Um treinador formado em casa
Após o título do Corinthians sob o comando de Fábio Carille, o futebol brasileiro começou a “surfar na onda” de que os auxiliares, identificados com o clube e com anos dentro de casa, eram as soluções para a conquista de títulos. Entre nomes como Jair Ventura, Alberto Valentim, Mauricio Barbieri, Thiago Larghi e tantos outros daquele período […]
Após o título do Corinthians sob o comando de Fábio Carille, o futebol brasileiro começou a “surfar na onda” de que os auxiliares, identificados com o clube e com anos dentro de casa, eram as soluções para a conquista de títulos. Entre nomes como Jair Ventura, Alberto Valentim, Mauricio Barbieri, Thiago Larghi e tantos outros daquele período entre 2016-2017, estava Odair Hellmann.
Não foi um caminho tranquilo para o atual treinador do Internacional que, atualmente, tem apenas um ano e meio de carreira como técnico principal e chega em sua primeira final de competição nacional. O ‘Papito’, como é chamado pelos jogadores, assumiu a equipe nas últimas duas rodadas do Campeonato Brasileiro da Série B em 2017. No ano seguinte, chegou ao terceiro lugar do Brasileirão 2018 e se classificou a Libertadores de 2019.
Para entender os seus conceitos, precisamos começar voltando no tempo e buscar entender o que seu antecessor (Guto Ferreira) fazia com o time do Internacional buscando o acesso à Série A do Brasileirão. Na imagem abaixo, temos um esqueleto da equipe considera titular pelo até então treinador.
Precisando propor jogo – e não conseguindo – Guto Ferreira mantinha um 1-4-2-3-1 como esquema base para sua equipe. Nesta equipe, D’Alessandro fazia vezes de enganche, mas também recuava como um interior esquerdo para ajudar com a bola na base da jogada. Pottker e Sasha eram responsáveis pela transição pelos lados do campo, enquanto Leandro Damião ajudava a equipe com profundidade para manter as linhas dos adversários mais próximas da meta contrária e, assim, ter espaços para o camisa 10 criar jogo.
Guto Ferreira foi demitido na antepenúltima rodada da Série B e então, ainda como interior, Odair Hellmann assumiu a equipe do Colorado.
Em diversas entrevistas, o atual treinador do time sempre declarou que gostava de times que buscavam ter a posse de bola e, assim sendo, dominar os seus adversários. Não seria diferente nos seus primeiros momentos na casamata do Internacional.
O treinador manteve o 1-4-2-3-1, mas fez algumas alterações em nomes – e por consequência – características diferentes ao time. Iago entrou no lugar de Uendel e trouxe mais intensidade ao setor esquerdo que também começava a contar com Patrick, recém vindo do Sport. Na lateral direita, Fabiano conquistou a vaga. Diferente de Cláudio Winck, um lateral que servia para ficar na base da jogada e dar liberdade ao extrema direita, que na ocasião era William Pottker.
O início do Campeonato Brasileiro não foi dos mais promissores e com apenas uma vitória em cinco jogos, Odair contou com a parada da Copa do Mundo para fazer alterações que tornaram a equipe mais competitiva naquele momento. As críticas recebidas era de que o time estava “faceiro”, mas a verdade é que, se a análise fosse mais a fundo, não era difícil perceber que o elenco tinha um grupo com jogadores de características mais reativa. Foi então que vieram as mudanças.
O que fez Odair Hellmann? Nico López virou o titular na extrema direita, fazendo com que William Pottker fosse deslocado ao lado esquerdo (apesar de ambos inverterem bastante de posição). Enquanto isso, Patrick se alinhava a Edenílson e equipe passou a se acomodar num 1-4-3-3/1-4-1-4-1.
Quais vantagens naquele momento? Fabiano dava liberdade para movimentação de Nico López por todo campo e o uruguaio vivia, talvez, seu melhor momento individual. Além disso, ganhava no poder de transição com Edenílson, Patrick e Pottker por dentro.
Pensando no momento defensivo, Rodrigo Dourado, mais posicionado, começou a se destacar com as antecipações ao lado da dupla Rodrigo Moledo e Victor Cuesta. Em que pese a grande imposição física do camisa 4, ele também não deixava o adversário tomar a frente da jogada.
Foi com esta base de time que o Inter conquistou o terceiro lugar no Brasileirão logo após subir da Série B e, dentro da competição, uma sequência de 22 jogos e 2 derrotas. Para o início de 2019, Odair perderia duas peças fundamentais neste time: Fabiano e Leandro Damião.
O Inter até anunciou a contratação de Paolo Guerrero, mas o jogador estava suspenso por questões de doping e ainda não estava liberado para atuar. Zeca e Bruno foram os reforços para a lateral direita, enquanto Rafael Sóbis foi outro a chegar para compor o ataque.
Num primeiro momento do ano, Odair se manteve fiel ao 1-4-3-3/1-4-1-4-1, mas sem um centroavante para dar sustenção e profundidade, a equipe sofria, mas tinha um Nico López com ainda mais liberdade para flutuar entre os setores e que decidiu durante uma boa parte daquele trimestre. Na direita, Zeca ainda não gerava confiança ao voltar a atuar na lateral direita e Bruno não apresentava ritmo de jogo. As coisas começaram a mudar a partir da saída de Iago, da lesão de Dourado e a liberação de Guerrero.
Símbolo da sustentação defensiva da equipe, Rodrigo Dourado sofreu uma grave lesão em seu joelho – inclusive segue de fora do grupo – o que acarretou na entrada de Rodrigo Lindoso. O ex-jogador do Botafogo, acostumado a atuar um pouco mais adiantado na equipe carioca, acelerava mais a transição do Inter a partir do passe, o que abriu a possibilidade de Odair Hellmann deixar a equipe um pouco mais propositiva.
A entrada de Guerrero, como explicado no texto sobre o jogador, deu a equipe a profundidade perdida com a saída de Leandro Damião. A equipe voltava a tomar forma e teve grandes embates contra Cruzeiro e Palmeiras na própria Copa do Brasil.
Por fim, a lateral esquerda sofreu uma mudanças bem importante. A saída de Iago tirou a velocidade na transição da equipe pela esquerda – o que trouxe um período de turbulência – em comparação a Uendel. Diferente do atleta agora no Augsburg, o camisa 6 busca um jogo de mais aproximação e isso, de certa forma, também ajuda numa equipe que propõe, apesar de perder em outras características.
Odair Hellmann pode ter surfado numa onda que já acabou, mas entre os nomes citados na abertura do texto, é o único (ao lado de Carille) que conseguiu manter um trabalho sólido e consistente para estar na elite do futebol nacional. Um técnico que quer proposição, flertou com a reação e agora volta a sua identidade. A final da Copa do Brasil pode ser o primeiro passo para a consolidação de um trabalho que já se mostrou qualificado.
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