Patrick Ogama e a profecia de Gignac
"O futuro atacante do Tigres", essas foram as palavras de Gignac para Patrick Ogama, ainda em 2017; hoje, vamos conhecer mais o futuro do clube mexicano
Não é de hoje que jogadores brasileiros migram para o futebol mexicano, seduzidos por salários altos e condições de trabalho mais apropriadas do que em vários clubes tradicionais em solo pátrio.
Também não é de hoje que filhos de ex-jogadores brasileiros optam pela nacionalidade mexicana devido ao tempo que permaneceram no país. O caso mais famoso de todos é o dos irmãos Dos Santos, filhos de Zizinho, revelado no São Paulo, mas cuja trajetória profissional fora toda no México.
Giovani e Jonathan optaram pela nacionalidade mexicana por terem nascido e crescido no país onde o pai trabalhara. Entretanto, ambos se formaram e se profissionalizaram no Barcelona até atingirem a seleção principal. Atualmente, Gio dos Santos defende as cores do América e Jonathan a do Los Angeles Galaxy.
Agora, a bola da vez é Patrick Ogama, filho de Anselmo Vendrechovski Junior, centroavante da equipe sub-20 do Tigres. No Brasil, o pai de Patrick ficou conhecido como Juninho, ex-zagueiro de Coritiba, Botafogo e São Paulo. O defensor ficou particularmente famoso na passagem pela equipe carioca, onde não só foi bem defendendo como também marcou gols de faltas em momentos importantes.
Contratado pelo Tigres, em 2010, após breve passagem pelo futebol coreano, Juninho fora titular absoluto da linha defensiva do poderoso conjunto felino, onde conquistara quatro Aperturas e um Clausura, além de três taças de Campeón de Campeones e uma Concachampions. Juninho marcou 40 gols em 328 jogos em quase 10 anos como atleta profissional.
Ídolo da fanática torcida régia, atualmente Juninho é auxiliar de outra figura importantíssima para a história do Tigres: Ricardo “Tuca” Ferretti, treinador dos Auriazules desde 2009. Nascido no Rio de Janeiro e com curta trajetória como jogador de futebol, Ferretti, curiosamente, também vestira as cores do Botafogo, onde melhor jogou no Brasil antes de se transferir para o futebol mexicano, mais precisamente para o Atlas e depois para o Pumas, onde também fora treinador.
Com quatro Aperturas, três Clausuras, três taças de Campeón de Campeones e uma Concachampions, obviamente Ferretti é o treinador mais importante da história do Tigres, que fora fundado em 1960 como a equipe oficial da Universidad Autónoma de Nuevo León. Um cartel desses credencia Tuca Ferretti a praticamente tudo na cidade de San Nícolas de los Garza, e ele sabe muito bem utilizar-se desse prestígio. Criado numa família de militares, o treinador é famoso por ser linha dura, sendo rigoroso até demais em alguns momentos.
Devido ao jeito turrão e autoritário, Ferretti também é comumente chamado de “El Dictador” por torcedores do Tigres, que, apesar de respeitá-lo pelas conquistas com o clube, o contestam pelo tratamento peculiar com alguns jogadores, especialmente os mais jovens que a direção contrata.
Um dos casos mais famosos é o de Lucas Zelarayán, argentino revelado pelo Belgrano, que fora contratado por uma fortuna na época, pois o meia estava valorizado no mercado após conseguir liderar a equipe de Córdoba até uma competição internacional. Zelarayán sempre se destacou pela qualidade técnica e dribles fantasiosos, algo que suscitava o imaginário do torcedor felino, porém, que nunca chegou perto de convencer Ferretti, que o julgava muito egoísta para ser titular.
O meio-campista argentino era praticamente um artigo de luxo do Tigres, sendo mais um décimo segundo jogador do que peça-chave, algo que os torcedores o viam, pois sempre que entrava ele tacava fogo na partida. Foram anos de embates públicos entre jornalistas e adeptos questionando Ferretti sobre o jogador enquanto a equipe brigava fortemente por títulos. Como você pode imaginar, o treinador se justificava erguendo troféus.
Lucas Zelarayán saiu, mas outro “problema” chegou: Leonardo Fernández. Contratado pela diretiva felina do Fénix-URU, em 2019, o meio-campista era observado e desejado por grandes equipes sul-americanas devido ao seu desempenho com a modesta equipe de Montevidéu, tendo sido coroado como a “revelação do ano” em 2018. Fernández atua na mesma faixa central que Zelarayán, podendo até ser um ponta dependendo da situação, tal qual acontecia com o argentino durante sua estadia em Nuevo León. O agravante para o questionamento sobre a pouca utilização do uruguaio é que, na atual temporada, o Tigres não vem jogando bem e tem dependido quase que exclusivamente de André-Pierre Gignac para a criação de jogadas ofensivas.
Se Ferretti é incontestável no banco, Gignac é o suprassumo dentro de campo. O artilheiro francês é o jogador mais qualificado do futebol mexicano, onde possui 134 gols e 33 assistências em 232 jogos com a camisa do Tigres. E é justamente o centroavante francês que conecta Patrick Ogama com esse contexto todo envolvendo seu pai, o treinador e o histórico de jogadores jovens na equipe principal.
Em julho de 2017, após dois anos em solo mexicano, Gignac postou uma foto em seu Instagram acompanhado de Patrick Ogama, dizendo que a promessa felina seria “o futuro atacante do Tigres, guardem esse post”. Nascido no Brasil, mas radicado no México, o atacante de 20 anos está na equipe Auriazul desde 2016, quando chegara para a equipe sub-17.
Com nacionalidade mexicana, mas sem passagens por seleções de base, ele fora registrado no clube de Nuevo León antes dos 18 anos de idade, portanto, ele está apto a defender as cores tricolores, além de não contar como estrangeiro virtualmente pensando na equipe principal dos felinos.
O post de Gignac serviu como gasolina na fogueira de popularidade de Patrick, que já estava se destacando nas camadas inferiores do Tigres. Inflamados pelo pressagio do ídolo francês, a torcida começou a acompanha o brasileiro mais de perto.
Ogama é um centroavante destro de 1,74m de altura. Apesar de não ser tão alto quanto à maioria dos frequentadores da pequena área, o canterano felino se notabiliza pela precisão na finalização e pelo ótimo posicionamento na grande área. Patrick também chama a atenção pelos gols de cabeça, sendo uma arma bastante efetiva e uma característica familiar ao do parceiro Gignac, algo que sempre leva a comparações.
Desde que o campeonato sub-20 retornou no México, Patrick Ogama anotou cinco gols em três partidas, sendo dois dobletes contra Santos Laguna e Querétaro. A promessa dos Auriazules tem 15 gols em 53 jogos, sendo titular em 43 dessas partidas. Além do faro de gol e trejeitos apurados de um clássico centroavante, Patrick é capaz de se associar na construção de jogadas com os meio-campistas, criando e liberando espaços para infiltrações de Adrián Garza, meia-ofensivo da equipe sub-20.
Entretanto, mesmo com números impressionantes e atuações sólidas nas forças básicas, Patrick Ogama ainda não possui prognósticos para uma possível estreia ou utilização na equipe principal com Tuca Ferretti. Levando em consideração o passado do treinador, o centroavante brasileiro/mexicano vai precisar manter essa média de gols para convencê-lo.
Todavia, as antenas estão ligadas e o apoio da estrela francesa pode ser fundamental para que a família Vendrechovski emplaque mais um jogador na equipe principal do Tigres. Patrick Ogama é artilheiro, tem sangue vencedor e pode ser talhado, com muita calma, para concretizar a profecia de Gignac.
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