PANORAMA VERDE E AMARELO - BRASIL x AUSTRÁLIA
Por Camila Aveiro Lima Brasil inicia o jogo surpreendentemente no 1-4-1-4-1, com Formiga à frente da linha defensiva, Marta e Thaísa por dentro na segunda linha, Andressa e Debinha por fora e Cristiane sendo referência no ataque. Defensivamente seguíamos com referência na adversária em função da bola, os encaixes, com perseguições bem longas […]
Brasil inicia o jogo surpreendentemente no 1-4-1-4-1, com Formiga à frente da linha defensiva, Marta e Thaísa por dentro na segunda linha, Andressa e Debinha por fora e Cristiane sendo referência no ataque.
Defensivamente seguíamos com referência na adversária em função da bola, os encaixes, com perseguições bem longas de Formiga saindo da sua zona de atuação. Com a mudança de sistema tático, mesmo com os erros na nossa ‘’dança de pares’’ houve uma diminuição espaço e consequentemente mais ações de coberturas e dobras na portadora da bola. Observe:
Essa aproximação das jogadoras brasileiras permitiu com que triângulos defensivos fossem formados nos corredores do campo, setor no qual o Brasil costuma sofrer com bolas nas costas devido às perseguições longas das laterais. Do lado direito tínhamos Letícia-Andressa Alves-Thaísa e do lado esquerdo com Marta-Formiga-Tamires ou Debinha. Importante salientar que a ‘’zona de funil’’ deixada por Formiga nas perseguições mais laterais era compensada por Thaísa (foto abaixo). A figura geométrica citada nos permitia ficar em igualdade ou até mesmo superioridade numérica frente as australianas.
Andressa Alves também teve participação efetiva no aspecto defensivo, buscando sair de fora para dentro, na tentativa de proteger a área quando a bola estava do lado oposto a ela. Até então o Brasil anulava a Austrália, que tentativa aproveitar aquilo que tinha de melhor em suas características: as bolas áreas, porém sem sucesso.
Marta era a grande preocupação nesse jogo, pois retornava de lesão e por vezes afundava muito para perseguir sua adversária correspondente, além de auxiliar nas coberturas:
Acabou que a nossa camisa 10 não só contribuiu muito defensivamente como também melhorou nossa saída de bola na base da jogada. Tentava puxar contra-ataques explorando sua individualidade, dava ritmo quando não podia acelerar, organizava o jogo lá atrás. Jogando por dentro ela também ganhava liberdade para se movimentar no campo, se aproximando de Thaísa e Andressa Alves, preenchendo um espaço que até então era pouco aproveitado pelo Brasil, a faixa central do campo.
Os movimentos de Marta também eram feitos por Andressa Alves, que ajudou na articulação e a ditar o ritmo da partida. Quando a camisa 7 partia pra dentro, Marta podia avançar e Letícia progredia pelo corredor lateral. Essa relação de apoio e aproximações no setor da bola, possibilitou ao Brasil chegar em seu primeiro gol, com uma jogada que é acelerada do setor defensivo para o meio-campo, finalizada com o pênalti sofrido por Letícia e convertido por Marta, empatando com Klose, ambos com 16 gols, se tornando a maior artilheira de Copa do Mundo.
Ter a posse de bola não é nosso forte nem característica do nosso modelo de jogo e por isso erramos passes demais. Em contrapartida soubemos aproveitar os espaços cedidos pelas adversárias, principalmente entre suas zagueiras e laterais, e assim sai o gol de Cristiane. São 6 passes até a bela caneta de Tamires. Debinha ataca o espaço e encontra Cristiane, que se antecipa para atacar a bola e marcar o segundo gol brasileiro.
Parecia o enredo perfeito para o Brasil, mas ainda no primeiro tempo nosso sistema de encaixes veio a falhar:
O segundo tempo nos trouxe logo duas mudanças: as saídas de Marta (por cansaço) e Formiga (por lesão) colocaram em campo Ludmila e Luana, respectivamente. Lud entrou pela beirada direita com Andressa Alves por dentro, enquanto Luana deslocou Thaísa para atuar de primeira volante. Substituições que geraram confusão no sistema defensivo do Brasil, que com o aumento do volume ofensivo da Austrália acabou cedendo espaços sem coberturas próximas, como na jogada do gol de empate:
O Brasil ofensivamente voltou a jogar mais dentro de suas características: velocidade e individualidade, concentrando jogadas com Debinha, porém de maneira bem ineficiente, cedendo ainda mais espaços para as adversárias. Estávamos em organização defensiva em bloco médio, sem pressão na portadora da bola, quando tomamos o terceiro gol, a partir de um lançamento forçando a defesa a correr para trás.
Um dado interessante a salientar é que até essa partida, nos últimos 6 jogos do Brasil, a maior quantidade de gols que sofremos aconteceu justamente no segundo tempo e pode ser interpretado também pela fadiga das jogadoras em campo, tendo em consideração nossos sistemas de encaixes com perseguições e as ações mais agudas de contra-ataque. Complicamos-nos no grupo, que tem a Itália na liderança com 6 pontos e nossa próxima adversária. Empatar ou vencer nos coloca na próxima fase da Copa do Mundo. Em caso de derrota, precisaremos do auxilio da matemática pra tentar uma vaga entre os melhores terceiros.
Além disso, perdemos a maior líder defensiva: Formiga. E Vadão precisará criar estratégias para suprir sua ausência. Repetir alguns comportamentos do primeiro tempo e utilizar os do segundo como algo que não pode acontecer é um caminho pra nossa Seleção. Elas mostraram em suas redes sociais que lutarão até o fim.
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