Série B: três jogadores emprestados que se destacaram no campeonato
Muitos dos destaques da segunda divisão do Campeonato Brasileiro são atletas emprestados. Onde eles estarão em 2020?
No futebol brasileiro, empréstimos costumam unir o útil ao agradável. Muitos clubes querem dar rodagem aos seus jogadores que não seriam tão aproveitados; enquanto outros não tem o poder financeiro para sair contratando um grupo inteiro de forma definitiva, e acabam se aproveitando de atletas cedidos por outras equipes.
Com investimentos muito menores que os de equipes da A, a Série B de 2019 teve ótimos exemplos de jogadores que, emprestados, renderam bastante, tornando-se fundamentais para seus times.
GUILHERME – SPORT (GRÊMIO)
Artilheiro da Série B com 17 gols marcados, o meia Guilherme não é uma novidade no futebol brasileiro. Mesmo com passagens consistentes por Botafogo e Chapecoense, o jogador não parecia convencer o Grêmio, com quem tem contrato até o final de 2020. Aos 24 anos, entretanto, teve a sua melhor temporada, gerando gols para o Sport de Guto Ferreira, que só foi derrotado quatro vezes no campeonato e garantiu o acesso à A.
Partindo da esquerda em um 4-2-3-1, Guilherme cansou de criar chances cortando para dentro com ou sem a bola. Os adversários não encontravam soluções para suas movimentações: atacando a área, aproveitou muito bem os espaços deixados por Hernane, mas também foi produtivo ficando atrás do atacante, arrematando de fora. Foi o quarto jogador com mais finalizações no campeonato: 72 no total, 2.1 por jogo.
O que diferencia Guilherme de outros meias mais chuta-chutas é a sua visão de jogo. Em muitos momentos, ele participou da construção do jogo do Leão, recuando para a linha dos volantes para receber, dada a sua qualidade no passe e na condução. Mesmo com bom arremate, ele não deixa de levantar a cabeça em situações de ataque. Por isso, somou seis assistências no campeonato, deixando dois passes chaves por jogo (69 no total, 6º na Série B). Quando corta para dentro, é inegável que seu primeiro olhar é para o gol — mas ele não deixa de conferir a situação dos seus companheiros antes de arriscar.
MAÍLTON – OPERÁRIO (MIRASSOL)
Formado pelo Palmeiras, Maílton decidiu rescindir com a equipe para assinar com o Mirassol no início do ano, buscando mais tempo de jogo. Ele não só ganhou isso, no Paulistão, como atraiu a atenção de clubes que disputariam alguma divisão do campeonato nacional no restante do ano. Emprestado para o Operário, foi um dos melhores laterais direitos da Série B — se não o melhor.
O jogador de 21 anos tem ótima chegada no ataque, e fez o Fantasma da Vila, 10º colocado no campeonato, focar suas jogadas ofensivas no lado direito. Sua influência é comprovada nos números: foi o líder do time em passes chaves (1.4 por jogo, 39 no total), além de ter sido o vice-artilheiro da equipe, com 4 gols. Contribuiu com cobranças de bola parada, e mostrou ser um ótimo driblador em velocidade.
Sua explosão permite que chegue à frente constantemente sem deixar de ter boas intervenções na defesa. Teve bons números de desarme (5º no quesito entre os laterais), muito porque apresenta ótimo poder de recuperação. Com um campeonato acima da média, Maílton já chamou a atenção de grandes clubes do Brasil; então é provável que seja um dos tantos casos em que empréstimos fazem o atleta desabrochar.
JUAN ALANO – CORITIBA (INTERNACIONAL)
Aos 23 anos, o meio-campista Juan Alano viveu a melhor temporada de sua carreira em 2019. No Internacional, clube em que foi formado, teve poucas oportunidades. Acabou emprestado ao Coritiba, e tornou-se uma das principais peças da equipe paranaense na sua campanha que culminou no acesso à Série A de 2020. Suas atuações vão além dos cinco gols e das cinco assistências distribuídas ao longo da competição.
Jogando por dentro ou aberto, Juan demonstrou ótima capacidade no passe, que, somada às suas conduções, criaram muitas chances para o Coxa. Não à toa, ele está entre os dez jogadores que mais acertaram passes chaves (60 no total, 1.8 por jogo) e dribles (63 certos, 1.9 ao jogo com aproveitamento de 72%) na Série B. Além do passe, sempre causou perigo com arremates de longa distância, tanto com a direita, sua perna preferida, como com a esquerda.
Suas melhores atuações saíram de quando atuou por dentro, primeiro no 4-3-3 de Umberto Louzer e depois no 4-4-2 de Jorginho. Quando aberto, ofereceu mais soluções em contra-ataques, mas foi menos influente nas trocas de passes. Defensivamente, precisa evoluir se quiser figurar entre os interiores de uma grande equipe brasileira. Muitas vezes superado física e posicionalmente, precisa recorrer a faltas — recebeu sete amarelos no campeonato. Ainda assim, apresenta recursos suficientes para ser uma ótima peça na Série A.
MENÇÕES HONROSAS
Empréstimos das mais diferentes procedências rechearam os times da Série B. Algumas equipes respiraram no campeonato com a intervenção de atletas que vieram de divisões inferiores. Foi o caso da Ponte Preta, que recebeu o experiente Renato Cajá, do Juventude, que estava na Série C. Em 12 jogos, ele participou diretamente de cinco gols e livrou a Macaca de qualquer risco de queda à C.
Quem também lutou para se manter na B foi o Guarani, que ganhou solidez com o zagueiro Luiz Gustavo, emprestado em julho pelo Vasco. Da Série A também vieram Charles (Internacional), líder em desarmes no campeonato jogando pelo Sport, e Sabino, do Santos, que comandou a defesa do promovido Coritiba e foi um dos melhores zagueiros da segunda divisão.
Há jogadores emprestados por clubes europeus. Ricardo Ryller veio do Braga para ajudar o Bragantino a garantir o acesso à Série A. Outro jogador trazido ao Brasil de Portugal foi o centroavante Pedro Raúl, do Atlético Goianiense. Contestado no início do torneio, o atleta emprestado pelo Vitória de Guimarães participou diretamente de seis gols nas últimas nove partidas e ajudou o Dragão a subir para a primeira divisão.
A Série B tem se tornado uma vitrine interessante. Os clubes têm percebido isso, e, na incansável busca por um bem comum, empréstimos serão cada vez mais habituais.
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