sobre os campeões continentais de 2012, mostrando ali uma dinâmica ofensiva capaz de desorganizar o rival. Tentar reproduzir parte do que se viu ali já é um bom caminho para reverter o quadro na Libertadores.
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