THE LAST DANCE - A ANÁLISE DE FRANÇA 2 x 1 BRASIL

Por Camila Aveiro Lima Brasil chegou as oitavas de final com a difícil missão de encarar uma das favoritas ao título da Copa do Mundo, a Seleção Francesa comandada por Corinne Diacre. Durante toda fase de grupos a Seleção verde e amarela só encontrou equipes com tipo de marcação semelhante ao seu: os encaixes individuais […]

Por Camila Aveiro Lima

Brasil chegou as oitavas de final com a difícil missão de encarar uma das favoritas ao título da Copa do Mundo, a Seleção Francesa comandada por Corinne Diacre. Durante toda fase de grupos a Seleção verde e amarela só encontrou equipes com tipo de marcação semelhante ao seu: os encaixes individuais por setor. A França, nesse quesito, mostrava algo que fugia da tendência da Copa do Mundo tendo como referência de marcação o espaço em função da bola, o que chamamos de ‘’zonal’’. Porém com algumas perseguições mais longas do que de costume e causando algumas desestrutura em suas linhas de marcação, especialmente a última como nesse lance:

 

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Embora haja compactação das linhas defensivas francesa, a lateral desgarra da linha para pressionar no primeiro momento; Quando a bola é tocada, ela retorna para a linha, mas a zagueira Renard acompanha Marta, deixando sua zona.

 

A partir da imagem acima é possível perceber que embora a referência prioritária seja a marcação do espaço, para pressionar o Brasil a França optou por algumas perseguições mais distantes de sua zona, aproveitando-se da compactação de suas linhas, diferentemente do que vimos na fase de grupos das anfitriãs.

Outro ponto interessante para apontar foi a entrada de Asseyi, camisa 18 francesa, responsável por pressionar a lateral esquerda brasileira Tamires a fim de impedir sua progressão em apoio ao ataque, além de concentrar ações ofensivas pelo lado esquerdo.

 

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Asseyi sempre pressionando Tamires, principalmente em campo defensivo brasileiro.

 

Além da forte marcação em cima da lateral brasileira, Corinne Diacre mostrou que estudou mesmo nosso sistema defensivo e colocou Diani para atacar o espaço defendido por Tamires, que perdeu quase todos os confrontos de 1×1 para a francesa. Parecia o casamento perfeito: potencializava as características da meia-atacante do Paris Saint-Germain ao mesmo tempo em que atacava um dos maiores problemas do Brasil desde o período preparatório para a competição. Era a tônica do jogo e chegou até a originar um gol francês anulado pelo VAR.

Le Sommer também se fez importante no ataque adversário por buscar tirar Letícia de seu setor, arrastando-a para longe e por vezes até fazendo com que a lateral direita do Brasil fosse persegui-la por dentro abrindo todo corredor lateral para ultrapassagens da lateral e camisa 10 francesa, Majri.

 

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Le Sommer em destaque sendo marcada por Letícia, que persegue longe do seu setor.

 

Em contrapartida, era também pelo lado esquerdo da França que o Brasil encontrava espaços: na individualidade de suas jogadoras para o 1×1, nos movimentos de pivô de Cristiane ou na velocidade de seus passes diretos, pensando o jogo para frente, como nessa jogada:

 

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Torrent (lateral esquerda) compacta o time do lado direito, decide perseguir, perde e acaba deixando espaço livre tanto para Debinha quanto para Tamires infiltrar.

 

Um primeiro tempo de muita intensidade e muita pressão na portadora da bola e no momento pós-perda onde as duas equipes cederam espaços, que não foram aproveitados de maneira eficiente por seus oponentes.

Logo no início do segundo tempo a estratégia de Corinne deu certo e os encaixes brasileiros falharam mais uma vez, na jogada que resultou no primeiro gol da partida:

 

 

Mesmo com o gol o jogo continuava oferecendo oportunidades para ambas as equipes tendo o corredor esquerdo das defesas como pontos de definição, pois não foram apenas os encaixes das nossas meninas que falharam. A marcação francesa deixou Thaisa livre para empatar a partida:

 

 

Os números mostravam um confronto equilibrado, as ações de intensidade foram diminuindo pelo cansaço de ambas as equipes e a prorrogação veio para definir a eliminação brasileira e novamente pelo seu setor esquerdo, em uma das jogadas mais fortes do time francês: a jogada área direcionada para Renard ou Henry:

 

 

Apontamos durante meses erros nos comportamentos defensivos, que se repetiam jogo após jogo e continuavam sem mostrar alguma evolução, além dos problemas de criação, por vezes resolvidos por nossa capacidade individual e vontade. Sentimos falta das ausências devido ao excesso de lesões. Batemos o recorde de audiência em um jogo, a maior da história da Copa do Mundo até aqui, mas novamente ficamos no meio do caminho.  O trabalho de Vadão e toda comissão técnica da Seleção Brasileira é criticado pelo desempenho, não única e exclusivamente pelo resultado, inclusive porque o último não pode ser controlado. De quatro em quatro anos ouvimos as meninas pedindo por apoio, por mais estrutura e lamentando o fato de que o sonho mais uma vez terminou sem o sabor da conquista inédita. Jogamos de igual para igual contra uma favorita e dona da casa, que não perdoou nossos erros. Novamente o talento por si só não bastou. Ficou nítida a necessidade de potencializar cada individualidade no contexto coletivo, acertar as peças dessa engrenagem que gere uma equipe de futebol. No nosso sistema defensivo de jogo de pares, essa foi a última dança.

Seguiremos por aqui, acompanhando a modalidade nessa luta diária por profissionalização, com o desejo de que tudo que vivemos na França sirva de lição e contribua positivamente para o desenvolvimento do futebol feminino nessas terras tupiniquins. Seria injusto terminar esse texto sem agradecer a quem tanto representou dentro e também fora de campo e por isso, à Cristiane e Formiga, deixamos o nosso muito obrigado!

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