Bruno Gonçalves e Metinho sob os olhares dos europeus
Presentes na lista "Next Generation" do The Guardian, as promessas Bruno Gonçalves (Red Bull Bragantino) e Metinho (Fluminense) surgem como os nomes para ficarmos de olho
Na terça-feira passada, dia 8 de outubro, saiu a famosa lista “Next Generation” do jornal inglês The Guardian. Especialistas citam no tradicional diário britânico jogadores de 17 anos de idade que são promessas internacionais. Rodrygo, Vinícius Junior, Paulinho, Reinier, Yan Couto, Evander, Malcom, Gerson e Talles Magno foram os nomes brasileiros que figuraram nas publicações anteriores. Entretanto, o jornal também destacara jogadores que ainda não receberam tantas oportunidades, como Ed Carlos (São Paulo), Lincoln (Flamengo) e Luan Cândido (ex-Palmeiras e atualmente no Red Bull Bragantino).
Além disso, em edições anteriores, o Guardian chamara a atenção para Fabrício Oya, Luiz Fernando, Nicolas Bernardo, Lincoln (ex-Grêmio) e Matheus Pereira, que, infelizmente, até hoje não decolaram na carreira.
Para a edição de 2020, o jornal elencou jogadores nascidos em 2003, ou seja, atletas que completam (ou completaram) 17 anos nessa temporada. Nessa lista, como não poderia faltar, apareceram mais nomes brasileiros para ficar de olho. Bruno Gonçalves e Metinho, de Red Bull Bragantino e Fluminense, respectivamente, são os representantes do futebol nacional da última edição, que desta vez só destacara dois atletas brasucas. No entanto, a pergunta é: você os conhece?
Bruno Gonçalves nasceu no dia 14 de março de 2003 e está no Red Bull Bragantino desde 2015, no sub-13. Ou seja, ele frequenta o clube desde os 10 anos de idade. Natural de São Paulo, o jovem tentou a sorte nas peneiras de Corinthians e São Paulo antes de ser aprovado pelo clube de Campinas. Atualmente, Bruno está na categoria sub-20 a espera de uma chance para integrar na equipe principal com Mauricio Barbieri.
O jovem brasileiro é um ponta clássico, mas que pode ter um futuro interessante na franquia Red Bull por suas características e capacidade tática. Bruno é destro, mas pode jogar nos dois lados do campo. Até o sub-17, Gonçalves era um ponta-esquerda invertido, explorando sua velocidade, drible e poder de finalização para marcar gols. Em 2016, quando estava no sub-13, o jovem atuou em 13 partidas pelo Paulistão e marcara cinco gols.
Em 2017, já na categoria sub-15, foram 25 jogos e seis gols no estadual. Em 2018, Bruno disputou o Paulista em duas categorias, no sub-15 e no sub-17, quando tinha apenas 15 anos. Na ocasião, o ponta fez 14 partidas e um gol pelo sub-15 e apenas três jogos e nenhum gol no sub-17, onde ainda era reserva por conta da transição. Em 2019, já aclimatado ao estilo do sub-17, onde já se tem uma noção maior de quem seguirá carreira ou não, Bruno fez 14 partidas e marcara quatro gols no Paulistão da categoria.
Foi em 2019 que Bruno Gonçalves chamou a atenção de Dudu Patetuci, treinador da Seleção Brasileira sub-17. O ponta fora convocado para o tradicional Torneio de Montaigu, na França. Ele não fora titular, mas esteve presente na campanha que culminou com a quarta colocação da seleção, que contou com outros nomes importantes como Marcos Leonardo, Renyer, Lucas Belezi e Kayky.
Entretanto, em 2020, Bruno começou a chamar ainda mais a atenção por conta do principal torneio de base no Brasil. Com 16 anos, o atacante do Red Bull fora peça-chave da equipe na Copinha do começo deste ano, começando como reserva e terminando como destaque. Gonçalves conquistou a titularidade na terceira partida, contra o Serra, na terceira rodada da primeira fase, porém, seu primeiro gol acontecera na segunda rodada contra o Paraná, quando entrara no segundo tempo para inaugurar o placar da vitória por 2×0.
No entanto, na partida contra o Serra, onde fora titular pela primeira vez, Bruno Gonçalves anotou um golaço, que infelizmente não ganhou o Prêmio Denner. A pintura escancarou para o mundo a grande qualidade do jogador: o drible rápido. Graças à facilidade em conduzir a bola e a destreza no manejo do esférico, Bruno deixou quatro jogadores no chão e finalizou com um toque “nojento” no canto do goleiro.
Desde então, o agora ponta-direita do Red Bull, manteve a titularidade até a eliminação da equipe paulista contra o Internacional, futuro campeão da edição, nos pênaltis após a partida terminar empatada em 1×1 no tempo normal. Gonçalves se destacou tanto que logo fora alçado a equipe principal do Red Bull Brasil, que virou uma espécie de equipe B do Red Bull Bragantino nesse ano, para a disputa da Série A2 do Campeonato Paulista. Foram apenas oito participações de Bruno, tendo atuado como titular na derrota para o Votuporanguense, por 1×0, no Moisés Lucarelli. O jovem não marcou gols ou deu assistências, porém, além dessa partida como titular, o atleta de 17 anos saiu do banco de reservas em outras cinco partidas, ganhando seus primeiros minutos como atleta profissional.
Apesar de ser um talento inegável do clube, é improvável que Bruno Gonçalves seja aproveitado na equipe principal do Bragantino tão cedo. Ironicamente, o modus operandi da versão brasileira é bem diferente das filiais na Alemanha e Áustria, onde a média de idade de Leipzig e Salzburg são de 24 e 23 anos, respectivamente. O Bragabull, mesmo com contratações de jovens promessas como Artur, Thonny Anderson, Realpe, Hurtado, Matheus Jesus e Alerrandro, possui uma média de idade de 28 anos, além de um futebol bem diferente do que estamos acostumados nas outras equipes da franquia.
Queimar as etapas de um jogador jovem pode ser um risco, especialmente na situação em que o time de Bragança Paulista se encontra, porém, o trabalho de formação da Red Bull é muito bom, tanto que a equipe sub-20 chegou à final do Paulistão da categoria contra a forte equipe do Palmeiras. Existem vários atletas de bom nível técnico, apesar da pouca idade, e vários deles se casam com o estilo notório da marca.
Bruno Gonçalves é veloz, um exímio driblador, um bom finalizador e alto. Uma das principais características que formam atletas vencedores na Red Bull é a capacidade física. Gonçalves tem 1,83m de altura e pesa 82 kg. O ponta consegue aliar a estonteante qualidade técnica com aptidão física, se tornando uma grande ameaça tanto na amplitude de jogo como na profundidade. Em categorias menores, era visível a disparidade do menino para seus marcadores. Se existe algum talhado para o projeto, esse alguém é o Bruno.
Seguindo a Dutra para o Rio de Janeiro está o impressionante Abemly Meto Silu, o popular Metinho. Nascido em Matadi, na República Democrática do Congo, ele se mudou para o Brasil com a família quando tinha apenas um ano de idade. O perfil Ponta de Lança, que é referência na cobertura do futebol africano em língua portuguesa, fez uma thread bastante explicativa sobre as origens do atleta, que você pode conferir abaixo.
Dentro de campo, Metinho ganhou o apelido de “Pogbinha” por conta do excelente domínio de bola, uma característica semelhante a do astro francês, que também possui raízes no continente africano. Como revelado na thread, a joia do Fluminense começou no futsal e o fato de ter jogado por um bom tempo na quadra fez com que seus instintos se aflorassem, tendo – além do controle de bola – reflexos e leitura de jogo imprescindíveis para a execução correta de movimentos com e sem a bola.
O meia, além de ser muito hábil para “esconder” a bola, também é um excelente passador e lançador. Campeão do campeonato carioca sub-15 e sub-17, Metinho cansou de colocar os companheiros na cara do gol com passes precisos ou lançamentos no costado dos marcadores. Além disso, ele é capaz de iniciar jogadas afundando como terceiro zagueiro ou aparecendo no último terço para criar e definir jogadas.
Com tantas qualidades, não é à toa que Metinho é o capitão da equipe sub-17, sendo o cérebro do meio-campo tricolor, mesmo contanto com outros nomes importantes como Arthurzinho (que será integrado à equipe principal em 2021) e Kayky, que fora convocado para a seleção junto com Bruno Gonçalves, citado anteriormente.
Aliás, o meio-campista do Fluminense é o “garoto propaganda” ideal de Xerém, que é uma das escolas mais importantes do futebol brasileiro, tendo revelado vários grandes jogadores no cenário. Quem possui as mesmas características de Metinho e que também figurou na lista do Guardian lá em 2014 era o Gerson, hoje no Flamengo. Ambos pertencem a uma linhagem de meio-campistas técnicos, inteligentes e formados na base do tricolor carioca.
Comparações a parte, o volante do Fluminense possui os melhores atributos possíveis para se desenvolver num grande atleta, além de ser incrivelmente consistente em suas performances. Acostumado a jogar numa linha de três meio-campistas e de cumprir funções táticas específicas, Metinho Silu é um fenômeno na questão física, podendo aguentar a pressão em duelos pela posse da bola e explorar espaços no gramado, sendo bastante intenso e sustentando as linhas. Cabe a equipe carioca, nesse momento, cuidar muito bem da parte final da formação do garoto como atleta profissional. Metinho não só tem o perfil do clube, como também é a rara combinação de qualidade técnica, compreensão tática e aptidão física.
Mesmo sendo natural do Congo, o maior sonho da joia tricolor é atuar pela equipe principal do Brasil. Com a cidadania brasileira obtida no ano passado, é muito provável que vejamos Metinho vestindo a camisa canarinho em futuras convocações para as categorias de base, e quiçá para a seleção futuramente.
A média de acertos do Guardian costuma ser boa, haja vista os exemplos brasileiros. Mesmo não tão conhecidos do grande público, o jornal britânico selecionou duas belas e raras joias do nosso futebol nascidos em 2003.
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