As perspectivas para Lanús e Defensa y Justicia na final da Copa Sul-Americana
As equipes argentinas vão a campo no Estádio Mario Alberto Kempes atrás da consagração continental e da coroação definitiva dos bons trabalhos desenvolvidos ao longo dos últimos anos
Hoje é dia de decisão continental na América do Sul, mas com total sotaque argentino. Lanús e Defensa y Justicia são os últimos sobreviventes na edição 2020 da Copa Sul-Americana, e a partir das 17h, travam uma batalha doméstica na cidade de Córdoba para definir quem fica com a taça da competição.
Para os granates, o cenário de uma final internacional não é nenhuma novidade. Nos anos 90, a equipe da zona sul de Buenos Aires atingiu o jogo derradeiro da extinta Copa Conmebol duas vezes, em 1996 e 1997. Em uma oportunidade, conquista sobre o Santa Fé. Em outra, derrota para o Atlético-MG. Em 2013, na própria Sul-Americana, encarou a Ponte Preta e ergueu o troféu após empate em 1 a 1 na ida e vitória por 2 a 0 na volta. Quatro anos depois, a sua primeira final de Libertadores, mas sem um final feliz, com duas derrotas para o Grêmio.
Já o Defensa y Justicia explora novos terrenos em sua história. Pela primeira vez, o Halcón figura em um desfecho de campeonato fora do âmbito nacional, embalado por campanhas de qualidade e um crescimento nítido em temporadas recentes. Depois de encontrar a estabilidade na elite argentina entre 2014 e 2018, o time da cidade de Florencio Varela brigou pelo título da Superliga em 2018-2019 até o final, ficando com o vice e se credenciando à disputa da Libertadores em 2020. O desempenho na fase de grupos ficou aquém do esperado, porém, a terceira posição lhe deu a oportunidade de entrar na Sul-Americana e agora irá pelo seu primeiro título de maior expressão.
Frente a frente, duas equipes com altas aspirações e com uma identidade bem definida pelas mãos de seus treinadores. Dentro de campo, há muito a se esperar de Lanús e Defensa y Justicia.
LANÚS: A BUSCA PELOS LADOS PARA SAIR AO ATAQUE
O trabalho de Luis Zubeldía atingiu um ponto de plena maturidade no ano de 2020, mesmo com todo o contexto de pandemia e uma temporada bastante prejudicada em termos de sequência de jogo. Tal maturidade convergiu com a afirmação de diversos jogadores jovens no time em vários setores. Na defesa, no meio e no ataque, atletas formados na base granate ganharam espaço e, a partir de suas características e capacidade individual, deram ferramentas para Zubeldía empregar boas variações na equipe.
Alternando entre o 4-4-2 e o 4-3-3, o Lanús sabe agredir seus adversários de múltiplas maneiras. Seja em transição, seja em ataques construídos, seja pelos lados – onde boa parte do seu jogo se desenrola – ou seja pelo meio, há eficiência e boa geração de oportunidades. E duas das principais formas para a equipe buscar a frente são as triangulações laterais – principalmente no 4-3-3 – e as bolas em profundidade buscando as costas da defesa.
Para este sistema de triangulações em momentos de construção, o modo de se organizar é diferente entre os dois esquemas. No 4-3-3, a interação entre os pontas, os laterais e os meias interiores é o que dá o tom para as jogadas se desenvolverem. No 4-4-2, por outro lado, enquanto uma das metades do campo conta com a participação de um dos meias-centrais para realizar as tabelas, a outra metade tem a presença de um dos atacantes. Neste esquema, Tomás Belmonte e Nicolás Orsini são fundamentais para gerar esta aproximação. Belmonte, aliás, se destaca por ser um meia de alto potencial de ruptura e associação. Ao mesmo tempo em que surge na base da construção para dar apoio, se desprende com velocidade para aparecer perto da área rival e dar o passe final.
Este jogo desenvolvido pelos lados também é importante para habilitar a exploração do lado fraco da defesa adversária. Enquanto um dos setores laterais é ocupado por pelo menos cinco jogadores próximos da bola, com o objetivo de atrair o bloco defensivo, o lado oposto fica livre para um lateral ou extrema descer em velocidade e receber a virada de jogo em boas condições para se aproximar do último terço. Mecânica, esta, que é um dos melhores trunfos do Lanús e pode ser uma arma interessante nesta decisão.
Quando o jogo mais direto ganha espaço, as figuras do interminável Pepe Sand, da referência Lautaro Acosta e da joia Pedro de la Vega entram em cena. A sustentação mínima que Sand – ou dependendo, Orsini – consegue oferecer com seu pivô e a verticalidade que Acosta e De La Vega fornecem ao receber a bola com espaço para progredir dão esta alternativa de ameaça para superar uma marcação mais alta vinda do time contrário.
DEFENSA Y JUSTICIA: A ENTRELINHA COMO CHAVE
Há alguns anos, a identidade do Defensa y Justicia dentro de campo é bem definida. Um time ofensivo que preza pela bola em seus pés, com muita dinâmica no setor ofensivo, flexibilidade na saída de jogo desde o campo defensivo e algumas referências fixas de espaço para determinar a organização coletiva do time dentro de campo. Foi assim, em especial, com Holán, com Vojvoda, com Beccacece, e segue sendo assim com Hernán Crespo. O histórico atacante argentino, agora no papel de treinador e em seu terceiro trabalho em um clube, vem conseguindo dar sequência a estes princípios que levaram o Halcón a um outro patamar. Mas, claro, imprimindo suas ideias dentro deste contexto.
O primeiro ponto a ser observado no Defensa y Justicia neste caminho até a final é a variação de esquemas e a influência que isso gera na saída de bola. Crespo costuma alternar entre plataformas com dois e três zagueiros. Ao atuar com a primeira linha formada por quatro jogadores, há duas possibilidades: ou Enzo Fernández recua entre os defensores para fazer a saída, ou Ezequiel Unsain participa fora da área liberando Fernández para ocupar a segunda linha junto dos laterais.
Com três defensores, é interessante observar que Fernández segue aparecendo nos primeiros metros entre os zagueiros. Porém, um dos defensores posicionados ao lado sobe alguns metros e ocupa o setor dos alas, que avançam para dar volume no campo de ataque e gerar amplitude, e contam com a compensação de um dos atacantes, que acaba recuando para gerar apoio pelo centro.
Em terreno mais adiantado, já com a construção bem desenvolvida, a tentativa de atrair a marcação através da posse e abrir zonas para infiltração é um dos principais fatores que define o comportamento do time na hora de agredir o adversário. Por conta disto, a busca da entrelinha tem grande importância para a chegada até a área. Com o movimento de recuo dos atacantes para gerar apoio, o deslocamento vertical dos meias é fundamental para dar poder de ruptura, opção de passe entre os setores do rival e criar indefinições nos encaixes da defesa. Ter a bola com liberdade pelo centro próximo ao terço final acaba gerando boas situações para o Defensa y Justicia, sobretudo quando logo adiante há um efetivo Braian Romero aguardando o último passe.
Romero, aliás, vive uma temporada de redenção e, sem dúvidas, é o jogador que foi melhor potencializado pelo modelo de Crespo. Depois de rodar por Independiente e Athletico Paranaense sem conseguir se firmar nos últimos anos, se encontrou em Florencio Varela. Apenas na Copa Sul-Americana, são 9 gols marcados em 8 jogos. Na fase de grupos da Libertadores, foram 3 em 4 partidas. Com liberdade para se deslocar nos metros finais do campo, demonstra boa leitura para se posicionar e receber bolas em condições de finalizar.
Que assim como vimos nos últimos anos, tenhamos uma final de alto nível e bem disputada. Potencial para brindar o torcedor com isso, é inegável que tanto Lanús quanto Defensa y Justicia possuem. Apesar de repercussão muito menor que de uma decisão de Libertadores e da limitação de meios para acompanhar a partida aqui no Brasil, vale um esforço para conferir o duelo argentino.
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