Bom Senso FC, Paulistão 2020 e Elano: uma conversa com o CEO da Inter de Limeira
Enrico Ambrogini, ex-diretor do movimento que propunha a revitalização do futebol no país, conta ao Footure sobre sua experiência e relembra a passagem no Flamengo
Enrico Ambrogini entrou no futebol após a criação do Bom Senso FC, movimento que buscava melhorias no futebol brasileiro. Após passagens por Flamengo, em 2015, e Espírito Santo, entre 2017 e 2018, terminou o curso de Gestão Esportiva no Birkbeck College, na University of London. Aos 30 anos, o engenheiro formado na Universidade de São Carlos atua como CEO da Inter de Limeira, clube que disputará o Campeonato Paulista após 14 anos.
Quando no Bom Senso, chegou a propor, juntamente com jogadores como Alex, Dida, Gilberto Silva, Fernando Prass e Paulo André, o debate por ajustes no calendário e maior pré-temporada, por exemplo. Por mais que o projeto tenha acabado em 2016, o dirigente não considera que tenha dado errado. Justamente por ter atuado tanto dentro quanto fora dos bastidores, Enrico entende que há diferenças: “Falando o português mais claro, eu que estou na reta. No clube, eu preciso executar e ser cobrado de resultado – não falo só de resultado dentro de campo, mas resultado como empresa geral”.
No comando da Inter de Limeira desde maio, o dirigente garante que tem, como maior adversário, a parte financeira, tendo em vista os bloqueios judiciais e o montante de dívidas deixadas por gestões anteriores. Apesar dos fatores negativos, considera que o projeto estabelecido para a equipe é de médio a longo prazo. Dentre os grandes objetivos, os de estruturar a equipe e colocá-la entre as mais relevantes de São Paulo novamente.
Fazendo parte do grupo C ao lado de São Paulo, Ituano e Mirassol, Enrico assegura que o foco principal é manter-se na primeira divisão do Campeonato Paulista. “O primeiro objetivo é continuar na Série A1 para 2021, porque a reestruturação do clube passa por uma estabilidade de receita. Eu não tenho muitos recursos, eu tenho que pensar na reestruturação financeira do clube, tenho que pagar dívida, fazer acordo, investir no estádio. Vai ser um campeonato competitivo, mas vai ser interessante. Acho que a Inter não vai passar vergonha”, garante.
Além de estar montando o plantel para o primeiro semestre do ano que vem, Ambrogini tem um trunfo que considera importante: Elano. O ex-jogador aceitou a proposta para comandar o time de Limeira em 2020. “Eu queria um cara com a cabeça moderna para tocar o clube comigo. Um cara que tem as ideias de jogo modernas, montagem de elenco moderna. A gente conseguiu fazer uma coisa não só de futebol, mas envolvendo o marketing e o apelo do público no nome dele”, explica.
Ao analisar os desafios que teve de enfrentar durante a curta carreira no futebol, considera que houve melhora. O gestor segue julgando o calendário como questão crucial, bem como a garantia de um ano completo para equipes que disputam campeonatos inferiores. Vivendo na pele os problemas diários de um clube considerado pequeno, Enrico reconhece que entende não apenas o lado do jogador, mas dos clubes que vivem situação parecida.
Ainda que adversidades ocorram e os clubes tenham que superar barreiras cotidianas, o CEO admite que a luta está valendo a pena: “Tem dias que você fala “Nossa, estabilidade faz falta”, mas não tem jeito, é uma coisa meio de paixão. Eu tento tirar da melhor maneira, eu tento mudar o futebol do que eu acho certo. Está valendo a pena. Não sei se já valeu, mas está sendo interessante”.
Em estágio com o dirigente Rodrigo Caetano realizado em 2015, Enrico Ambrogini teve a experiência de conhecer o Flamengo. Para ele, o clube, já naquela época, dava indícios de que poderia alcançar os feitos vistos neste ano. “A gestão do Bandeira foi fundamental para o Flamengo estar onde está hoje. No futebol, eu enxergo mais desse jeito: mais reestruturação, mais implementação de modelo de gestão, então foi muito válido para mim”, relembra.
Com o passar dos anos, o perfil dos dirigentes foi mudando. De polêmicos e presentes na mídia, nota-se, sobretudo na última década, presidentes e diretores que buscam o estudo e a modernização: “Antigamente, era um governo por medo. O cara era diretor e impunha medo nos comandados. Hoje, não funciona assim. Para você mostrar que está fazendo o certo, você também tem que ter bagagem, tem que ter um rumo, um planejamento. Ele tem que aceitar que tem que ir para um caminho porque tem convicção, porque você estudou. A necessidade de se especializar, de buscar conhecimento, se dá pela cultura dos profissionais que estão no futebol”, analisa.
Com contrato válido por 18 meses, o CEO da Inter de Limeira tem planos para o futuro, mas atesta que pretende elevar o nível do clube para, então, pensar no assunto: “É claro que eu tenho intenções de disputar coisas maiores, isso é nato do ser humano. Eu não me enxergo em outro lugar hoje e eu quero, mesmo, fazer carreira na Inter para, pelo menos, colocar ela num patamar diferente. Quando eu conseguir chegar nesse objetivo, aí eu começo a pensar em outras coisas, outras motivações”, finaliza.
Comente!