A Espanha sai dessa Euro muito melhor do que entrou
A nova geração espanhola teve seus momentos nessa Euro, com ótimas histórias e conseguiu mudar a visão de muitos. A campanha terminou na semi, mas deixou muita ilusão para os próximos anos.
Já começo falando que ser eliminado pela Itália não é nenhum demérito, até pelo claro domínio espanhol durante os 90 minutos contra a melhor seleção dessa Euro. Em contrapartida, o sentimento de sair nos pênaltis é amargo de certa forma, mas apenas pela ideia de que estavam a um passo de chegar na grande final. Luis Enrique mostrou seu poder de leitura, adaptação durante os jogos e a manutenção de um sistema extremamente funcional para o que a seleção precisa produzir (e produz). Os jogadores cresceram mentalmente e trouxeram da Euro uma bagagem importante para o futuro.
No geral, a campanha acaba sendo bem especial por todo o contexto e conjuntura que essa geração foi inserida no último ano. Era tudo muito difícil apesar do talento estar ali para ser trabalhado, mas os mais experientes foram fundamentais nesse desenvolvimento durante a competição e entregaram o que se esperava.
Partidas difíceis contra Suécia e Polônia
A seleção sueca fez uma defesa sensacional contra a Espanha, não dá nem para cravar um jogo ruim dos comandados por Lucho. Dominaram a área e a entrelinha, soube limitar as ações entre Pedri e Dani Olmo – que era por onde saia as principais jogadas nos últimos amistosos – e as infiltrações de Jordi Alba foram a última alternativa da Espanha na partida. O sistema defensivo demonstrou fragilidade sem a bola, mas com atuações individuais acima do esperado nos passes para progredir em campo.
No segundo jogo os espanhóis encontraram um cenário bem parecido, mas a Polônia se mostrou bem mais limitada e defendia de maneira inferior em relação à Suécia. Muitos espaços para explorar e os jogadores pouco fizeram. Talvez o jogo mais ‘criticável’ da seleção até aqui, muito pela falta de objetividade e um time muito preso no que a Polônia indicava ser abaixo do nível de competição.
Goleada no último jogo da fase de grupos e esperança
Aqui temos um cenário completamente diferente. A Eslováquia sobe as linhas mais do que as outras adversárias, e ter Busquets de volta foi essencial para conseguir se impor nesse caso – literalmente o que faltava para engrenar era ele. A volta do capitão é fundamental para a equipe furar linhas contra qualquer adversário, e estar a frente no placar obrigou os eslovacos saírem ao ataque. Assim a Espanha foi condicionando o jogo a seu favor, ocasionando na goleada.
Como diz Mairon Rodrigues, Sergio Busquets é o Doutor Estranho da bola. Controla o passado e o futuro do jogo. O raciocínio dele é tudo que Luis Enrique precisava nesse meio-campo desde o início, sabe quando e como acelerar, pausar, verticalizar, a visão para furar linhas, controla o jogo sozinho e potencializa seus companheiros. A vitória passa por ele e confirma a esperança numa seleção que sofreu nos dois primeiros jogos.
Mata-mata e reta final
Contra a Croácia o time pareceu mais confortável em campo do que contra qualquer outro na fase de grupos – até mesmo contra a Eslováquia. Os jogadores mais confiantes e criando bastante no último terço até a falha de Unai Simon e Pedri no lance que ocorreu o gol da Croácia. Até ali tudo parecia perfeito, mas o abatimento era natural até pela situação mental que a seleção enfrentava em 2021 com muitas cobranças, desconfiança e expectativa baixa.
Dominou contra a Eslováquia, mas conseguiu anular a Croácia nas poucas situações que poderiam gerar nos primeiros 45 minutos. Vlašić encontrou pouco espaço, Modrić teve poucas ações com a bola e a escolha de Gayà por ali explica tudo isso. A saída do lateral (por lesão) e de Eric Garcia quebram essa linha compacta que ganhou duelos contra os croatas enquanto estiveram em campo – e isso implica no resultado final.
As substituições mataram a seleção no momento que a Croácia crescia no jogo e desencadeou o empate mesmo vencendo por dois gols de diferença faltando menos de 10 minutos para acabar. Defender sem a bola não é uma opção e Luis Enrique entendeu isso a partir desse jogo.
A classificação vem pois Dani Olmo chegou inspirado a entregar tudo em campo durante a prorrogação. Sua facilidade em achar os companheiros foi fundamental para isso e a recorrência desses pontas pelos lados ajudarem tanto Lucho é um fator importantíssimo para se tirar dessa Euro. O sistema é privilegiado com sua luz própria, mas os jogadores se portam nele como é necessário, e isso explica os bons jogos de Gerard, Sarabia, Ferrán e Olmo nessa Euro.
Contra a Suíça temos o confronto em que a pressão finalmente se sobressai. Depois de tantas partidas sofrendo sem a bola, a equipe tem controle maior nas marcações ajustadas, um bloco mais alto bem conectado para reduzir os espaços e limitar os passes da equipe suíça. O gol cedo condiciona tudo isso, e é super importante para maior confiança dentro do que o jogo de posição determina. A confiança. Ela, que veio tarde, mas chegou no momento certo e levou a equipe até as quartas – e sucessivamente para as semis.
Repetindo, Busquets, Koke e Pedri é o nível necessário para a Espanha seguir avançando na competição. É tudo muito bem administrado pelos três, e a entrega do meio-campo em relação à Suíça passa pela entrega deles. Além disso, depois de ter sofrido contra a Croácia, Luis Enrique entende perfeitamente que precisa se defender com a posse, e não recuar chamando o adversário para seu campo, já que isso fortalece as jogadas ofensivas deles e contém o principal problema da Espanha até aqui: a defesa da própria área. E aí acontece o empate.
A classificação veio nos pênaltis, depois de 30 minutos de uma prorrogação de ataque contra defesa. Unai fez seu nome mais uma vez depois da falha nas oitavas e mostrou porque é o goleiro titular dessa equipe.
A semifinal contra a Itália foi o encontro da Espanha contra uma seleção top 10 no ranking da FIFA e o mais importante na hora de pesar a mão: que não perde desde 2018. Os espanhóis dominaram os primeiros minutos, com confiança e boas ações entre os meias e os atacantes que se movimentavam bastante para furar a forte defesa italiana. Além disso, o meio-campo como um todo determinava a velocidade como sempre é pensado por Lucho, e assim era necessário para conseguir superar e vencer o duelo contra Jorginho (principalmente esse daqui que foi muito bem marcado), Verratti e Barella.
Um jogo trabalhado na pressão e na escolha de Luis Enrique por colocar Dani Olmo como falso 9 entre as linhas da Itália, principal fator pelo domínio espanhol no primeiro tempo. O gol de Chiesa foi construído em tudo aquilo pensado durante todo o jogo, uma ação mais direita, pegando o sistema defensivo de surpresa com uma jogada inteligentíssima do jovem jogador da Juve. Mesmo atrás do placar, a Espanha teve controle do jogo por todo o tempo e a entrada de Morata deu a profundidade necessária.
A ótima funcionalidade entre os três atacantes e Olmo como 9 foi super interessante pois teve mais possiblidades de passes. Entretanto, era preciso ter maior incômodo para Bonucci e Chiellini, e na troca de Mancini por três zagueiro ao tirar Emerson e colocar Tolói – obviamente pensando em espaçar o campo e matar o jogo numa jogada de transição rápida – isso ficou ainda mais concretizado no que Lucho tinha colocado em campo: Gerard Moreno e Morata.
A Espanha soube quando acelerar e empatou nessa ideia. Dani Olmo coroou seu excelente jogo com a assistência e Morata lavou a alma ao empatar e impedir uma classificação da Itália dentro dos 90 minutos. Sem muitas opções na prorrogação, a disputa de pênalti define tudo como no jogo contra a Suíça, mas dessa vez com uma sensação que expectativas foram superadas, e o valor de fato dessa geração é muito maior do que é pautado dentro das exigências.
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