Encontrando uma identidade
A busca por identidade dentro de campo não é simples. O Athletico Paranaense iniciou este processo ainda com Paulo Autuori entre 2016 e 2017, teve alguns percalços com Eduardo Baptista, Fabiano Soares e Fernando Diniz. Esperando a sua vez enquanto trabalhava na equipe sub-23, Tiago Nunes atendeu o chamado e correspondeu as expectativas ao fixar um modelo no Furacão. Partindo do […]
A busca por identidade dentro de campo não é simples. O Athletico Paranaense iniciou este processo ainda com Paulo Autuori entre 2016 e 2017, teve alguns percalços com Eduardo Baptista, Fabiano Soares e Fernando Diniz. Esperando a sua vez enquanto trabalhava na equipe sub-23, Tiago Nunes atendeu o chamado e correspondeu as expectativas ao fixar um modelo no Furacão.
Partindo do último trabalho antes de sua chegada, o Athletico buscava uma equipe que dominasse os adversários, tivesse a posse de bola e, de certa forma, encantasse os torcedores que estivessem na Arena da Baixada. É bem verdade que Fernando Diniz conseguiu a segunda alternativa, o problema é que sem competitividade não há como progredir.
Na sua última tentativa, implementou um 1-3-4-2-1 (imagem abaixo) que tentava sair com a bola desde trás a partir de Bruno Guimarães e tinha no trio final a expectativa de gols. Entretanto, sofreu com o próprio camisa 39 atuando mais recuado, a falta de intensidade de Lucho e o baixo rendimento de seus alas Carleto e Marcinho.
A equipe tinha duas formas principais para sair com a bola: Thiago Heleno conduzindo ou então Bruno Guimarães achando linhas de passe. A questão era o depois. Carleto e Marcinho ficavam muito presos nas laterais para dar amplitude e deixavam Lucho Gonzalez e Camacho sozinhos no meio-campo contra os adversários.
Mais a frente, Pablo precisava partir do lado esquerdo – e vocês vão perceber diferenças em breve – enquanto Bergson não conseguia gerar a profundidade necessária, além de aproveitar as oportunidades. E, dentro de todo este contexto desfavorável, Veiga precisava recuar ao meio para ajudar na armação das jogadas e deixava a equipe com poucos homens a frente da linha da bola. A saída de Fernando Diniz estava desenhada numa equipe que tinha a posse, mas não dominava e, na maioria das vezes, tinha menos finalizações que os adversários.
Tiago Nunes assumia o Furacão vindo do título estadual de 2018 e, logo em sua estreia, fez cinco mudanças além de adotar um esquema diferente: 1-4-2-3-1. Entre os novos titulares, nomes como Jonathan, Léo Pereira, Renan Lodi, Nikão e Marcelo Cirino, como podemos ver na imagem abaixo.
No novo esquema, a primeira mudanças no Athletico foi a nível de competitividade. Com atletas em posições que sentiam mais confortáveis, o time começou a se adaptar de acordo com o que pedia a partida. Tiago começava a mostrar seu lado mais estrategista. Não foram poucos os jogos em que o time teve menos posse, mas conseguiu finalizar mais que o adversário.
Dentro de campo, Renan Lodi trouxe a velocidade e sua qualidade pelo lado esquerdo. Um lateral que tinha capacidade de cruzar sem a necessidade de chegar ao fundo. Era dele a função de dar amplitude e profundidade pelo lado esquerdo, enquanto Nikão acabava aparecendo em zonas mais interiores para ajudar na criação de jogadas.
Pelo outro lado, Jonathan criava bastante por dentro, enquanto Cirino dava amplitude e buscava o fundo com mais frequência. O time começava a criar uma identidade quando começou a focar na Sul-Americana.
Além disso, Bruno Guimarães, atuando no meio-campo pode se libertar da “prisão” que era atuar tão recuado e pouco participando das ações ofensivas da equipe. Um jogador total, como explicamos num dos textos da série, o camisa 39 auxiliava na saída de bola, criava chances com Renan Lodi pelo lado esquerdo e ainda tinha chegada na área.
O técnico Tiago Nunes que conversou com a equipe do Footure no The Pitch Invaders #110 que você pode ouvir no player abaixo:
O Athletico que atingiria seu ápice ao conquistar a Copa Sul-Americana 2018 ao vencer o Junior/COL na grande decisão. Um time que se moldou a partir de uma ideia inicia, busca pela identidade e a mudanças trouxe as necessidades que a equipe precisava.
Em 2019, as saídas de Renan Lodi, Raphael Veiga e Pablo, três pilares na conquista do torneio continental, fizeram com que Tiago buscasse uma outra formação a partir da parada da Copa América.
Nikão se transformou num meia-atacante que participou de 40% do gols do Furacão na primeira fase da Libertadores da América. No 1-4-2-3-1, o técnico contava com Cirino e Rony para dar velocidade na transição.
A saída de Renan Lodi foi a mais sentida. Márcio Azevedo, mais experiente, foi contratado e tinha uma característica diferente do antecessor. Buscando mais jogo por dentro, ele deixava o corredor esquerdo para o camisa 7. No meio-campo, Wellington Martins ganhava a posição por sua intensidade nas ações defensivas e segurança que dava a equipe.
Para fechar, Marco Rúben deu uma característica bastante diferente ao ataque. A movimentação de Pablo ao sair da área dava lugar para a presença nela com o argentino. Na reta final do semestre, a baixa de Thiago Heleno por doping ainda fez com que Pedro Henrique e Robson Bambu seguissem brigando por posição para atuar ao lado de Leo Pereira.
A eliminação para o Boca Juniors na Copa Libertadores da América, perdendo as partidas na Arena da Baixada e Bombonera deixaram o treinador balançando no cargo. Mas a diretoria havia encontrado sua identidade e não seria um deslize que mudaria a convicção.
As atenções voltaram para o torneio onde se podia levantar mais uma taça: a Copa do Brasil. Apesar da formação ter sido a mesma nas primeiras fase da competição, quando as noites de quarta-feira começaram a ficar mais importantes, Tiago apostou em mais segurança com o 1-4-3-3/1-4-1-4-1 tendo Wellington, Lucho e Bruno Guimarães para ganhar mais controle.
O enfrentamento com o Grêmio nas semifinais fez o treinador abrir os olhos para um outro nome. Na Arena do Grêmio, uma derrota por 2-0 deixava a equipe praticamente sem esperança na reversão do resultado. A falta de intensidade de Lucho fez com que Léo Cittadini ganhasse oportunidade na partida de volta.
Na Arena da Baixada, além da vitória por 2-0 e classificação nos pênaltis, a equipe mostrou uma outra estrutura para atacar que pode ser a arma para enfrentar o Internacional.
Logo na saída de bola, Márcio Azevedo era quem se alinhava a dupla de zagueiros para iniciar o trabalho com a bola. A partir deste momento, Khellven avança como um extrema pela direita e Rony se torna o extrema do lado esquerdo.
Wellington Martins e Leo Cittadini se alinhavam e deixavam Bruno Guimarães com liberdade para conseguir a superioridade numérica nos setores, além de achar os passes para Rony estar no um contra um (naquela ocasião contra Rafael Galhardo). Do outro lado, Nikão partida da direita para dentro para se tornar praticamente um quarto meio-campista, enquanto Marco Ruben segurava os zagueiros adversários.
Sem a bola, olho no trabalho de Cittadini sem a bola. Na partida contra o Grêmio teve 11 duelos pelo chão e 100% de aproveitamento. Uma equipe que agradou Tiago Nunes que deve repetir este modelo encontrado na reta final da Copa do Brasil e parece se consolidar.
E se na busca por uma identidade o Athletico Paranaense encontrou em Tiago Nunes o homem para guiar a equipe por muito tempo, a final da Copa do Brasil 2019 chega para consolidar ainda mais esta escolha e mostrar que o título da Copa Sul-Americana 2018 não foi por acaso.
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