Real Betis e Pellegrini em busca do equilíbrio necessário

Desde que saiu do Manchester City em 2016, Manuel Pellegrini não conseguiu encaixar seus trabalhos na China e no retorno a Inglaterra comandando o West Ham. Sua chegada ao Real Betis é promissora e marca encontro com um clube que passa por uma fase complicada, assim como o mesmo.

Desde o começo da temporada 2018/19 o Real Betis se perdeu em meio a expectativa/realidade. E mesmo sendo um dos projetos mais promissores da Espanha nos últimos anos, não conseguiu se firmar no pelotão de cima. Dessa forma a pressão se tornou ainda maior e hoje o time se reencontra em meio a uma grande crise no futebol mundial por conta da pandemia.

O clube não fez nenhuma grande contratação nessa janela, mas conseguiu finalmente, na figura de Manuel Pellegrini, um técnico renomado e com bons trabalhos na década passada — inclusive na La Liga quando comandou Málaga e Real Madrid.

Fekir e resoluções no ataque

A contratação de Fekir na janela passada foi com certeza a maior prova de que o projeto é extremamente ambicioso e uma nova temporada é o momento certo para transformar seu talento individual acima do que foi na passada. A falta de inconsistência do jogo coletivo como um todo foi o grande pesar nas últimas duas temporadas, e isso afetava diretamente o desempenho individual dos grandes talentos. Fekir é um desses.

Como Pellegrini irá lidar especificamente com esse jogador é a grande chave da temporada, muito por ser o principal criador da equipe, ter um noção de associar incrível e também em tirar jogadas da cartola ao conseguir dribles em espaços curtos. O grande ponto é o físico do jogador. Desde sua lesão não consegue manter contato e ganhar disputas no corpo como antes, e isso implica no quesito driblar em condução, talvez sua melhor característica.

Hoje o francês é a melhor opção para aumentar o ritmo no sistema ofensivo, oferecendo passes para finalização e também infiltrando. Mas é nítido como o coletivo em si melhorou significantemente em relação aos últimos anos — podemos ver na partida contra o Real Madrid como Pellegrini conseguiu punir Zidane em transição nos dois gols marcados.

O time consegue criar e finalizar em uma proporção maior e com mais expectativas de gols do que antes, além de ter uma facilidade maior em furar a defesa adversária. Nesse ponto Canales contribui ao lado de Fekir e consegue ser o motorzinho do time, entregando gols e assistências — nessa temporada conta com duas assistências e um gol em seis jogos.

Atualmente o time não conta com um centroavante artilheiro, e em um campeonato de pontos corridos isso faz muita falta, pois em jogos difíceis, situação frequente na La Liga, é um jogador como esse que decide. Borja Iglesias não conseguiu o mesmo impacto que teve no Espanyol e por isso Antonio Sanabria foi inserido no elenco novamente depois de passar por um período de empréstimo.

Com a equipe do Genoa, o paraguaio fez seis gols e deu duas assistências em 24 jogos (16 como titular) no campeonato italiano.

Problemas no sistema defensivo do Real Betis

Desde Setién, o Betis sofria bastante com falhas no primeiro terço. Rubi não conseguiu resolver essa questão e Pellegrini ainda sofre para solucionar. Mesmo com melhores saídas para o ataque, a defesa ainda é bastante castigada — partidas contra equipes organizadas no trabalho ofensivo como Getafe e Real Sociedad deixaram bem claros alguns problemas.

O terceiro gol, segundo de Ángel Rodriguez, numa falha na saída de bola é algo simples da desatenção, algo que o Getafe sabe usar muito bem contra seus adversários. Já contra a Real Sociedad ficou evidente como o time sofre para proteger a própria área em tantas chances criadas pela equipe basca.

O Getafe de Pepe Bordalás soube utilizar muito bem dos pequenos erros que o Bétis cometeu durante os 90 minutos e marcou três gols em jogadas rápidas e precisas.

A tática tão bem utilizada contra o Real Madrid — retomada e ataques rápidos aproveitando a defesa desorganizada — voltou contra Pellegrini. Erros individuais diminuíram, é nítido uma melhora nesse ponto. Entretanto o coletivo ainda precisa de muitos ajustes, principalmente nas atitudes pós-perda.

Desde a saída de Pau López para a Roma no ano passado, o clube lidava com a inconsistência de Joel Robles — consegue sair de um jogo incrível para falhas atrás de falhas. Claudio Bravo chegou de graça e tende a ajudar nesse sentido mesmo aos 37 anos.

Reencontro com bons momentos

Algo interessante desse novo processo de adaptação ao estilo de Manuel Pellegrini é o florescer do treinador junto do clube. Um projeto bem feito e inerente fora das quatro linhas, mas que ainda enfrenta problemas na prática, ao lado de um treinador que busca recuperar seus ótimos anos da década passada.

A paciência é com certeza uma virtude extremamente necessária para um projeto futebolístico dar certo. É imprescindível que o Real Betis aprenda com erros do passado — demitir Setién não é um deles só para deixar claro, e sim o após. Dentro de campo pode apresentar boas ideias ofensivas, mas ainda assim precisar buscar um equilíbrio maior entre os dois extremos para se manter regular durante toda a temporada.

Na coluna da semana passada podemos notar como o Granada foi pertinente nas suas escolhas e conseguiu surpreender todos na temporada 2019/20. Atrelando aos últimos anos do Real Betis é perfeitamente compreensível a ansiedade em tornar tudo tão imediato vendo equipes com menor poderio financeiro, como Getafe e Granada, chegaram ao bom nível e se manter por lá.

É fato que a pandemia atrapalhou nas contratações e reforços para a defesa foram deixados de lado muito por conta disso, mas visando toda a experiência de Pellegrini podemos esperar grandes mudanças conforme a temporada se desenrola.

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