O que esperar do Real Madrid para os próximos anos com Carlo Ancelotti?
Zidane pediu demissão novamente e Florentino Pérez foi atrás de um velho conhecido. Comandante de uma das conquistas mais comemoradas da história do Real Madrid, Carletto vem em busca de ajudar o clube em seu projeto rodeado por jovens estrelas e o desafio é enorme.
Desde que Zidane pediu demissão em 2018, o Real Madrid clamava por mudanças no elenco e uma reformulação na parte tática e técnica. Depois da volta do treinador em 2019 e duas temporadas sob o comando dele, ficou cada vez mais claro essa necessidade que já era emergente desde quando ele saiu pela primeira vez.
Primeira passagem 2013-2015 e últimos trabalhos de Carletto
Voltando ao clube pela segunda vez, Carlo Ancelotti teve uma primeira passagem maravilhosa – apesar de não ter sido duradoura. Maravilhosa principalmente pelo título europeu em Lisboa depois de 12 anos. Fora isso, Carlo manteve um ótimo futebol jogado dentro de campo, mas não conseguiu nenhum título de liga nesse tempo.
Por outro lado, o italiano manteve o nível da fase de José Mourinho como treinador. Mesmo batendo na trave na Champions League, a história de Mou no Madrid foi a virada de chave da equipe depois de se livrar do fantasma das oitavas na competição – em 2011 o clube conseguiu se classificar depois de sete anos.
Além disso, Carlo teve influência direta ao gerir o elenco muito bem nesse tempo, adaptando novas contratações sendo maioria delas jovens jogadores como Gareth Bale, Carvajal e Isco por exemplo. Recuperar jogadores no auge físico e entender a relevância deles nos anos anteriores para o futuro foi outro ponto notável. Apesar do título da La Décima ter definido o posto de Ancelotti como um grande vencedor, na temporada seguida a equipe saiu sem título e o treinador acabou demitido em uma decisão muito discutível de Florentino Pérez.
A volta do treinador italiano bota em evidência a necessidade de renovação, principalmente pelas alternativas do mercado. Imagino que optar por Carlo é garantir que ele entende como funcionam as coisas lá dentro e que irá fazer o possível para conciliar a reformulação necessária com um time minimamente competitivo dentro de campo – situação que Zidane não conseguiu.
Os últimos trabalhos de Ancelotti não são tão animadores para um futuro promissor em seu retorno à Espanha. Seu período no Bayern foi interessante nacionalmente, mas não correspondeu no que faz de fato a diferença: competir na Europa. No Napoli teve problemas de vestiário e acabou sendo demitido. O que deixa o mínimo de ânimo é a última temporada com o Everton, principalmente a primeira parte, que foi bem animadora em termos do que o elenco poderia oferecer e assim ele conseguiu tirar muito individualmente de jogadores que evoluíram bastante durante seu trabalho.
Jovens jogadores pedindo passagem e renovação do elenco
Em vista do que o Real Madrid precisa e do que Ancelotti tem para oferecer não tem muito erro, mas isso está claro desde 2018 e não mudou até hoje. O grande ponto é saber se terão a paciência necessária para encarar um projeto que tem como principal ponto muitos jovens, e que, querendo ou não, tendem a oscilar na fase de evolução em um clube tão grande e influente como o Madrid.
A reformulação já vem sendo feita por conta das dificuldades financeiras. Ramos não renovou dentro do que o clube podia e ofereceu e Varane em busca de um novo desafio está a caminho do Manchester United. Em contrapartida veteranos como Nacho e Vázquez renovam pelo desejo de permanecerem no clube que cresceram profissionalmente.
A permanência de ambos canteranos é interessante a partir do momento que eles sejam apenas mais um jogador do elenco – assim como Nacho sempre foi e sempre cumpriu a função muito bem. Vázquez permanecer como primeira opção saindo do banco seria aceitável apenas para substituir Carvajal que sofre com problemas físicos nas últimas temporadas, tirar minutos de mais jovens no ataque é perder tempo.
Além dos brasileiros, Ancelotti tem em suas mãos o retorno de Odegaard e pode acabar contando com Ceballos também. Pensando no que foi trabalhado antes de Casemiro se firmar de vez na equipe em 2016, o treinador tem nas mãos algo parecido com o que foi James na sua primeira chegada, porém em uma escala de talento muito superior. Odegaard sempre foi absurdo em potencial e desde muito novo já queria competir no nível profissional. Entender isso fez com que o norueguês fosse atrás de desafios fora do clube e sua passagem na Holanda rendeu olhares de outras equipes das top 5 ligas europeias.
O encaixe do jogador é fundamental para o Real Madrid competir em alto nível, principalmente pela sua influência no ataque de uma equipe com suas ações potencializando os companheiros de forma surpreendente – assim como se firmou na Real Sociedad elevando o nível competitivo do clube. Zidane pediu seu retorno, mas não utilizou, o problema são os minutos e isso deve ser melhor administrado já que Martin precisa disso para ter seu melhor momento dentro de campo – quando pediu empréstimo e foi para o Arsenal isso já era mais óbvio do que anteriormente. Sua permanência deveria ser tratada como essencial e prioridade.
Chegada de uma estrela e contratações pontuais
As saídas eram esperadas, assim como empréstimos de Brahim (e possivelmente de Kubo, fora outros que esperamos decisões), mas é importante entender que o momento não é o melhor para o Real Madrid contratar como se não houvesse amanhã, e Florentino já deixou isso bem claro.
O objetivo principal após a chegada de Hazard em 2019 sempre foi Mbappé. Sua chegada é iminente e é tudo muito claro. Todos já estão no aguardo da chegada do francês na capital espanhola, mas nada indica será nesse verão.
A transferência de Varane pode ajudar o clube a agilizar essa contratação e possibilita a vinda, mesmo que Mbappé esteja no último ano de contrato e chegue de graça no próximo verão. As expectativas para a temporada 2021/22 não são espetaculares a ponto da chegada dele mudar o cenário completamente e apesar do esforço, seria compreensível esperar até ano que vem.
Sabendo que o mercado foi completamente afetado por conta da pandemia, é coerente e saudável que o Madrid não faça loucuras indo atrás de alguém. O elenco não tem tantas lacunas a serem preenchidas em termos de posição, mas em lideranças talvez. A saída de dois dos capitães da equipe na mesma janela tem um grandíssimo impacto dentro do vestiário. Por outro lado, Militão demonstrou altíssimo nível na reta final da temporada quando de fato ganhou sequência e os minutos para se consagrar, e essa foi a melhor notícia possível na reta final da 20/21.
Alaba chega como substituto para o lado esquerdo, seja para jogar como zagueiro, lateral ou até meio mesmo meia. A permanência de Nacho é importante naquela visão falada no começo, jogador polivalente muito útil para se ter no elenco, além de também ser uma liderança. Enquanto isso, Vallejo e Chust brigam pela última vaga entre zagueiros.
Contratações pontuais podem ser necessárias, mas nada de urgência já que o elenco ainda conta com jogadores determinantes em cada etapa de um sistema. Mendy se mostrou uma força defensiva enorme – apesar de ter se destacado pela contribuição ofensiva quando jogava no Lyon, e essa é uma ótima notícia assim como o bom nível de Militão. Courtois é um dos melhores goleiros do mundo, Casemiro e Kroos seguem em alto nível e são determinantes nas vitórias, Modric aos 35 anos consegue contribuir em momentos chaves e Benzema é o pilar ofensivo que comanda o último terço como poucos atacantes no mundo.
Parte técnica e tática em crise
Saindo das questões individuais e posições dentro do elenco, entramos na falta de repertório técnico e tático. Zidane saiu em 2018 deixando claro que o time precisava de mudanças na parte técnica:
“Eu tomei a decisão de não continuar como técnico do Real Madrid. É um momento estranho, mas esse time precisa de uma mudança para continuar vencendo, precisa de outro discurso, outra metodologia de trabalho. E é por isso que tomei essa decisão.”
Zidane em coletiva após pedir demissão em 2018
Esse discurso foi completamente ignorado no seu retorno, o que deixa tudo pior, e se manteve nas mesmas ideias do que foi durante sua primeira passagem, mas sem as melhores partes – ou seja, bem abaixo do ideal.
A liga na primeira temporada é interessante pela reta final na qual o time conseguiu encaixar o melhor dentro de campo, com ataques rápidos e decisões inteligentes com base num sistema focado em energia e intensidade. Talvez o melhor momento do time alinhando com os confrontos contra o Liverpool na última temporada.
Com mais jovens essa energia e intensidade é cada vez mais realidade dentro do que o time precisa impor dentro das quatro linhas. Sendo otimista, é esperado que Ancelotti consiga transformar isso num ponto ainda mais forte progressivamente e deixe de ser tão previsível como foi nas últimas temporadas de Zizou.
Equilíbrio e paciência
Para conseguir os objetivos que são necessários dentro de um clube grande como o Real Madrid é preciso muita paciência, mas primeiro de tudo o equilíbrio. Todo jovem oscila e irão evoluir com o tempo, conseguindo sequência e continuidade dentro da equipe titular para ajudar da melhor forma possível, e se pararmos para agir racionalmente, é impossível querer ganhar todos os títulos nesse tempo.
Como dito, o mercado financeiro foi claramente afetado por conta da pandemia e todos os clubes estão sofrendo com isso. É natural que o clube se mantenha firme sem gastar, espere para ir ao mercado com firmeza nos próximos anos e assim conseguir de fato montar um time para disputar todos os títulos possíveis novamente daqui alguns anos.
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