Um pedaço de Togo no Paraguai: a chegada de Adebayor ao Olimpia
Os tricampeões da América fugiram do óbvio e protagonizaram um dos negócios mais surpreendentes dos últimos anos ao contratar o veteraníssimo Emmanuel Adebayor
De tempos em tempos, os clubes sul-americanos concretizam algumas transferências que até podem ser consideradas inusitadas para o nosso cenário. Em 2020, foi a vez do Olimpia ligar o modo Football Manager e trazer Emmanuel Adebayor. Aqui no Brasil, já vimos Clarence Seedorf e, mais recentemente, Keisuke Honda no Botafogo. O francês David Trezeguet, já na reta final de sua carreira, vestiu a camisa do River Plate e posteriormente do Newell’s Old Boys entre 2012 e 2014.
O experiente atacante togolês chega para desbravar o hemisfério sul não apenas por sua capacidade técnica, mas também para o Olimpia explorar o marketing em torno dele. E essa jogada fora das quatro linhas vem dando muito certo, visto que os paraguaios conseguiram praticamente dobrar o seu número de sócios desde que ele foi anunciado.
Já dentro de campo, os franjeados ganham uma alternativa de muita imposição física e poder de finalização no centro do ataque, mas sem perder mobilidade por conta disso. O jogador de 36 anos já está bem longe da forma exibida nos tempos de Arsenal, Manchester City e Tottenham, onde empilhava gols. Entretanto, isso não significa que não possa contribuir dentro do contexto estabelecido pelo técnico Daniel Garnero.
Nas suas exibições em anos mais recentes no futebol turco, seja pelo Istanbul Basaksehir ou pelo Kayserispor, se viu um Adebayor menos explosivo e mais inteligente em suas movimentações. A intensidade para atacar espaços às costas da defesa deu lugar a uma versão sua de maior associação para gerar justamente estes espaços. Foi mais comum vê-lo se aproximando dos lados do campo para tabelar e tentar o passe de ruptura do que brigando entre os defensores, embora sua média de 17 gols em 36 jogos na temporada 2017/2018 tenha sido muita boa mesmo assim.
Como foram os primeiros minutos de Adebayor?
Agora em Assunção, o atacante se insere em um cenário onde, em um primeiro momento, será opção para o posto atualmente ocupado por Roque Santa Cruz. Inclusive, logo em sua estreia – nada mais do que num clássico contra o Cerro Porteño – entrou após o intervalo na vaga do veterano avançado paraguaio, permanecendo 50 minutos em campo. Nesta primeira amostra com a camisa decana, Adebayor já demonstrou sua perspicácia ao sair da área para ajudar na construção dos ataques e a capacidade do desmarque curto para receber em condições de finalizar.
Dentro do 4-4-2 armado por Daniel Garnero, o togolês pareceu confortável tendo ao seu lado um jogador de muita flutuação como Derlis González. Livre para procurar as melhores zonas disponíveis, o ex-santista ofereceu boa alternativa de passe e tabela nos momentos em que o seu novo companheiro recuava para trabalhar. Outro que se acertou bem com Adebayor neste recorte inicial foi Alejandro Silva. Tendo como uma de suas características mais fortes a chegada na área vindo de trás, o meia se beneficiou ao ter à sua frente um homem de frente capaz de sustentar o jogo.
Claro, nem tudo são flores. A sua falta de ritmo de jogo foi bastante perceptível e ainda deve levar um tempo até que consiga entrar na mesma rotação do restante do grupo. Porém, é bom ficar de olho desde já no que ele pode entregar em rendimento. Os torcedores do Santos, em especial, irão observar com cuidado cada passo de Adebayor neste primeiro semestre, afinal, terão o Olimpia logo adiante na fase de grupos da Libertadores. E quando falamos de um jogador com qualidade em um dos trabalhos mais regulares do continente nos últimos anos, todo cuidado é pouco.
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