Caio Henrique: regularidade e qualidade

Jogador com mais partidas no Brasil em 2019, o lateral esquerdo do Fluminense tem sido um dos atletas mais regulares do país

Se o futebol brasileiro fosse uma indústria, laterais esquerdos estariam entre seus produtos mais valiosos. Atualmente, alguns jogadores da posição que figuram entre os melhores do planeta nasceram no país — e um dos reflexos disso pode ser visto no Brasileirão de 2019. Filipe Luís, Jorge e Reinaldo são alguns dos bons laterais canhotos no campeonato. Outros, que despontaram há pouco, já estão na Europa, como Iago Borduchi e Renan Lodi

Um dos nomes da posição em 2019, no entanto, fez o caminho inverso: emprestado pelo Atlético de Madrid, Caio Henrique, aos 22 anos, está entre os jogadores mais regulares do Brasil. E a amostragem não é pequena. Afinal, é ele o atleta no país com mais partidas disputadas em 2019. Com 59 jogos, aparece empatado com o zagueiro Igor Rabello, do Botafogo, mas supera o atleta por ser uma presença constante na Seleção Olímpica de André Jardine.

Cria do Santos, Caio Henrique foi para a Europa aos 18 anos, antes mesmo de estrear nos profissionais da equipe santista. Principalmente atuando por seleções de base, o atleta demonstrou seu potencial e ganhou a admiração de Rogério Micale, seu técnico no Mundial sub-20 de 2017. Foi ele quem proporcionou ao jogador sua primeira experiência profissional no Brasil, pelo Paraná, no ano passado.

Ele tem um entendimento tático difícil de achar em jogadores brasileiros e números muito bons de resistência, intensidade. Só que temos uma visão arcaica. O torcedor vê que ele é do Atlético de Madrid e espera que seja um Maradona no Brasil, marcando 20 gols por ano. Não é bem assim.

Rogério Micale sobre Caio Henrique, em entrevista ao Globo, em janeiro de 2019

Seu ex-treinador o utilizou como um interior, tanto na seleção sub-20 como no Paraná, e via seu futuro por ali, pois, para Micale, ele “ajuda a recompor a marcação e também tem uma chegada à frente muito boa”. Essas características seguem o destacando em 2019 — entretanto, atuando pelo lado esquerdo do campo.

O jogador chegou a estar na lista da Champions League na temporada de 2016/17 (Foto: Ángel Gutiérrez/Atlético de Madrid)

No Fluminense, com Fernando Diniz, Caio chegou para ser volante, ou para substituir Sornoza na meia. Entretanto, atuou pouco como meio-campista e foi lateral desde o seu primeiro jogo, parecendo perfeitamente moldado para a posição. Desde então, só perdeu três jogos da equipe: dois por estar na Seleção Olímpica e um no início da temporada, por ainda não estar no BID.

De acordo com o jogador, ele já havia atuado como defensor pela esquerda pelo time B do Atlético de Madrid, o que pode explicar a naturalidade em seus movimentos. Sem contar o fato de que o sistema de Simeone (espalhado por todos os níveis do Atleti) potencializa os laterais ao extremo, como todos sabemos.

O camisa 19 celebra seu gol marcado contra o Grêmio (Foto: Mailson Santana/FFC)

PROFUNDIDADE E VERSATILIDADE

O Tricolor carioca, evidentemente, não apresenta um futebol regular no Campeonato Brasileiro. A má fase não evita que jogadores de potencial interessante demonstrem-no ao longo do torneio. Caio Henrique é um deles. Mesmo com três treinadores diferentes, foi constante e apresentou as mesmas valências durante a temporada.

Oferecendo profundidade no corredor esquerdo ou trabalhando por dentro, o lateral é uma ameaça constante para os defensores. Por ter qualidades para controlar a bola e encontrar passes no ataque, não é o ala mecânico que, de qualquer jeito, busca cruzamentos ao longo de todo o jogo. Assim, é o segundo lateral esquerdo que mais acertou dribles no campeonato, com 1,3 ao jogo (somente atrás de Jorge, com 1,8). 

Caio apresenta capacidade para alternar entre o jogo por dentro e por fora

Ninguém deu mais passes certos que Caio Henrique no Brasileirão de 2019. E não são quaisquer passes. Dentre os laterais que atuaram em, ao menos, metade dos jogos do time no Brasileiro, ele tem a melhor média de passes corretos no terço final12,9 por jogo. Diogo Barbosa, o segundo no quesito, tem 10,8. Contando todos os passes no campo de ataque, Caio segue à frente, com 27,1 por jogo.

Nos dois tópicos, ele só não supera Filipe Luis, outro especialista em jogar como lateral-interior, que não entrou na contagem por ter atuado em apenas 11 jogos. O lateral da seleção tem, em média, 15,5 passes certos no terço final e 30,6 no campo de ataque. Caio também está entre os dez jogadores do campeonato que mais deram passes para finalização (42).

Não à toa, o Flu prefere atacar pelo lado esquerdo ao longo de todo o Campeonato Brasileiro

A capacidade associativa de Caio Henrique é uma das razões pelas quais ele atua na lateral esquerda. Bem como no ataque, é valioso na saída de bola, e oferece soluções rápidas para o Flu progredir no campo. Herança da Diniz, o jogo apoiado da equipe potencializa suas habilidades. Além disso, o jogador tem boa capacidade defensiva. Em números gerais, por exemplo, é o terceiro jogador que mais desarma no Brasileirão (com um aproveitamento acima de 90%, diga-se).

Suas performances levam a crer que se adaptou perfeitamente à posição, e que não deve sair dali em pouco tempo.

O jogador tem boa leitura de jogo também na defesa

FUTURO PROMISSOR

As boas (e muitas) atuações de Caio Henrique chamaram a atenção de diversos clubes, principalmente do Brasil. Não é raro ver seu nome ligado a times como Corinthians, Santos, São Paulo e até Flamengo. A tendência é que seja titular na lateral esquerda da Seleção Olímpica durante os Jogos de Tóquio, no ano que vem. Caso mantenha o nível, mais olhos de fora podem se voltar ao jogador.

Seu futuro está nas mãos do Atlético de Madrid, com quem tem contrato até a metade de 2021. Se será novamente emprestado ou vendido, ninguém sabe. A única verdade é que não seria nem um pouco surpreendente ver o jogador vestindo a camisa dos Colchoneros novamente.

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