PANORAMA VERDE E AMARELO
Por Camila Aveiro Lima Nas últimas semanas antecedentes a Copa do Mundo feminina de futebol fiz um dossiê sobre a Seleção Brasileira, no qual detalhava nosso modelo de jogo, erros, acertos e ponderações pensando em uma prospecção para a competição. Se você ainda não leu recomendo a leitura antes de continuar nesse texto. Da preparação […]
Nas últimas semanas antecedentes a Copa do Mundo feminina de futebol fiz um dossiê sobre a Seleção Brasileira, no qual detalhava nosso modelo de jogo, erros, acertos e ponderações pensando em uma prospecção para a competição. Se você ainda não leu recomendo a leitura antes de continuar nesse texto. Da preparação à estreia o quê mudou para que saíssemos vencedoras do confronto diante da Jamaica?
O jogo começou com muito volume ofensivo do Brasil, que manteve sua forma de jogar: ataque rápido buscando ser vertical, muita transferência do setor defensivo para o ofensivo com pouquíssimas tentativas de construção pelo meio-campo, na tentativa de buscar os lados do campo e explorar a velocidade e individualidade de suas atacantes. Um time vertical demais, que sofre nas ações de contra-ataque rival.
Detalhando o modelo de jogo foi citada a falta de mobilidade (movimentações; apoios a quem está com a bola;) das jogadoras brasileiras, o que nesse jogou funcionou melhor com o trio Andressa-Debinha-Cristiane, que juntas conseguiram bagunçar a defesa adversária tanto por desmarques (se livrar da sua adversária correspondente) quanto por confrontos vencidos nos duelos de 1×1. E aí vem uma das principais mudanças no panorama: a presença de Andressa Alves mais próxima do gol, faixa onde costuma jogar no Barcelona e rende melhor dentro de suas características, como apresentamos no “Dossiê Vadão”, além da presença de Cristiane sempre pisando na área. Andressa Alves tinha a difícil missão de substituir Marta e tentou ser articuladora da equipe junto a Formiga, porém com muitas dificuldades e distância entre os setores, incluindo os suscetíveis erros de passe. Logo, na partida o que interessava era ir para frente. Estilo que foi favorecido por conta dos espaços cedidos devido à marcação da Jamaica também ser individual por setor (a referência é a adversária em função da bola, não o espaço), com muitos desgarres de linhas, principalmente das laterais, assim como espaços entre jogadoras da mesma linha, além de erros na dança dos pares ideais, como ilustramos abaixo:
Mesmo com 3 gols na partida e a importante presença de Cristiane atuando na faixa mais central do campo, é possível detectar um problema crônico: pecamos em excesso nas tomadas de decisões tanto quando nos referimos à ‘’passes chaves’’ (aqueles que deixam a companheira em condição de fazer o gol) quanto em finalizações. Precisamos de mais eficácia ofensiva, principalmente na nossa relação com a bola no último terço de campo. Nesse quesito podemos destacar, de maneira negativa, Debinha e Ludmila, pois falharam bastante em algumas ações técnico-táticas, como as que exemplificamos.
No setor defensivo a Jamaica poderia ter aproveitado as oportunidades que cedemos, principalmente em ações de contra-ataque, anteriormente citada. Concentramos jogadoras em campo ofensivo, mas quando se perde a posse de bola e a pressão não funciona o adversário encontra desorganização de linhas, recomposição lenta por parte de jogadoras específicas, que se repetem durante a partida, como no caso da lateral esquerda, Tamires e das extremas para fechar os corredores na segunda linha de quatro, e muito espaço. Ações individuais que refletem no coletivo sendo algo reincidente e que observamos em todos os jogos do Brasil contando com os últimos cincos avaliados para criação do Dossiê. Observe:
Saídas rápidas das adversárias, bolas nas costas, “zona de funil” (área em frete a meta onde há maior incidência de gols) desprotegida, principalmente por que nossas volantes flutuam para o lado da bola na tentativa de recupera-la, espaços entre as linhas de marcação somadas aos erros de encaixes são preocupações pertinentes para enfrentar Seleções melhores, como a Austríaca e Italiana.
Vale uma ressalva: se queremos marcar e temos bons números de recuperação da posse no campo rival é preciso tentar buscar um equilíbrio nas ações, para tentar evitar que a equipe corra o tempo inteiro para trás de maneira a permitir que as adversárias possam originar situações claras de gol. Em contrapartida, quanto mais próximo do gol adversário recuperemos a bola, percorreremos menos espaços para chegar à meta. Algo muito válido se analisarmos nossas dificuldades de criação e distanciamento entre os setores.
Com a volta de Marta para o jogo de quinta-feira, penso em novas possibilidades de formação. Andressa Alves poderia ajudar nossa camisa 10 nessa articulação, mas sempre jogando próxima ao gol e com menos exigências defensivas. Debinha traz mobilidade a equipe e agressividade para atacar em velocidade. Também se destaca nela o perde-pressiona, que junto com Formiga apresenta bons números. Bia e Ludmila disputam uma vaga por dentro ao lado de Cristiane. Bia não fez uma boa estreia e a Lud foi mau em relação às finalizações, mas é uma alternativa interessante para romper linhas com sua velocidade, força e explosão jogando mais centralizada como faz no Atlético de Madrid. Possibilidades para tentar equilibrar a Seleção nos diferentes momentos do jogo.
Em resumo, jogamos dentro daquilo que nos propomos, que internalizamos como modelo de jogo: busca por pressionar adversárias em linhas mais altas, muitas bolas esticadas entre os setores de defesa e ataque, muitos duelos de 1×1 e cruzamentos para área com chegada das volantes vindo de trás. Resta saber como vamos nos comportar, especialmente defensivamente, diante de uma das Seleções favoritas ao título que vem com sede para obter sua primeira vitória.
Comente!