25 ANOS DO TETRA - BRASIL 2x0 RÚSSIA - AGRESSIVIDADE E CONTROLE
Por Rodrigo Coutinho É chegado o aguardado dia. Há 25 anos o Brasil estreava na Copa do Mundo realizada nos Estados Unidos contra a Rússia, primeira adversária no Grupo B, que ainda tinha Camarões e Suécia. O placar de 2×0 foi pouco pela superioridade do Brasil ao longo dos 90 minutos. A primeira demonstração de […]
Por Rodrigo Coutinho
É chegado o aguardado dia. Há 25 anos o Brasil estreava na Copa do Mundo realizada nos Estados Unidos contra a Rússia, primeira adversária no Grupo B, que ainda tinha Camarões e Suécia. O placar de 2×0 foi pouco pela superioridade do Brasil ao longo dos 90 minutos. A primeira demonstração de capacidade de entendimento de jogo dada naquele Mundial. A Seleção foi muito agressiva no 1º tempo, teve volume grande até marcar com Romário, e na 2ª etapa controlou o ritmo das ações. Estratégia inteligente se considerarmos os mais de 30ºC em um jogo ocorrido às 11h da manhã, horário local.
O adversário
A seleção russa chegou ao Mundial de 1994 bem enfraquecida. O técnico Pavel Sadyrin se envolveu em uma polêmica com alguns jogadores em virtude do valor de premiação dado pela Federação Russa em virtude da classificação para a Copa do Mundo. Cinco atletas importantes acabaram pedindo dispensa da convocação. Nas Eliminatórias, se classificou em segundo em um grupo que a Grécia foi a líder, e ainda tinha Islândia, Hungria e Luxemburgo. Era a primeira competição disputada após a dissolução da União Soviética. Os atletas mais badalados daquele plantel eram o goleiro Kharine, que atuava no Chelsea, e os atacantes Yuran e Radchenko, que jogavam em Benfica e Racing Santander respectivamente.
Em modelo de jogo, a Rússia era uma equipe que apostava na intensidade dos seus encaixes de marcação. Era praticamente uma marcação individual. Cada atleta tinha o seu alvo e a ordem era acompanhar o adversário com agressividade para retomar a bola e acionar os atacantes em velocidade. Com a bola, se destacavam os meio-campistas Piatiniski, Tsymbalar e Karpin. Tinham boa técnica, mas a movimentação ofensiva da equipe era bem pobre. Por mais que evitassem a ligação direta e buscassem a troca de passes curtos, faltava uma melhor execução coletiva. O lateral-direito Gorlukovich também se destacava pela força e velocidade. O esquema era o 4-4-2, mas ele se ‘’deformava’’ com as perseguições individuais.
O Jogo
Já com Márcio Santos no lugar do cortado Ricardo Gomes, o Brasil entrou em campo com a mesma base da reta final das Eliminatórias e da preparação. Branco, com dores lombares crônicas, deu lugar a Leonardo na lateral-esquerda. De uma certa forma essas mexidas deram mais vitalidade e velocidade à equipe, principalmente nas ações defensivas. Desde o primeiro minuto o Brasil tomou as rédeas do jogo e assumiu controle através da posse de bola, marca daquele time.
O time revelava um certo nervosismo, evidenciado em erros primários iniciais na circulação da bola, mesmo assim não faltou atitude. Tanto que, com dez minutos, a Seleção já havia chegado com perigo três vezes, duas delas com Romário e uma com Bebeto. Além deste caráter dominante com a bola, o Brasil tinha uma característica incomum àquela época. Pressionava rápido após perder a bola. Queria ter a posse e isso era inegociável. A Rússia só conseguiu uma finalização em todo o 1º tempo. Ela veio ainda aos 13 minutos, em erro de Dunga na saída de bola, mas seguramente parada por Taffarel.
Relembre o primeiro capítulo da série “25 anos do Tetra – o espinhoso caminho até a Copa”
O camisa 8 era parte muito importante na equipe. No Brasil se tem muito a ideia do capitão raçudo, que dava bronca nos demais jogadores e tinha força de marcação, mas Dunga era muito mais do que isso. Possuía um bom passe, capacidade de distribuição de jogo e leitura de espaços em todas as fases do jogo. Tanto que era a principal ferramenta na construção inicial da equipe. Ficava um pouco à frente de Mauro Silva e da dupla de zaga, flutuando na intermediária e escolhendo o foco das jogadas (veja animação abaixo). Posteriormente acionava Raí ou Zinho, que flutuavam dos lados para dentro e abriam o corredor para as ultrapassagens dos laterais.
Outro ponto importante a ser citado era a liberdade que Jorginho e Leonardo tinham. Apoiavam simultaneamente, buscavam associações com os meias e atacantes seguidamente. A movimentação de Romário e Bebeto era uma aula para qualquer atacante. Excetuando a altíssima técnica e genialidade de ambos, a dupla do Tetra promovia diagonais curtas em cima da última linha defensiva adversária e revezavam entre profundidade e flutuação nas costas dos volantes oponentes.
Baseado neste conjunto coletivo, o Brasil venceu o natural nervosismo inicial e a intensidade da marcação russa, empurrou o adversário pra trás e criou três bons ataques antes de abrir o placar com Romário, em escanteio cobrado Bebeto aos 26 minutos. O próprio camisa 7 e Zinho chegaram perto de ampliar ainda na 1ª etapa. Nos últimos dez minutos, a Seleção reduziu o ritmo em virtude do forte calor, mas seguiu superior.
Na volta do intervalo, um misto de desconcentração inicial e relaxamento pelo domínio do 1º tempo, acabou permitindo à Rússia um período maior de posse e um chute perigoso de Gorlukovich na entrada da área. Foi a senha para o time acordar novamente e acionar Romário após boa troca de passes. O Baixinho invadiu a área em grande jogada individual, deu uma ‘’caneta’’, e foi derrubado por trás por Nikiforov. Raí deslocou Kharine na cobrança e marcou o segundo aos 8 minutos do 2º tempo.
Com a vantagem e a superioridade nas ações, foi a vez do Brasil colocar em prática o seu caráter controlador. Tirou a velocidade do jogo e fez o que aquela equipe fazia como poucas na história das Copas: se defendia com a bola. Trocava passes de um lado a outro com muita paciência, e só verticalizava as jogadas quando percebia a possibilidade nítida de uma chance de gol. Talvez por falta deste entendimento, a imprensa na época fazia tantas críticas ao time de Parreira.
Mesmo bem menos agressivo, o Brasil ainda criou quatro ocasiões bem claras no restante da partida. Bebeto obrigou Kharine a fazer três ótimas defesas. Romário chegou perto de marcar de peixinho. O time ainda perderia Ricardo Rocha de forma definitiva para o Mundial em lesão sofrida no 2º tempo. Aldair entrou em seu lugar. Mazinho foi outro a sair do banco para substituir o cansado Dunga no finalzinho. A Rússia só finalizaria mais duas vezes até o apito derradeiro, ambas sem contundência.
Mais do que dar confiança e deixar uma boa impressão inicial, a vitória sobre a Rússia deu a primeira colocação do Grupo para o Brasil. No dia anterior, Camarões e Suécia haviam empatado em 2×2 em Los Angeles.
Daqui a quatro dias vamos saber como o Brasil venceu Camarões.
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