Um Grêmio ainda incompleto para 2022
O Grêmio está sabendo se adaptar financeiramente à realidade da Série B. Tatica e tecnicamente, no entanto, a situação ainda é incerta.
Certamente você já ouviu que o Grêmio de 2021 é o melhor rebaixado da história. Com um elenco caro e capaz de brigar por títulos, o Tricolor sofreu um descenso inesperado e agora busca se adequar à realidade da segundona, prevendo uma queda de 40% nas receitas. Isso se traduz em ajustes no elenco, que ainda parece incompleto.
Antes de analisar os contratados e as valências do elenco como um todo, vale relembrar o modelo de jogo implantado por Vagner Mancini nos 14 jogos no comando do Grêmio na reta final de 2021. Em linhas gerais, o time marcava por encaixes dentro do setor, ou seja, se um rival se movimentou na região protegida por um lateral, ele deve grudar no adversário até o oponente invadir a área de outro jogador. Em termos ofensivos, os pontas eram muito privilegiados por Mancini, afinal, a equipe buscava acioná-los em condições de acelerar ou partir para o drible tanto em fase ofensiva, quanto nos contra-ataques. Falando em fase ofensiva, o Grêmio tentava promover muitas aproximações e triangulações para progredir em campo, jogando em dois toques até acionar os atacantes de lado ou o pivô de Diego Souza.
Não foi suficiente para evitar o rebaixamento, porém o time esboçou uma reação nos jogos finais do Brasileirão. Assim sendo, Mancini foi mantido no cargo e alguns pilares seguem no elenco, então podemos partir do princípio que o modelo de jogo gremista não deve sofrer grandes alterações. Dito isso, logo de cara, uma preocupação: as laterais.
Orejuela chegou para o lado direito e tem grande potência para atacar o corredor em ultrapassagens, algo que agrada ao treinador. Contudo, pouco jogou no último ano pelo São Paulo, teve problemas físicos e busca se recuperar. Seu reserva, em teoria, é Léo Gomes, um atleta de bom nível, porém inativo há mais de dois anos por lesões. Seria importante encontrar mais uma opção para a função. Já no lado esquerdo, Nicolas foi uma boa solução para uma posição problemática em 2021, com desempenhos ruins de Cortez e Diogo Barbosa, além de improvisações com Rafinha. O reforço possui força física, boa estatura, explosão e preenche todo o corredor. Para a reserva, estão o próprio Diogo e o promissor Guilherme Guedes.
Na zaga, Ruan foi para o Sassuolo, porém a dupla Geromel e Kannemann está mantida. Ambos são especialistas em marcar por encaixes e, devido a idade, não devem jogar todas. Nesse sentido, Rodrigues e Bruno Alves, recém-chegado do São Paulo, são substituições a altura por terem velocidade e imposição física para as disputas de bola constante decorrentes do sistema de marcação.
No meio-campo, poucas modificações. A ideia deve ser mantida com os meias próximos da bola, garantindo superioridade numérica onde a pelota estiver para facilitar a troca de passes. Campaz e Villasanti são os principais nomes nesse aspecto, junto de Benítez, recém-chegado. Sua contratação faz sentido pensando na criatividade e capacidade de jogar em espaço curto frente às inúmeras defesas fechadas que aparecerão no caminho gremista na Série B. Por outro lado, o jogo mais brigado, os gramados pesados e as longas viagens características da segunda divisão podem prejudicar muito o atleta, conhecido por sua parte física frágil.
Os volantes também contribuem para a troca de passes, especialmente Lucas Silva e Bobsin, porém também podem fazer movimentos de infiltração. Thiago Santos deve continuar como o titular na cabeça da área, enquanto Mateus Sarará e Fernando Henrique têm tudo para evoluir ao longo do ano e aumentar a capacidade de imposição física no meio-campo, tão fundamental na Série B.
No ataque, uma escassez de pontas. Somente Ferreirinha e Janderson aparecem como opções, uma vez que Douglas Costa, Everton, Alisson e Léo Pereira não fazem mais parte do elenco e Jhonata Robert só deve voltar de lesão no 2° semestre. Como dito anteriormente, esses atletas são essenciais na puxada de contra-ataque, lances de mano a mano e também entrando na área para finalizar. Precisa contratar por ali. Os centroavantes Diego Souza e Churín preocupam pela idade mais avançada e a dificuldade de se manterem em forma, mas são fortes, grandes, bons jogando de costas e no jogo aéreo. Características valiosas para empurrar as linhas defensivas para trás, prender zagueiros e fazer gols de cabeça. Por sua vez, Elias é mais móvel e muito capaz de jogar dentro da área também.
Financeiramente, o Grêmio sabe o que é a segunda divisão e está sabendo reduzir custos sem ter uma queda acentuada de qualidade no elenco. Quando pensamos no campo e bola, vemos contratações que podem encaixar no modelo de jogo, porém levantam dúvidas por questões físicas e maus desempenhos recentes. Ademais, existem posições carentes. Alguns jogadores da equipe de transição, com Rildo, Matheus Frizzo e Pedro Lucas podem ser reforços úteis, contudo ainda não é possível dizer se o Tricolor entendeu as demandas táticas e técnicas da Série B.
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