Três questões na Seleção Argentina às vésperas da estreia nas Eliminatórias
Apesar do crescimento nos jogos mais recentes, dúvidas sobre ajustes e reposições a atletas lesionados pairam sobre a equipe para os duelos contra Equador e Bolívia
A batalha por um posto na Copa do Mundo de 2022 terá início na América do Sul. Nesta próxima quinta-feira (8), as Eliminatórias iniciam para as 10 seleções do continente. E para a Seleção Argentina, a expectativa é de uma classificação com bem menos emoção do que se viu na Copa de 2018, quando Lionel Messi carregou a equipe para a Rússia ao comandar uma dramática virada sobre o Equador no Atahualpa.
Muita coisa mudou desde aquele 10 de outubro de 2017 na Albiceleste, incluindo o comando técnico. Hoje com Lionel Scaloni na casamata, os argentinos tentam encontrar o caminho da estabilidade, que parece vir aos poucos. Depois de um começo pouco promissor e de baixo rendimento, as últimas exibições deixaram impressões melhores, com ideias de jogo mais claras e que vão se assentando. Por outro lado, algumas questões individuais ainda trazem certa inquietude, principalmente neste curto prazo para a largada das Eliminatórias.
Antes mesmo da bola rolar, Scaloni já precisou lidar com algumas baixas. Com papeis mais efeitivos no time, Renzo Saravia rompeu os ligamentos de seu joelho em ação pelo Inter e Agustín Marchesín teve lesão nas costas com o Porto. Dos que correm por fora, Walter Kannemann testou positivo para Covid-19 e Joaquín Correa foi vítima de um problema muscular em partida da Lazio contra a Atalanta. Fora isso, algumas situações seguem gerando disputas interessantes por um lugar ao sol com a camisa bicampeã mundial. Em meio a tudo isso, pelo menos três pontos são dignos de serem observados de perto nestas partidas contra Equador e Bolívia.
A eterna briga na meta
Se há um espaço na Seleção Argentina onde a corrida pela preferência de Scaloni é completamente aberta a cada convocação, este espaço é na vaga de goleiro. A última década foi de enorme indefinição e de muitas oscilações em um posto onde ter segurança é mandatório. Desde 2018, quem vem acumulando mais minutos é Franco Armani. Tendo assumido a meta ainda durante a última Copa do Mundo após as falhas de Willy Caballero, foi bastante utilizado em amistosos e na Copa América em 2019. Entretanto, viu a disputa esquentar nas últimas partidas.
Marchesín, agora fora de combate, recebeu oportunidades, assim como Esteban Andrada. Aliás, o arqueiro do Boca Juniors vem com um cartaz bastante forte desde o ano passado. Eleito o melhor goleiro da última Superliga e com números impressionantes na meta xeneize – são 45 clean sheets em 69 jogos pelo clube –, agradou pela segurança transmitida nos confrontos recentes contra México e Brasil. Além do grande trabalho sob a meta, o extra que oferece a partir de seu jogo com os pés é um diferencial. Não fosse a lesão que o tirou de ação no período da última Copa América, muito possivelmente já teria efetivado sua titularidade na Seleção.
Quem luta por uma chance nestas partidas contra Bolívia e Equador é Emiliano Martínez. Com a lesão de Marchesín, o goleiro do Aston Villa pode ganhar tempo de jogo caso Scaloni opte por revezar os atletas nestes dois confrontos. Em franca ascensão nos últimos meses, com boas atuações pelo Arsenal e uma estreia promissora pelos Lions, Martínez começa a se colocar no radar com maior consistência e não seria nada absurdo vê-lo em campo.
Juan Foyth e a saga na lateral
Zagueiro de origem, Juan Foyth costuma ser um escape de emergência para a lateral-direita no Tottenham e na Seleção Argentina. Com a ausência do lesionado Renzo Saravia, a possibilidade do jovem defensor de 22 anos aparecer novamente nesta posição é grande. Encarar esta situação não é nenhuma novidade para ele sob o comando de Lionel Scaloni. Nas últimas 4 partidas da albiceleste, em 3 foi titular pelo corredor destro.
Claro que não se pode esperar um alto desempenho de Foyth em fase ofensiva. Quando lateral, costuma ficar mais preso para dar maior retenção atrás e liberar algum jogador de meio para dar profundidade pela direita. Além disto, sua presença permite maior flexibilidade tática. No amistoso contra a Alemanha, por exemplo, iniciou como lateral em um 4-3-1-2 e após o intervalo se tornou zagueiro pela direita na alteração da equipe para o 3-4-3.
Caso Foyth não seja a opção, Gonzalo Montiel deve pintar na posição se confirmado na lista final, onde os atletas que atuam nos times domésticos serão incluídos. Com a presença do atleta do River Plate, a figura muda consideravelmente, podendo entregar à equipe algo semelhante ao que Saravia, em tese, daria a partir de suas características.
O(s) parceiro(s) para Lionel Messi
A dúvida entre o plural e o singular faz sentido, afinal, Scaloni variou bastante entre esquemas com dois e três atacantes ao longo de 2019. Nisto, Paulo Dybala e Lautaro Martínez travam um duelo particular para ver quem fica com a preferência ou se abraçam uma oportunidade juntos ao lado de Messi. O fato é que encaixar os três é plenamente viável, mesmo com apenas dois homens de frente.
Dentro do que já foi trabalhado e testado no último ano na Seleção Argentina, há pelo menos três possibilidades. A primeira delas – e mais óbvia – é investir no 4-3-3, com o trio Messi/Dybala/Lautaro juntos e variando seus posicionamentos dentro da linha mais avançada. Entretanto, nas vezes em que atuou neste sistema, a equipe teve grande dificuldade em ocupar o meio-campo com qualidade. A segunda alternativa, que também pode englobar os três, é a utilização do 4-3-1-2. Desta forma, Messi e Dybala podem revezar suas localizações entre o comando de ataque e a entrelinha, enquanto Lautaro Martínez funciona como uma peça mais fixa nas proximidades da área adversária.
O último cenário, invariavelmente, excluiria ou Lautaro ou Dybala dos 11 iniciais. O 4-4-2 tradicional é mais um sistema que pode ser colocado em prática, embora exija um poder de chegada à frente muito maior dos meio-campista que escoltam os dois homens mais avançados. Sem esta aproximação, o trabalho de Messi fica bastante comprometido, sobretudo pela falta de opções para acionar em profundidade. Em novembro passado, contra o Brasil, este esquema foi empregado com Messi e Martínez juntos, contando com as investidas de Ocampos e De Paul descendo pelos lados.
Independente de qualquer coisa, as experiências seguem acontecendo no laboratório de Scaloni. A parada da pandemia afetou a sequência de testes no time, mas a Argentina já esteve muito mais distante de encontrar uma ideia sustentável sob o comando do técnico de 42 anos. Ainda há muito a ser feito. Entretanto, o caminho ganhou uma boa pavimentação no final de 2019. Dar sequência ao que vinha sendo proposto é fundamental para ter um início positivo nas Eliminatórias e, se tudo correr como o planejado, evitar a montanha-russa do último ciclo de Copa do Mundo.
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