Existe vida para o “goleiro líbero” na Serie A italiana?
Números revelam: a Serie A tem goleiros mais cautelosos na construção de jogo; “goleiros líberos” como Neuer não são realidade no país
Nos últimos anos, por mais diversas razões, a função de “goleiro líbero”, tão consagrada por nomes como Neuer, e na atualidade por nomes como Alisson, Mendy, Ter Stegen e Ederson, virou uma necessidade para muitos, e até mesmo uma obrigação, em certos contextos. Na Itália, essas discussões se tem com “o goleiro deve saber defender e todo o resto é um acessório”, contra os que entendem o papel dos goleiros.
No Belpaese, isso começa a ser mais questionado por uma eficiência não tão alta, e com contestações. Especialmente após algumas falhas decisivas na temporada. Seja a de Radu, que foi decisiva para a Inter perder o título italiano para o Milan, no jogo atrasado diante do Bologna, seja a dos casos de dois goleiros campeões de Euro, Donnarumma, do PSG, e Meret, do Napoli, que tiveram erros miseráveis jogando com os pés que foram decisivos na vida de seus clubes, em duelos contra Real Madrid na Champions, e um erro bizarro diante do Empoli, na Serie A.
Situações assim fazem técnicos pelo mundo, como o caso de Rafa Benítez, em entrevista ao The Athletic, dizer que a construção vinda de trás com os goleiros geram mais gols contra do que gols a favor. Por outro lado, outros como Luciano Spalletti, dizem que a cada um gol contra que um erro gera na liga, outros 10 são marcados a favor por conta disso.
Dados colhidos pelo FBRef, e divulgados pela revista Undici, mostram que na Serie A, o goleiro líbero não funciona tão bem. Ou melhor: não é usado defensivamente. Os dados, na verdade, mostram que os goleiros da Serie A tendem a ser mais cautelosos quando têm que sair para frustrar as ações dos adversários, e a mesma coisa acontece na Espanha. Na Premier League, Ligue 1 e especialmente na Bundesliga a situação é muito diferente.
Nesta representação, os dados relatados no eixo das abscissas são referentes ao número de ações defensivas realizadas fora da área; sob as ordenadas, a distância da linha do gol em que essas intervenções ocorreram. Os goleiros italianos, representados com o ponto laranja, estão todos na parte inferior esquerda do gráfico, aquele destinado aos goleiros que saem pouco e que, quando o fazem, não se afastam muito da linha do gol. Nesse sentido, Skorupski (Bologna), Silvestri (Udinese) e Handanovic (Inter) são definitivamente os mais cautelosos, que saem pouco para construir. Strakosha, da Lazio, também sai pouco de sua área, mas o faz a uma certa distância de seu gol, como prevê o futebol de Sarri.
Maignan, do Milan, está entre os goleiros da Serie A que mais frequentemente deixam sua própria área e que o fazem a uma distância maior de sua própria linha de gol, muito por conta das táticas do Milan de Stefano Pioli. Nada, no entanto, comparado a goleiros como Neuer, como Alisson e depois como Riemann, do Bochum e como Pope, com dados do Burnley, e que acabou de se transferir para o Newcastle.
O goleiro do Bayern, segundo os dados, faz 1,5 intervenções defensivas por partida a uma distância média de cerca de 18 metros de sua linha de gol. Um número impressionante, que marca uma clara diferença com os goleiros da Serie A, que ainda são mais cautelosos no quesito.
Os dados demonstram que na Itália, a tendência de um goleiro tão avançado quanto Neuer na construção, e até mesmo de um goleiro líbero, parece passar um pouco longe. O x da questão é de se discutir as razões disso.
É uma situação que pode ter a ver com a cautela, ou de uma mera construção de jogo, lembrando sempre que certas equipes constroem com o goleiro dentro da própria pequena área, com as linhas muito baixas, o que pode aumentar perigos de erros. Os treinadores que questionam a efetividade da saída tão baixa com os goleiros podem ter mais elementos ao debate.
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