Plantéis com reconversão em curso

Os momentos finais da janela de transferências da Liga Portuguesa foram uma autêntica corrida para tapar as fragilidades que os plantéis passaram a apresentar com as saídas de jogadores para outros campeonatos. Os três grandes, quando voltarem a entrar em campo, terão uma face bem diferente.

São pequenas revoluções a tocar os plantéis dos três grandes nestes dias iniciais de outubro. O FC Porto viu sair Alex Telles (Manchester United) e Danilo Pereira (PSG), tendo que tapar dois enormes buracos na sua equipa. O Benfica perdera Rúben Dias (Manchester City) e, apesar do negócio incluir também um jogador, Jorge Jesus pedira mais. O Sporting vendeu Wendel (Zenit) e tinha ainda uma série de lacunas para resolver. Nem todos saíram a sorrir do último dia do mercado.

Uma evolução emprestada

Os problemas financeiros do FC Porto são conhecidos e a necessidade de cumprir com as normas do fair-play da UEFA obrigavam a somar 100 milhões de euros em vendas até ao final da presente temporada. Alcançado esse objetivo, entre vendas e empréstimos de cláusula obrigatória, o FC Porto chegou aos últimos dias da janela de transferências com várias lacunas para preencher. E, numa síntese daquilo que foi a concretização de objetivos, os portistas podem dar-se por satisfeitos.

A chegada de Felipe Anderson, por empréstimo do West Ham, é uma grande notícia para o futebol português. A qualidade do jogador brasileiro, caído para fora das opções dos Hammers com a chegada de David Moyes, não saiu beliscada e, no Dragão, terá um contexto perfeito para voltar a cumprir a sua missão de encantar plateias. A partir da faixa esquerda, Felipe Anderson trará criatividade, aceleração e drible, passando a ser um elemento decisivo na organização do jogo ofensivo da equipa de Sérgio Conceição. O seu domínio dos conceitos defensivos demonstram que poderá ser muito bem aceite pelo técnico do FC Porto.

Marko Grujic, que chega por empréstimo do Liverpool depois de duas temporadas no Hertha de Berlim, é outro dos nomes que terá entrada direta na equipa azul e branca. Um recuperador de bola com forte dimensão no jogo aéreo, o internacional sérvio traz ainda o ritmo de jogo da Bundesliga, que tanto agrada a Sérgio Conceição. Com a equipa a ter vindo a apresentar uma preferência pelo duplo-volante, deverá ter Sérgio Oliveira como companhia no meio-campo e Otávio como um médio mais ofensivo. Do meio-campo para a frente, o Porto está muito bem apetrechado.

As chegadas de Nanú, do Marítimo, e Malang Sarr, emprestado pelo Chelsea, visam compensar as lacunas identificadas nas faixas laterais da defesa. O grande problema mantém-se na esquerda. Não é fácil fazer esquecer Alex Telles e Sarr está longe de ser um jogador com as mesmas características. Puxar de um elemento à esquerda com menor dimensão ofensiva ou optando pela adaptação de Manafá, que já fez o mesmo trajeto no Portimonense, são opções que ficam em aberto para o regresso à competição.

Central de desejos

Com Jorge Jesus, o Benfica viu-se obrigado a mudar a sua filosofia de apostas em jovens jogadores formados no clube, bem como teve de reformular boa parte do seu plantel. A vontade de jogar o triplo, no entanto, embateu de frente com a realidade da eliminação da Liga dos Campeões, o que terá mudado as capacidades de continuar a reforçar a sua equipa. Nicolás Otamendi chegou envolvido na venda de Rúben Dias ao Manchester City e permite a formulação de uma dupla de centrais muito experiente. Jorge Jesus, no entanto, nunca escondeu o desejo de contar com mais dois centrais, com Rúben Semedo e Lucas Veríssimo como principais opções.

No entanto, o último dia de mercado confirmou apenas a chegada de Todibo, emprestado pelo Barcelona, jovem jogador com pouca expressão no futebol sénior, com passagens pelo Toulouse, pelo conjunto catalão e por um curto empréstimo ao Schalke 04 na época passada. Trata-se de um jovem de grande promessa física, impetuoso e veloz, que precisa, claramente, de viver um período de aprendizagem longo para poder agarrar um lugar na equipa encarnada. Uma questão para se saber se Jorge Jesus terá o tempo e a paciência para fazer crescer um jogador que, neste momento, faz lembrar David Luiz quando chegou ao Benfica, com 20 anos.

No que toca ao resto do plantel, André Almeida e Gilberto ficam como as opções para lateral-direito, uma posição onde também terá havido a intenção de ver chegar reforços, enquanto para a frente de ataque, depois da saída de Carlos Vinícius (Tottenham) e Dyego Sousa (Famalicão), ficam apenas Darwín Nuñez, Seferovic e o jovem promissor Gonçalo Ramos. Até janeiro, com Liga e Liga Europa, Jorge Jesus terá que saber trabalhar com as lacunas que ele próprio identifica.

A vida e as possibilidades

Rúben Amorim perdeu Wendell para o Zenit São Petersburgo e viu chegar João Mário, emprestado pelo Inter de Milão, no que podendo ser considerado como uma troca de entre médios, é, na verdade, a substituição de um elemento por outro com características bastante diferentes. Depois de ter saído do Sporting, João Mário fez uma boa primeira época no Inter, mas não mais conseguiu completar uma temporada ao seu melhor nível. Chega em busca de resgatar essa condição mas, olhando para a forma como se monta o onze do Sporting, levanta algumas questões sobre o seu posicionamento.

Na verdade, pelas suas características, parece mais apropriada a sua utilização como um dos elementos da frente, partindo da faixa para procurar criar situações de superioridade no corredor central, como fazia nos tempos do Sporting de Jorge Jesus. Para a dupla de volantes, a manutenção de João Palhinha, seja com Matheus Nunes, seja com Pedro Gonçalves, oferece maior capacidade nos diferentes momentos do jogo. Entre médios e extremos, o Sporting poderá dar-se por satisfeito com o que conseguiu formular.

No entanto, a equipa parte para esta temporada com algumas limitações na posição de defesa-central, onde para além do trio titular dispõe apenas dos jovens Eduardo Quaresma e Gonçalo Inácio. Na frente de ataque, a procura de um ponta-de-lança deu em nada. Não chegaram nenhum dos desejados de Rúben Amorim, que terá que trabalhar com Sporar (de quem disse estar ainda longe de entender a missão tática que a posição exige) e com Luiz Phellype (regressado de lesão). A adaptação de Vietto, Tiago Tomás ou Jovane fará parte do trabalho do técnico verde e branco, bem longe, em termos de possibilidades, dos outros dois conjuntos portugueses.

Dia de fecho com muitas novidades

Para o SC Braga, de plantel fechado desde o início dos jogos, a manutenção de Bruno Viana e Paulinho são excelentes notícias. Mas as novidades tocaram a quase todos os conjuntos da Liga NOS. A mais estrondosa será o regresso de Fábio Coentrão à competição, depois de uma temporada sem jogar. Volta a vestir a camisola do Rio Ave. No que toca a regressos, Djalma também volta a Portugal, para jogar no Farense, vindo do Alanyaspor da Turquia. O Vitória SC viu garantida a chegada de Miguel Luís, um dos excedentes do plantel do Sporting.

As movimentações do Famalicão voltam a colocá-lo como um conjunto forte na corrida por lugares europeus. Confirmado regresso do guarda-redes Vaná, juntando Diogo Queirós (FC Porto), Dyego Sousa (Benfica) Marcello Trotta (Frosinone), João Pedro Sousa volta a ter muitas opções no seu grupo. Nota ainda para o Boavista, que garantiu o ingresso de Jorge Silva (Lazio), e para a chegada de André Luís ao Moreirense, depois de umas boas temporadas no Desportivo de Chaves. Quanto a chegadas de mercados pouco explorados, Dor Jan, dos israelitas do Bnei Yehuda, e Safawi Rasid, dos malaios do Johor, para o Portimonense, são dois valores a observar.

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