Como Sancho, Varane e Lukaku preenchem lacunas importantes em suas equipes

Além de serem estrelas de peso, os três foram escolhidos a dedo por Ole Gunnar Solskjaer e Thomas Tuchel para resolver problemas visíveis, o que esperar de Jadon Sancho, Raphael Varane e Romelu Lukaku

A temporada da Premier League já começou e temos diversos assuntos do campo para tratar, mas é inegável que a janela de transferências ainda chama a atenção. Nesses últimos dias de novelas envolvendo os clubes ingleses, algumas coisas importantes podem mudar visando a campanha. De qualquer forma, três belas contratações já foram concretizadas e enchem os torcedores de esperança: Jadon Sancho, Raphael Varane e Romelu Lukaku.

Começamos pela dupla do Manchester United.


Jadon Sancho é um dos nomes que mais ocupou as páginas dos jornais e veículos esportivos nos últimos anos. O jogador que estava no Borussia Dortmund era alvo antigo de Ole Gunnar Solskjaer e o negócio estava ‘na cara’ de todos há muito tempo. Agora é a hora da expectativa se tornar realidade em Old Trafford e o mais relevante nesses momentos é observar o encaixe.

Pode existir dúvida sobre sua melhor posição – afinal, a ponta esquerda, onde se sente mais confortável, é de Marcus Rashford. Mas não pode existir dúvida sobre sua função. O que ele faz, neste caso, é mais crucial do que onde faz. Isso fica claro quando lembramos de como o setor ofensivo dos Red Devils se portou em 2020/21 – e das características demonstradas pelo atleta ao mesmo tempo, na Alemanha.

O time não sentia falta de qualidade. Bruno Fernandes e companhia eram suficientes contra a maioria dos adversários e já apresentavam uma grande evolução em relação ao período em que Andreas Pereira, Juan Mata e Daniel James eram titulares com regularidade. Mas todos compartilhavam de um atributo: urgência. E, consequentemente, de uma lacuna: paciência. 

(Foto: Manchester United)

Se acostumaram a jogar em um ritmo muito alto, acelerando a construção sempre que possível e tomando ações arriscadas para que o placar abrisse rapidamente. Isso não é negativo. Mas existiram os momentos em que faltou mais tranquilidade e decisões relativamente ‘frias’, pra realmente colocar o United no controle da partida. Evitar o risco de perder a posse com frequência e dar ao adversário a chance de fazer seu próprio jogo também.

Ouça o podcast sobre futebol inglês: God Save The Game #35 | O início da Premier League, Lukaku no Chelsea e Odegaard no Arsenal

E Sancho naturalmente entende isso. Apesar de ser uma peça capacitada – e animada – pra atuar no 1v1, partindo em velocidade e deixando oponentes pra trás através do drible, há um aspecto no seu repertório que passa justamente essa sensação de tranquilidade. De estar sob controle das ações e não precisar acelerar a todo instante. De saber a hora de ir pra cima e a hora de trazer uma dose de cadência. Por esse fator, representa uma provável solução ao problema dos postulantes ao título.


Assim como Raphael Varane, que chegou do Real Madrid após algumas temporadas inconstantes, mas com indiscutíveis qualidades e pontos de experiência. Além de poder voltar a ser um dos melhores zagueiros do mundo – como foi por um bom tempo -, o francês entrega exatamente aquilo que o United precisa em sua defesa. 

Harry Maguire aos poucos foi silenciando os seus críticos e terminou a temporada anterior com um saldo muito positivo. Depois, foi um dos destaques da Euro, onde por pouco não saiu com o título pelo English Team. Ele pode ainda não ser dos mais apreciados da Europa, mas o que importa é o desempenho e isso está entregando. E com um estilo bem específico.

(Foto: Manchester United)

Com 1,94 e um porte físico mais ‘pesado’, costuma sentir dificuldade em lances onde é exposto contra adversários minimamente ágeis. Não é uma questão de ser bom ou ruim, é de fisicamente não conseguir alcançar alguns jogadores. Mas por enquanto o ex-Leicester está mais do que compensando essa fraqueza. É uma figura dominante no setor, organizando a linha, cobrando os companheiros e vencendo a maioria dos duelos.

Não é atoa que veste a faixa de capitão, é extremamente respeitado no vestiário e viu o time sofrer justamente quando ficou de fora. Depois de mais de 70 jogos seguidos pela Premier League, na reta final da última campanha sofreu uma lesão e foi desfalque; o resultado foi uma defesa perdida, sem um ponto de referência, muito mais fácil de ser furada. Sua importância na saída de bola também é enorme – para quem não está acostumado a acompanhá-lo no clube, é só pegar de exemplo o que ocorreu com a Seleção da Inglaterra.

Mas o que sempre faltou foi um companheiro que entregasse o que Maguire não consegue. Lindelof é um bom jogador e não pode ser descartado, mas no geral não preenche todos os requisitos pra ser o titular absoluto e fazer dupla com o camisa 5. Varane, por sua vez, além de estar em patamares acima, tem as características complementares ideais. Rápido, apto a fazer uma função de ‘sobra’ quando necessário, confiante, de bom timing no desarme e interceptação.

E claro, em sua melhor versão coloca nos adversários o ‘medo’ que Lindelof não consegue. É proteção pro goleiro – algo necessário, tendo em vista as incertezas com De Gea e Henderson – e pros jogadores de linha, até mesmo pensando no ataque. Solskjaer pode tomar atitudes ainda mais proativas sabendo que agora tem uma dupla de zagueiros de ponta – com o recém-chegado sendo um exemplo em termos físicos – pra não deixar passar (quase) nada lá atrás, em tese. Veremos na prática.


(Foto: Chelsea)

Saímos de Manchester e desembarcamos em Londres pra finalizar o texto falando sobre um reforço excepcional: Romelu Lukaku. O belga está de volta ao Chelsea após viver altos e baixos no próprio United e se tornar um ídolo eterno na Internazionale – antes disso, teve ótimas passagens por West Bromwich e Everton. Chega muito mais desenvolvido do que quando saiu e é difícil concordar com algum questionamento sobre sua ‘necessidade’. 

Talvez possam pensar: por que o campeão da Champions League, com um dos elencos mais completos do continente, foi atrás de um jogador tão caro? O fato de Jorginho, ele mesmo, ter sido o artilheiro da equipe (com 7 gols!) na última Premier League, provavelmente ajuda a entender. 

Os comandados de Thomas Tuchel demonstravam muita aptidão pra defender, fechar espaços, criar com paciência e velocidade, além da força mental, mas não tinham poder de fogo pra competir com mais tranquilidade na parte de cima da tabela de uma liga tão competitiva. Timo Werner tem excelente movimentação, mas não é dos mais letais; Kai Havertz tem tudo pra ver seus números crescendo a partir de agora após pegar confiança e se adaptar, mas também não se trata de uma garantia de gols.

Tammy Abraham pelo visto não caiu nas graças do treinador e foi para a Roma, Olivier Giroud também tomou os rumos da Itália (Milan), Mount vem se envolvendo mais na articulação do que na finalização e Hakim Ziyech é armador. Pulisic é mais focado em driblar e conduzir e não mara tanto. Ou seja, existe – e sobra – espaço para o atacante de 98 milhões de libras. Ele se sentiu muito confortável na dupla de atacantes utilizada por Antonio Conte – ao lado de Lautaro Martínez – e Tuchel está favoreendo uma dobradinha na frente também.

(Foto: Chelsea)

Partindo da esquerda e se aproveitando dos espaços abertos – e encontrados – por tantos companheiros de alto nível (certamente mais do que tinha na Inter), é realmente difícil imaginar um cenário onde Lukaku não corresponde às expectativas. O Stamford Bridge é sua nova/velha casa e ele chega sedento para reescrever a história que começou lá em 2011, quando foi comprado junto ao Anderlecht por £10 milhões. Os £88 milhões a mais que os Blues desembolsaram agora ajudam a entender o tamanho de sua evolução. 

A Premier League vai ganhando estrelas, competitividade e, felizmente, com uma lógica sendo seguida nas contratações. Se tudo correr como o esperado, a disputa pelo título deve ser uma das melhores desde a criação da liga, em 1992/93. Vamos apreciar.

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