O Liverpool foi o Liverpool e o Arsenal foi o Arsenal - no bom sentido
O jogo pela terceira rodada da Premier League teve um desenrolar natural e demonstra o estágio de cada equipe
A rodada da Premier League mais uma vez foi recheada de ótimos jogos e narrativas, mas naturalmente os maiores holofotes estavam em Anfield Road. Liverpool e Arsenal se enfrentaram nesta segunda-feira (28) e fizeram, basicamente, o esperado. O time a ser batido da Inglaterra foi soberano nas ações e deu uma nova amostra de que está em um patamar diferenciado, enquanto os comandados de Mikel Arteta tiveram uma boa estratégia – mas esbarraram na falta de qualidade. Aproveito para começar pelos Gunners.
Quando falávamos da equipe de Londres há pouco mais de um ano, principalmente quando chefiados por Unai Emery, o “Arsenal ser o Arsenal” não era um bom sinal. Já estávamos acostumados com um conjunto que não sabia exatamente sua real intenção – dentro e fora de campo – e nos entregava partidas chamativas apenas pelos motivos ruins. O clima ao redor da instituição passava longe de ser animador.
A troca de treinador, porém, foi determinante para que o cenário se alterasse e a expectativa agora seja de sempre ver um desempenho competitivo, ao menos do ponto de vista da tentativa – até porque o resultado nunca é garantido, apesar de estar aparecendo com mais frequência. O psicológico foi reforçado e o plano tático costuma estar sempre alinhado com a realidade do confronto e os pontos fortes dos seus jogadores.
Ontem, ficou clara a instrução em usar a ótima – e cada vez mais automatizada – saída de bola para escapar da pressão alta dos anfitriões e abusar dos lançamentos em profundidade, explorando a linha alta implantada por Jurgen Klopp. E, partindo dessa noção, não podemos dizer que a ideia fracassou. O gol de Lacazette saiu de tal forma e o francês ainda teve chances bastante claras, mas simplesmente não tem a qualidade existente nos artilheiros do adversário.
No geral, cada um definiu os caminhos que lhes convêm, mas o atual campeão cometeu pouquíssimos erros e muitos acertos e o atual oitavo colocado (19/20) cometeu diversos erros e poucos acertos em momentos decisivos. Totalmente natural. A distância na tabela da última temporada foi de sete posições e 43 pontos e não é difícil entender o porquê.
A chave da questão é que os Gunners vão ganhando maturidade com o passar do tempo e exibições como essa não devem ser vistas sob um olhar negativo. A evolução é gradual e passa pela melhoria do elenco, além de que do outro lado estava uma verdadeira máquina.
Exaltar o tamanho desse Liverpool por aqui é chover no molhado. Mas não há outro jeito de visualizar e relatar os fatos. Estamos falando de um dos esquadrões históricos da competição e capaz de repetir um nível excepcional semana após semana. Repetindo uma tecla batida diversas vezes: é domínio técnico, tático, físico e psicológico. Esse time já era bom há algumas campanhas, mas também foi se desenvolvendo com a maturação do projeto, dos atletas e do treinador.
São nesses clássicos que um aspecto crucial para o sucesso do clube fica ainda mais evidente. Klopp já superou – consideravelmente – a fase de ser um devoto cego pelo ‘futebol rock n’ roll’, como ficou conhecido na época de Borussia Dortmund e no início na Inglaterra. Sua equipe ainda é marcada por características como a intensidade, verticalidade, pressão alta e agressividade, mas sabe perfeitamente a hora de esfriar o jogo, administrar o ritmo e deixar o oponente sofrer contra o relógio.
A sensação é de que estão com o controle nas mãos e decidem o desenrolar das coisas por conta própria. Quem está do outro lado é um mero convidado a dançar conforme o gênero escolhido por Mané e companhia. Pode ser o rock n’ roll – é até a preferência da casa -, mas o jazz também é muito bem vindo. A orquestra é de primeira linha e não deve parar de tocar. E vencer.
Para o Arsenal, fica o aprendizado.
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