Que venha Santiago!
River Plate e Flamengo chegam à decisão da Libertadores se impondo sobre seus rivais e com fatores chaves para garantir a ida ao Chile
River Plate. Flamengo. Está tudo definido para o maior final de semana do futebol sul-americano em 2019. Em Santiago, em meio a toda efervescência política e social no Chile, rubro-negros e millonarios medirão forças na caça de mais uma glória continental nas suas histórias, em uma final inédita de Libertadores entre clubes de diferentes lastros de retrospecto histórico.
De um lado, um River Plate plenamente testado nos maiores cenários e multicampeão sob comando de Marcelo Gallardo, que vai atrás de seu tricampeonato da Libertadores como treinador. De outro, um Flamengo que enfim faz jus ao hype e atinge o maior degrau da América do Sul após 38 anos com uma ofensividade repleta de talento construída por Jorge Jesus.
Para carimbarem seus passaportes, as duas equipes passaram por contextos de pouca semelhança nos jogos decisivos de semifinal. Se na terça-feira (22) o River Plate precisou travar uma verdadeira batalha em La Bombonera para assegurar sua vaga com uma vantagem mínima no placar agregado, na quarta (23) o Flamengo desfilou no Maracanã para aplicar a segunda maior goleada da história das semifinais. E se os contextos foram diferentes, as chaves para garantir a vaga também.
RESILIÊNCIA EM TERRITÓRIO RIVAL
Com o 2 a 0 conquistado dentro do Monumental de Nuñez, o River Plate foi até a casa do Boca Juniors com a missão de não apenas assegurar um bom resultado, mas também tentar impor o seu jogo para não ser um mero refém da pressão que a equipe xeneize faria em busca da virada. Para isso, Muñeco Gallardo repetiu a escalação da partida de ida.
Em contrapartida, Gustavo Alfaro mudou bastante o seu 11 inicial, principalmente no meio e no ataque para armar o 4-4-2. Agustín Almendra e Eduardo Salvio assumiram os postos do suspenso Nicolás Capaldo e de Emanuel Reynoso na intermediária, respectivamente. Na frente, Ábila e Tévez, mesmo descontados fisicamente, entraram nas vagas de Hurtado e Soldano. Atrás, a única alteração foi a saída de Weigandt e o ingresso de Buffarini na lateral-direita.
Com um time mais físico em campo, os lançamentos longos em direção à área e a disputa pela segunda bola ditaram o que foi executado pelo Boca. Sem uma dinâmica ofensiva confiável, funcional e capaz de quebrar os bons encaixes de marcação que o River costuma colocar em prática, buscar a imposição por meio do único fator ao qual o Boca possui superioridade em relação ao rival foi a saída encontrada.
Diante da combatividade adversária, os comandados de Gallardo encontravam pouca liberdade e caminhos bloqueados para a evolução ofensiva. O principal escape para tentar chegar ao gol veio pela esquerda. Milton Casco – o melhor no acumulado dos dois confrontos – e Nicolas De La Cruz combinavam passes rápidos, ultrapassagens e arrancadas para explorar o lado direito defensivo do Boca. O espaço surgia a partir dos movimentos de Salvio da ponta para o centro, liberando o corredor para a subida de Buffarini e deixando um buraco atrás. Por ali apareceu um caminho, que no fim, acabou não sendo aproveitado com efetividade.
Na segunda etapa, o Boca Juniors abriu mão da pouca capacidade de construção que tinha ao tirar Almendra e Mac Allister de campo para colocar Zárate e Villa, além de Hurtado, para forçar o jogo pelo alto. Mais do que qualquer fator tático por parte do River, a concentração e os atributos psicológicos foram fundamentais para resistir ao bombardeio aéreo xeneize após o intervalo, que tentava em bolas paradas chegar ao gol com Lisandro López, Izquierdoz e outros. Hurtado chegou a marcar faltando 10 minutos para o fim do jogo, mas a fortaleza mental millonaria não cedeu para assegurar mais uma decisão.
GERSON E EVERTON RIBEIRO: TERMÔMETROS RUBRO-NEGROS
Pelo que foi o primeiro tempo no Maracanã entre Flamengo e Grêmio, ninguém imaginaria que uma goleada histórica seria registrada ao final da noite. Com os desfalques de Luan e Jean Pyerre no meio-campo, o tricolor gaúcho perdeu seus principais articuladores mais à frente e, sem alternativas, se viu obrigado a entrar com setor formado por Michel e Matheus Henrique na base da jogada, e Maicon mais adiantado tentando replicar o papel do homem centralizado da linha de três no 4-2-3-1.
Esse posicionamento de Maicon foi importante para o Grêmio conseguir quebrar o ritmo flamenguista desde a saída com encaixes individualizados. O camisa 5 era a sombra de Willian Arão antes do intervalo, enquanto Matheus Henrique seguia Gerson de perto para impedir as evoluções do time de Jorge Jesus de pé em pé, diminuindo o espaço de ação. Para tirar todas as alternativas possíveis de passe, Everton e Alisson acompanhavam Rafinha e Filipe Luís, tirando a opção de uma saída pelos lados.
Quem encontrava certa liberdade era Everton Ribeiro. Como sempre, buscando a entrelinha, conseguia receber alguns passes para conectar De Arrascaeta, Bruno Henrique e Gabigol. Com movimentos rápidos no último terço, o quarteto ofensivo bagunçava os encaixes em ocasiões onde não eram pressionados e nas costas de Bruno Cortês achavam o melhor corredor para invadir a área.
No fim da primeira etapa, a diferença que Gerson poderia fazer começou a se manifestar. O time de Jorge Jesus não vinha pressionando tanto na marcação, se resguardando de modo mais recuado para defender as bolas longas gremistas. Em um dos momentos onde os rubro-negros subiram a pressão, o meia ex-Roma recuperou a posse e ligou Bruno Henrique de primeira para arrancar contra uma defesa adversária fora de posição, em lance terminando com o gol que abriu a contagem.
A liberdade no ataque e a intensidade defensiva foram maiores no segundo tempo, com Gerson sendo personagem central para essa mudança de postura, contra um Grêmio já desmontado psicologicamente. Após a volta dos vestiários, a goleada foi construída de forma natural, sem a equipe de Renato Gaúcho oferecer maior resistência frente aos gols consecutivos nos primeiros minutos pós-intervalo. Nas bolas paradas, o Flamengo também conseguiu superioridade, consagrando Pablo Marí e Rodrigo Caio ao explorar a deficiência da marcação aérea tricolor na primeira trave.
O fato é que teremos uma decisão que botará frente a frente as duas melhores equipes da América do Sul em 2019. Não apenas os resultados, mas o rendimento tanto de Flamengo quanto de River Plate os credenciam a disputar uma taça nutrindo a expectativa de jogar futebol de alto nível. O contexto de uma final é ímpar, e a experiência do jogo único em campo neutro por competição continental será inédita para ambos. Com um mês até lá, os dois times ainda tem muito a estudar, adaptar e colocar em prática. Muita coisa pode mudar até o dia 23 de novembro. O que não mudará de forma alguma são os méritos com os quais chegaram até a fase decisiva de uma Libertadores disputadíssima.
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