A lenda de Luka Romero e a expectativa por um novo extraclasse
Nas ruas da Ilha de Mallorca, o garoto apelidado de "Messi Mexicano" e que, aos poucos, deve aparecer na equipe é a grande esperança do clube. Quem é o jovem Luka Romero, de 16 anos, e promessa do clube espanhol?
Baixinho. Cabeludo. Canhoto. Driblador. Meia-ofensivo. Argentino. Esses adjetivos, dependendo da idade de quem os pronuncia, podem levar a duas pessoas. Se estiver acima dos 40, provavelmente o alvo é Diego Armando Maradona, ‘el Pibe’. Se for alguém mais novo, possivelmente está se referindo ao maior jogador do futebol atual, Lionel Messi.
No entanto, a doce coincidência que a vida nos proporciona parece disposta a adicionar um terceiro integrante para esse combo de adjetivos. Recentemente, o nome de Luka Romero, que é baixinho, cabeludo, canhoto, driblador, meia-ofensivo e “moralmente” argentino tem ganhado espaço nos jornais espanhóis, mexicanos e, claro, argentinos.
Romero é jogador do Mallorca, porém, até agora ele não entrou em campo com a camisa vermelha do clube das Ilhas Baleares. Nascido em Durango, no México, em 18 de novembro de 2004, e residente na Espanha desde 2006, esse pibe de 15 anos de idade (isso mesmo) vive a expectativa de estrear com a camisa da equipe profissional dos Bermellones desde que a quarentena acabou na Europa.
Ao entrar em campo na partida contra o Real Madrid, pela 31ª rodada de La Liga, se tornou o mais jovem da história a estrear no Campeonato Espanhol. Antes dele, o dono do recorde era Francisco “Sansón” Bao Rodríguez, que estreou pelo Celta de Vigo, na temporada 1939/40, com 15 anos e 255 dias.
Por que tanta pressa com o garoto? Existem vários motivos para esse furor todo em torno do nome de Luka Romero. O primeiro, obviamente, é a assombrosa qualidade técnica do meio-campista. Desde 2015 no Mallorca, Romero começou sua trajetória com a camisa sete, porém, pouco tempo depois a 10 já era dele. O jovem é muito, mas muito acima da média. Você percebe a qualidade quando um menino de 13 anos deixa garotos de 17 anos para trás com dribles desconcertantes, jogadas individuais que resolvem uma partida e um entendimento tático surreal. Ele não demonstra apenas um talento natural, mas uma compreensão dos aspectos táticos e técnicos que envolvem uma partida de futebol digna de um veterano.
O segundo motivo, claro, é a necessidade do Mallorca em desfrutar do talento de Romero enquanto ainda há tempo. Recentemente, o Barcelona adquiriu o estonteante Pedri, 17 anos, do Las Palmas, por uma bagatela. Os clubes menores da Espanha seguem revelando joias atrás de joias, mas a competição com os gigantes é desumana. Eles acabam ficando entre a cruz e a espada, precisando vender para fazer caixa e podendo, às vezes, conseguir um empréstimo (caso de Pedri) até determinado momento para agradar o torcedor.
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O terceiro, e talvez o mais perigoso de todos os motivos, é o marketing em cima das coincidências que apontam para o garoto. Já cansamos de ler matérias taxando jogadores como “Messi Brasileiro”, “Messi Espanhol”, “Messi Albanês” e etc, mas que não vingaram depois. Os adjetivos colocados no primeiro parágrafo foram propositais, porque, querendo ou não, a vida é uma grande coincidência e o futebol ilustra isso muito bem com a aclamação dos heróis e a demonização daqueles que ficaram pelo caminho. No entanto, esse marketing todo é bom para o Mallorca, que sabe que uma hora vai perder o Romero para um clube gigante e uma grana sempre será bem-vinda para o clube formador.
Entretanto, acompanhar Luka Romero é um exercício muito bom para quem gosta do futebol alegre, do drible e como ele pode ser adaptado ao jogo objetivo. Quando se analisa um atleta na base, é sempre importante ter em mente que o processo de formação varia de escola para escola. O aspecto tático, como sistemas e funções, é inserido paulatinamente, sendo mais firme e exigido em categorias mais próximas do profissional.
Romero, hoje, é chamado de meia-ofensivo, mas ele tem lampejos daquele estilo clássico do enganche, que é uma função adaptável ao futebol atual se você tiver a disposição um atleta de nível alto e que entenda os momentos da partida. O jovem é muito comparado a Lionel Messi pelos highlights que separam de suas atuações, sobretudo pelas corridas e dribles que ele tira da cartola.
De fato, Luka é muito habilidoso e a exigência na base é menor quanto ao cumprimento da função tática, porém, mesmo tendo liberdade para desfilar pelo gramado e resolver a parada com uma jogada individual, e assim ser comparado a Messi, é possível ver o comprometimento dele com os espaços e as decisões que devem ser tomadas.
Romero já é capaz de saber quando soltar a bola, de quando carrega-la, de quando buscar o jogo e atacar o espaço. Apesar de medir apenas 1,65m, ele sabe utilizar muito bem o corpo, mostrando um domínio orientado impressionante. Mesmo sendo franzino, é muito difícil derruba-lo, justamente pela capacidade de proteger a bola e conduzi-la até acelerar o jogo.
É importante fazer um adendo, pois saber carregar a bola é diferente de ser veloz. Romero não é um atleta que quebra barreiras na corrida, mas sim um jogador que usa o drible para iniciar uma jogada individual, podendo mudar de direção com facilidade e assim desvencilhar-se da marcação, a agilidade no domínio de bola permite que ele dite o ritmo e a velocidade sem depender do sprint.
Outro fator importante quanto a Romero é sua capacidade de finalização, algo que também remete a comparações com Messi. O jovem é fatal perto da meia-lua, principalmente quando ele parte na diagonal, clareia a jogada com um drible e chuta cruzado. Além disso, Luka já é um bom batedor de faltas, algo que conta bastante para alguém no processo de formação.
Apesar de ter nascido no México e de ser taxado pela imprensa espanhola como “Messi Mexicano”, Luka Romero não se vê vestindo outra camisa que não seja a albiceleste. Ele ainda pode escolher entre México, Espanha e Argentina, por nacionalidade e ancestralidade, porém, o sentimento é o que deve prevalecer. Ele, inclusive, fez um excepcional Sul-americano Sub-15, no Paraguai, em 2019, quando foi vice-campeão contra o Brasil. Apesar de ter perdido nos pênaltis, Romero foi um dos melhores em campo naquela final, carregando a Argentina muitas vezes nas costas durante o confronto.
Vicente Moreno, treinador do Mallorca, incorporou Luka Romero aos treinos da equipe profissional logo após a volta às atividades. Desde então, a expectativa quanto à estreia do argentino tem aumentado. A luta contra o rebaixamento é um empecilho a mais para que o treinador lance mão do talento que ele tem guardado no banco de reservas. De certa forma, Moreno está correto em esperar o momento ideal.
Entretanto, caso ele opte pela utilização de Romero ainda nesta temporada, o sistema 4-1-4-1, que ele comumente usa, serviria de bom grado ao meio-campista. Ainda que o argentino preferencialmente atue como meia-ofensivo, ele também pode atuar pelas duas extremidades do campo, sobretudo como extremo-invertido visando potencializar a finalização, que é um dos seus melhores atributos.
O ideal, no entanto, é deixa-lo próximo à outra joia que Moreno tem a disposição: Takefusa Kubo. Assim como Romero, Kubo também já recebeu a responsabilidade de ser “o novo Messi”, ou “o Messi Japonês”. A situação dele é até mais complicada porque ele esteve em La Masia antes do imbróglio contratual que o Barcelona se meteu devido a sua politica de contratação de jogadores juvenis.
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Kubo e Romero são jogadores bastante associativos e ambos podem desempenhar as mesmas funções no último terço. Ao contrário do que parece, é improvável que eles se “choquem” em campo, principalmente pelo QI de jogo que possuem. Apesar de ter apenas 19 anos, Kubo tem demonstrado muita maturidade nas participações com o Mallorca, onde está emprestado pelo Real Madrid. O japonês é responsável por criar as melhores chances de gol da equipe, seja em jogada individual a partir do drible ou pelos passes. Preferencialmente, Kubo atua como extremo-direito, sendo um extremo-invertido, já que ele é canhoto. Tendo Romero como interior-direito no 4-1-4-1, Moreno teria muita movimentação e sustentação ofensiva, podendo reter mais a posse de bola em vez de ter que depender de um jogo mais direto.
A probabilidade de Romero entrar durante uma partida é maior do que a dele iniciar o jogo. Esse cenário do 4-1-4-1 seria o mais propicio tendo em vista as principais qualidades do argentino. O 4-4-2, que Victor Moreno gosta, também seria um sistema que serviria aos predicados do meio-campista, que poderia atuar até mais próximo dos atacantes. Dependendo da circunstância, Luka poderia até ser um segundo atacante, especialmente ao lado de um centroavante mais fixo.
O sentimento de iminência pela estreia do argentino é grande e pensando na posterioridade, seria um caso bastante singular na história do Mallorca em reunir duas enormes promessas como Romero e Kubo ao menos por um jogo.
Comparações podem ser tóxicas para um jogador com tão pouca idade. Nesse momento é importante levar as palavras de Bernardo Romero, coordenador das seleções juvenis da AFA, em entrevista recente ao jornal argentino Clarín: “Não precisamos apura-lo. É um grande jogador, muito centrado e educado. Depende de todos nós levarmos de pouco em pouco”.
O futuro parece brilhante para esse garoto cujo pai foi jogador de futebol profissional, porém, sem o mesmo sucesso que o filho, que sequer jogou uma partida oficial até hoje. Romero ainda tem um irmão chamado Tobías, que é goleiro. O sangue futebolista corre em suas veias assim como as coincidências.
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