Três motivos para o nível baixo do Brasileirão 2022
O nível do Campeonato Brasileiro está muito longe de ser satisfatório em 2022. Alguns fatores nos ajudam a entender o porquê dessa queda.
O nível do Campeonato Brasileiro em 2022 está baixo. Jogos ruins, equipes desorganizadas, muita lentidão, falta de padrão, muita oscilação… Em uma competição com muitos pontos perdidos por todos os clubes até aqui, a distância entre o 4° colocado e o 17° é de seis pontos. Além disso, com o aproveitamento atual, o campeão terminaria o torneio com 68 pontos, a menor marca desde 2009, quando o Flamengo venceu com 67.
Por que o Brasileirão está tão ruim de assistir? O que explica uma queda de rendimento tão grande depois de uma temporada boa em 2021, com retorno de jogadores de peso (Hulk, Renato Augusto, Willian, Miranda), a afirmação de jovens como Danilo, Artur, Ademir, Yuri Alberto, o excelente nível coletivo de Atlético-MG e Palmeiras, o Flamengo com um alto aproveitamento apesar da perda dos títulos e Red Bull Bragantino, Fortaleza e América-MG no melhor ano de suas histórias? Vamos listar algumas razões.
O período de disputa da Libertadores e da Sul-Americana
Com a Copa do Mundo no final do ano, as competições do calendário brasileiro e sul-americano deverão acabar um mês antes do habitual. Dessa forma, existem menos datas para jogar e as partidas estão comprimidas em menos tempo. Esse contexto causou uma novidade no nosso futebol: a fase de grupos da Libertadores e da Copa Sul-Americana foram disputadas APÓS o início do Brasileirão.
Em 2021, por exemplo, com o calendário também bagunçado pela pandemia, as primeiras fases das duas competições continentais aconteceram simultaneamente aos Estaduais. Ou seja, poupa no Estadual, com adversários mais fracos e viagens menores e joga com força total na Libertadores/Sula. Ao todo, 16 equipes dividiram as atenções entre Brasileirão e competições da Conmebol, algumas delas sem orçamento e elenco capazes de suportar tantos jogos e viagens, como Cuiabá, Atlético-GO, Fortaleza. Sem contar a Copa do Brasil.
Dificuldades cíclicas
Quando um time atinge o ápice, é natural que haja um queda de rendimento na sequência. Também é natural que após um tempo com o mesmo treinador ou o mesmo elenco, a mobilização coletiva seja mais difícil. Ter força para escalar uma montanha uma vez já é muito difícil, mas para escalar várias vezes é mais difícil ainda. A excelência gera desgastes.
Esse é um dos motivos para Cuca, após ter atingido o ápice com o Atlético-MG, ter optado por sair e deixar o clube escalar a montanha novamente, mas com outro treinador. Se o trabalho não se manteve, também não se mantiveram os desgastes, zerou tudo. Agora o Galo passa pelas dificuldades naturais da troca de comando e, por isso, não está no mesmo nível de 2021.
Outro exemplo disso pode ser o Bragantino, que teve a melhor temporada da sua história em 2021, com o vice da Sul-Americana e a classificação direta para a Libertadores, além de ser comandado por Maurício Barbieri há quase dois anos. Há a imensa dificuldade do calendário, mas será que o time tem força mental para subir a montanha novamente?
Não podemos deixar de citar o Flamengo. O Rubro-Negro tem praticamente o mesmo elenco desde 2019 e, desde aquele ano histórico para o clube, vem caindo de rendimento anualmente, até chegar no ponto mais baixo em 2022. É verdade que algumas peças novas apareceram, como David Luiz, Pablo, Ayrton Lucas, João Gomes, Lázaro e Paulo Sousa chegou para liderar uma reformulação. Contudo, as mudanças foram poucas e o mesmo ambiente péssimo que culminou nas saídas de Dome, Rogério Ceni e Renato Gaúcho se repetiu.
Crises financeiras agravadas
Com as receitas comprometidas pela pandemia em 2020 e 2021 e o país em grave crise econômica, as dificuldades financeiras dos clubes brasileiros, que nunca foram poucas, aumentaram nos últimos dois anos. Campeão brasileiro e da Copa do Brasil, o Atlético tem R$1,3 bilhão em dívidas, tanto que segurou os investimentos para 2022 e já vendeu atletas como Savarino e Dylan Borrero, que não eram titulares, mas encorpavam o elenco, além de ter vendido o capitão Júnior Alonso para o Krasnodar-RUS. O zagueiro, no entanto, voltou por empréstimo após o início da guerra na Ucrânia.
O Palmeiras, apesar de ter feito sete contratações no ano, não trouxe ninguém caríssimo, está controlando custos e abriu mão de jogadores importantes como Felipe Melo, Willian e Patrick de Paula. O Internacional vendeu Yuri Alberto, seu artilheiro, enquanto o São Paulo vendeu Tiago Volpi, Marquinhos e se prepara para perder mais algum atleta no meio do ano. O América-MG também perdeu seu grande jogador, Ademir, mesmo caso do Fortaleza, que se viu obrigado a liberar o volante Ederson, fundamental no ano passado. Já o Fluminense perderá seu melhor jogador em julho, quando Luiz Henrique irá para o Real Bétis. Mesmo as vendas de jogadores reservas fazem a diferença, porque diminuem a profundidade dos elencos, dificultando o revezamento e aumentando o desgaste.
Problemas já conhecidos
Percebe-se que não há nada de novo entre os problemas listados acima. Problemas de calendário, trocas de treinador e falta de dinheiro acontecem há muito tempo no futebol brasileiro, mas foram intensificadas pela pandemia e pela Copa do Mundo em 2022. Ninguém treina, ninguém descansa o corpo, ninguém descansa a mente e quem acompanha o Brasileirão precisa gostar muito para assistir aos jogos que temos visto. Quem sabe a situação melhore com a janela de transferências de julho e a eliminação de boa parte das equipes nos mata-matas.
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