O encaixe do "novo" Paulinho no Corinthians: porquê não mais um médio e sim um atacante?
Após oito anos o ídolo do Parque São Jorge está de volta, e muito diferente do que saiu. Como vai jogar nesse novo modelo? É possível encaixar todas as estrelas? Quem irá sair dos 11 iniciais?
Chegado ao Corinthians em 2010 após diversas passagens em times de menor expressão do Brasil e da Europa, Paulinho se firmou e virou peça chave no time que foi campeão brasileiro de 2011 e da Libertadores de 2012, se tornando um ídolo do clube.
Em campo, é muito lembrado por formar uma dupla histórica com Ralf, no qual esse era o responsável pela sustentação do meio campo da equipe como primeiro homem do setor, enquanto Paulinho iniciava transições e atuava como o “elemento surpresa” da equipe, atacando os espaços, reconhecido como um típico camisa 8 à la brasileira. Entretanto o novo camisa 15 do Timão precisou readaptar-se após uma passagem frustrante pelo Tottenham Hotspurs, da Inglaterra, e uma chegada ao futebol chinês em uma nova fase, com maior poder de investimento (onde o próprio Paulinho foi contratado por €14M pelo Guangzhou FC), e um futebol de maior imposição física, ainda que em um nível inferior ao futebol brasileiro, e pouca técnica.
O alto investimento em Paulinho justificava-se por seus atributos físicos (biótipo privilegiado, força nos duelos e resistência), seu refino técnico muito acima da realidade chinesa até então, sua capacidade de leitura do jogo e o seu caráter vencedor e competitivo. Muito a partir disso o então médio foi cada vez mais sendo adiantado no campo, onde se tornou um meia atacante, jogando próximo ao 9, sendo responsável pela criação e definição das jogadas. E os números refletem esse destaque, onde participou de 172 jogos e marcou 74 gols (somando as duas passagem pela China). Em contrapartida, nunca exigiu-se tanto do seu jogo sem bola, já que estava em um nível competitivo inferior e era possível que o craque do time pudesse “descansar” e ser um atacante num 4-4-2 em fase defensiva (tanto no Guangzhou como no Al-Ahli Saudi, onde teve breve passagem no ano de 2021), onde não seria necessário pressionar tanto saídas do adversário e nem após perda da posse.
Funcionamento do atual Corinthians e as dificuldades nas escalações:
A chegada de Paulinho na equipe de Sylvinho gera questionamentos de onde e como o camisa 15 pode jogar, junto com todos os outros craques da equipe. Partindo do princípio em que o treinador utilize um modelo de jogo com três médios e três atacantes (um 4-3-3), onde o sistema por si só é capaz de oferecer janelas para triangulações e associações mais curtas, o que beneficia a circulação de bola em ataque posicional (preferência já dita pelo comandante corintiano), surge no ideal imaginário um meio campo formado por Paulinho, Renato Augusto e Giuliano.
Mas por que é improvável que essa escalação possa existir, ou quiçá dar certo? A resposta está nas características de cada um dos três atletas, e para além disso as limitações deles. Renato Augusto e Giuliano recém chegados no decorrer da última temporada, possuem ambos uma pequena taxa de recuperação de bolas por jogo (sendo desarmes ou interceptações), comprometendo um funcionamento coletivo em organização defensiva, já que não estão adaptados à pressão pós-perda e não possuem destreza para fechar espaços e se postarem em um bloco mais baixo. A trinca corintiana (formada agora com a contratação de Paulinho) possui em média aproximadamente 32 anos e veem de um cenário competitivo bastante inferior aos quais foram empregados, ou seja, além das suas limitações naturais (por questões de idade e consequentemente queda na potência física), há uma necessidade de readaptação a um cenário de maior intensidade do jogo.
Além de um déficit no meio campo, o 11 ideal do Corinthians conta com dois extremos de pouca habilidade defensiva (Roger Guedes e William), apesar da excelente capacidade com bola, e um camisa 9 com problemas físicos e em declínio técnico (Jô). Com isso, há uma incompatibilidade entre a montagem do elenco; que optou por jogadores mais renomados e de qualidades técnicas indiscutíveis, entretanto com idades mais avançadas e vindo de contextos adversos ao que se encontra atualmente no clube; e o modelo de jogo adotado pelo treinador, que requer potência física e alta entrega sem a bola.
Alternativas e o encaixe de Paulinho:
Surge como alternativa da resolução do problema sem bola da equipe a ideia de ter um primeiro volante com maior capacidade física para vencer duelos defensivos e proteger a área e iniciar as saídas nos momentos com a bola, como Gabriel já vinha sendo utilizado por Sylvinho durante a temporada. Entretanto, o desempenho do camisa 5 nem sempre agradou ao torcedor e ao treinador, onde em alguns jogos preteriu o jovem Xavier, mas que também não se firmou.
Nesse contexto surge Richard, volante que jogou a temporada 2021 pelo Athletico Paranaense, onde foi campeão da Copa Sul-Americana. Jogador de características que podem auxiliar o Corinthians na construção desse novo setor de meio campo, já que possui uma grande capacidade física pra se impor e vencer duelos, recuperar a posse e uma excelente estatura (1,91m) que ajuda no jogo aéreo, além das suas qualidades com bola, sendo capaz de iniciar algumas transições e ser opção de passe em um jogo mais apoiado. Com o auxílio de Giuliano e/ou Renato Augusto na circulação de bola à sua frente, Richard pode garantir uma proteção e segurança maior para o pós-perda da equipe.
Já Paulinho pode ser adiantado para jogar como um falso 9, ou um atacante de mobilidade, já que possui experiência em atuar nessa zona, além de uma estrutura corporal que permite a sustentação de pressão nas suas costas, imposição física, resistência e equilíbrio necessário para jogar como esse homem de ataque. Somado a sua leitura de espaços vazios tanto fora, como dentro da área, podendo sair e abrir espaço para a entrada dos pontas (principalmente Roger Guedes que possui uma diagonal forte), ou infiltrar nos espaços gerados por ele mesmo, onde o mesmo possui um grande repertório de finalização e uma grande feição por marcar gols.
Podendo formar assim uma equipe que garanta uma circulação de bola muita fluída, devido a qualidade dos seus jogadores, e ao mesmo tempo mais combativa, já que possui jogadores forjados para um jogo que necessite de imposição física, além de um novo “atacante” acostumado com os dotes defensivos. Assim esse é o tipo de dor de cabeça que qualquer treinador gostaria de ter.
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