O MARADONA LOIRO
Por @jessmirandinha O ano de 2006 estava começando para o Chelsea, que conquistara a Premier League na temporada anterior, após cinquenta anos de hiato. José Mourinho, como sempre, queria mais. Em Upton Park, os Blues enfrentavam o West Ham quando, antes mesmo dos quinze minutos iniciais, Essien se lesionou e precisou ser substituído. Mourinho escolheu Eiður […]
Por @jessmirandinha
O ano de 2006 estava começando para o Chelsea, que conquistara a Premier League na temporada anterior, após cinquenta anos de hiato. José Mourinho, como sempre, queria mais. Em Upton Park, os Blues enfrentavam o West Ham quando, antes mesmo dos quinze minutos iniciais, Essien se lesionou e precisou ser substituído. Mourinho escolheu Eiður Guðjohnsen, contratado três anos antes da chegada das milhares de libras de Abramovich, em 2003, alterando o panorama da partida ao dar mais apoio ofensivo ao lado direito do campo, com Del Horno e um ainda cabeludo Robben. A exibição proeminente do Chelsea não terminou apenas na vitória por 3 a 1. Após o jogo, Mourinho cunhou um apelido para o islandês: o Maradona loiro.
Para mim, a comparação tem um misto de gozação, reconhecimento pelos longos anos de serviço de Eiður com a camisa do clube e, principalmente, devido a seu carisma — ele até se ofereceu para jogar pela Chapecoense após a tragédia na Colômbia. Guðjohnsen é como Balðr, figura da mitologia nórdica que frequentava Asgard pois trazia paz e harmonia aos deuses. O islandês sempre foi uma figura querida por onde passou. Também foi um dos poucos jogadores a trabalhar com Mourinho e Guardiola, divindades do futebol moderno, além de ter visto em campo a reencarnação do épico gol de Maradona levando as mãos à cabeça antes mesmo do jovem Messi marcar contra o Getafe, em 2007. “Eu não percebi na hora o meu gesto. Só coloquei as mãos na cabeça. Eu estava pensando ‘céus, o que eu acabei de ver’?”, disse em entrevista ao The Independent em 2011.
Como inúmeros outros amantes do futebol, desenvolvi uma curiosidade pela Islândia por conta de Guðjohnsen. Ele era singular. Em seu país, a expectativa em torno dele era grande, estreando pela seleção sub-17 com apenas 14 anos, inclusive. O primeiro jogo pela principal também não tardou. O ano era 1996 e a Islândia visitava a Estônia em um amistoso. No intervalo, Eiður entrou no lugar de seu pai, Arnór Guðjohnsen, que marcou um gol na vitória por 3 a 2. Pai e filho não puderam atuar juntos por conta do presidente da federação, que vislumbrava este fato histórico acontecendo dentro de casa. Mas esta chance foi desperdiçada por maldade do destino, pois pouco tempo depois daquela partida Eiður quebrou a perna e, quando se recuperou, seu pai já havia se aposentado.
O jovem filho rodou a Europa em diversos clubes, alternando protagonismo discreto com passagens inócuas, ao mesmo tempo que acumulava experiências para se tornar a figura paterna da seleção islandesa que fez história na Euro 2016. Na eliminação para a anfitriã França, Eiður entrou no segundo tempo e assumiu a faixa de capitão, uma última honraria.
Em setembro de 2017, se aposentou do futebol profissional, aos 39 anos, mas os Guðjohnsen seguirão sua linhagem futeboleira através de Arnór Jr., contratado para a base do Swansea.
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